Aplicativo do Nubank: startup registrou prejuízo no acumulado do ano passado (Nubank/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2017 às 16h18.
São Paulo – Você provavelmente conhece de cabeça algumas empresas inovadoras que participam da onda das fintechs - Guia Bolso, Moip e Nubank, por exemplo. Por trás do funcionamento de cada uma dessas startups, porém, está um trabalho constante: cada ação realizada pede uma grande estrutura tecnológica.
Imagine, por exemplo, todo o caminho que uma compra por loja virtual percorre dentro de um meio de pagamento. A informação de que o produto foi adquirido deve ir para um sistema de processamento, que então avalia o limite de crédito do cliente, aprova a transação, atualiza o saldo, prepara novos extratos, controla a cobrança no vencimento da fatura e produz um monte de outras informações contábeis, fiscais e regulatórias para a administradora do meio de pagamento.
Quando se é um grande banco, isso pode parecer rotineiro. Porém, para uma empresa que está só começando, são gastos com tecnologia e pessoal que podem inviabilizar o negócio.
A startup Pismo nasceu com o objetivo de resolver esse problema: a empresa terceiriza a gestão dos meios de pagamentos de outras empresas, por meio da computação em nuvem.
Seu objetivo é fazer com que qualquer empreendimento possa aprovar e exibir transações de forma tão fácil quanto a vista no Nubank. E os clientes da empresa não se restringem apenas aos aspirantes a fintech. A ideia do negócio atraiu um investimento do fundo Redpoint eventures, cuja matriz está no Vale do Silício (Estados Unidos).
A Pismo foi criada por quatro empreendedores: Daniela Binatti, Juliana Motta, Marcelo Parise e Ricardo Josua, Todos possuem mais de 15 anos de experiência no mercado de meios de pagamento.
“Desliguei-me em 2012 e me juntei com um grupo de pessoas que trabalhou comigo durante essa trajetória em meios de pagamento. Queríamos repensar o setor: pouca gente trazia o modelo de computação em nuvem, que traz uma melhoria na agilidade dos processos e nos próprios produtos que podem ser entregues.”
A Pismo foi lançada no meio de 2015, mas passou um ano apenas em desenvolvimento da solução. O negócio passou a realmente fechar contratos no segundo semestre de 2016.
Segundo o empreendedor, muitas empresas ainda dependem de um modelo chamado “mainframe” para seus sistemas de crédito: um computador de grande capacidade, dedicado a processar informações.
“É difícil mexer nesse sistema, o que gera poucas liberações de recursos ao longo do ano e preocupação na hora de ‘virar a chave’ de alguma mudança. Já em empresas que adotam o modelo de nuvem, como Amazon, Netflix e Spotify, possuem times de entrega contínua. Cada pedacinho do sistema está sujeito a mudanças repentinas e pontuais, além de testes de aceitação dos clientes. Assim, a natureza do que é oferecido muda muito.”
Com a nuvem, o meio de pagamento funciona de forma online: é possível registrar transações automaticamente e dar uma experiência dinâmica de uso para o usuário, como se vê nos “neobanks”. “É como uma montadora que vende um veículo só, com poucas alterações, contra os carros customizados para cada cliente a partir de seus dados”, exemplifica Josua.
Contratando o serviço da Pismo, o empresário poderá ter um modelo terceirizado e parecido com o das startups financeiras, sem fazer o mesmo investimento em tecnologia e começar do zero. “O cliente só constrói a experiência com o consumidor final, enquanto toda a parte que fica por trás fica conosco.”
A startup oferece ao seu cliente uma senha de acesso a um painel de controle, no qual ele pode ver em tempo real suas atualizações financeiras. A Pismo é responsável por autorizar compras, analisar o crédito, capturar pagamentos, cobrar clientes atrasados, negociar com bancos o pagamento de boletos e reportar as transações de forma regularizada, por exemplo.
O público-alvo mais identificável da Pismo é, claro, o negócio que atua no ramo financeiro e quer processar suas transações de forma mais simples. Mas também há na carteira empresas de varejo, saúde e educação.
Isso porque alguns desses negócios oferecem cartões pré-pagos ou de crédito exclusivos da marca ou bandeirados – como se costuma ver em supermercados, magazines e grandes lojas de vestuário, por exemplo. Ou, então, estruturam programas de fidelidade. Para tudo isso, é necessário ter um sistema de pagamentos por trás.
A empresa possui oito contratos em operação e outros cinco em negociação. Ao todo, são cerca de 100 mil contas – usuários ativos que acessam a plataforma elaborada pela Pismo. Para fevereiro, outras 200 mil contas serão migradas (passarão da tecnologia antiga para a de nuvem).
A cobrança do serviço é baseada justamente quantidade desses usuários, que costumam ser os membros responsáveis pelos pagamentos dentro de cada empresa que contrata a Pismo.
O custo mensal por usuário pode variar de centavos até cerca de seis reais, dependendo do número de usuários acordado, segmento do negócio e complexidade do serviço oferecido pela startup.
A Pismo acabou de receber um investimento de valor não revelado do Redpoint eventures, braço brasileiro do fundo de investimento de risco Redpoint Ventures e E.ventures, do Vale do Silício. Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e sócio da Redpoint eventures, entrou para o quadro administrativo da startup com esse aporte.
Em comunicado à imprensa, Rodrigues informou que a experiência dos fundadores no setor de meios de pagamento e a proposta do negócio foram decisivas para o investimento do fundo e sua adesão.
“Em fintechs, existe muita gente boa trabalhando no que chamamos de ‘front’: ótimos aplicativos, com muitas funcionalidades incríveis. Mas essas startups precisavam desenvolver todo o ‘back’ também, a famosa cozinha. Agora, elas não precisam mais: com alguns cliques, qualquer um pode ter a sua plataforma para um cartão de crédito inteligente. E quem já tem uma solução de cartão não precisa mais esperar meses para implementar alguma funcionalidade interessante.”
O investimento da Redpoint eventures será usado para acelerar a implantação e migração dos clientes. “Precisamos de muito suporte para fazer a transição entre tecnologias antigas e as nossas”, explica Josua.
A Pismo também pretende negociar com clientes de maior volume. “Além disso, iremos expandir para outros mercados: em 2017, focaremos em atuar dentro do Brasil; em 2018, iremos expandir para outros países.”