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Negócio para você comprar e vender milhas muda mercado de viagens

Conheça a história do empreendedor por trás da empresa mineira que movimenta mais de 4 bilhões de milhas aéreas no Brasil

Max Oliveira, da MaxMilhas: "percebi o quanto fui empreendedor em todas as minhas experiências profissionais" (Endeavor/Reprodução)

Max Oliveira, da MaxMilhas: "percebi o quanto fui empreendedor em todas as minhas experiências profissionais" (Endeavor/Reprodução)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 3 de junho de 2017 às 08h00.

Última atualização em 3 de junho de 2017 às 08h00.

Todos nós merecemos férias. Mas os custos de viajar de avião são tão proibitivos que, enquanto um americano viaja, em média duas vezes por ano, o brasileiro faz uma viagem a cada quatro anos.

Por outro lado, todo ano, cerca de 25 bilhões de milhas aéreas e 50 bilhões de pontos de cartão de crédito que poderiam ser trocados por passagens expiram por falta de uso.

Para conectar esses dois mundos, surgiu a MaxMilhas: uma plataforma online nascida em Belo Horizonte de compra de passagens aéreas e venda de milhas que já movimentou mais de 4 bilhões de milhas, transformando a vida de milhares de pessoas pelo caminho.

Por trás desse negócio está Max Oliveira, empreendedor mineiro que começou vivendo na pele o problema que, meses depois, viraria seu negócio.

A passagem aérea nunca comprada que levou o empreendedor mais longe

Max sempre viajou muito: já chegou a morar em Belo Horizonte, São Paulo e Vitória. Um dia, comprando uma passagem aérea de Vitória para BH, para visitar a namorada, o site apresentou um problema e o pagamento não foi realizado. Ele teve que reiniciar a compra, mas, nesse meio tempo, a passagem passou de R$ 100 para R$ 500,00.

"Tinha achado os 500 reais um absurdo e acabei não viajando. Acho que se eu não fosse pão-duro não existiria a MaxMilhas. Todo empreendedor é muito inconformado. Se não fosse essa indignação, a MaxMilhas nunca teria nascido."

O que Max observou é que o valor da passagem em milhas não tinha mudado. O problema é que ele não tinha nenhum crédito para usar. Pensou em ligar para os amigos pedindo, mas percebeu que seria uma situação estranha.

Foi aí que veio a ideia: e se existisse uma plataforma em que as pessoas que têm milhas estivessem dispostas a vender a quem precisa viajar? "Eu não pensava em abrir um negócio, por isso contava pra todo mundo."

Nessas conversas, Max só tinha a hipótese de que as pessoas gostariam de vender suas milhas. O que ia se confirmando cada vez que ele falava com alguém. Sem saber, essas conversas eram formas de validar com o público de interesse se o negócio que ele imaginava tinha demanda real e as pessoas estariam dispostas a pagar por ele.

Porém, ele não era especialista em milhas. Até então, sua única experiência com milhas era de uma viagem que fez para o exterior, usando os pontos do seu tio. O que não impediu o empreendedor de perseguir essa ideia.

Fazendo check-in no mundo para entender a que veio

A inspiração mais forte de Max está no seu próprio nascimento. Sua mãe deu à luz muito nova, quando tinha apenas 18 anos de idade. E, desde pequeno, ele sempre se esforçou para provar que fazia sentido ter vindo ao mundo, que sua existência tinha um significado maior.

Começou se dedicando ao esporte: desde a adolescência jogava futebol, praticava judô e até bateu recorde fazendo atletismo no colégio em que estudou nos Estados Unidos, durante o high school.

De lá, estudou engenharia e fez carreira nas duas maiores empresas privadas do Brasil: a Ambev e a Vale, como engenheiro de produção. Até então, seus planos eram trabalhar muito para um dia se tornar diretor.

Mas um dia, enquanto lia uma reportagem na Revista Época, deparou-se com outra figura que também influenciaria sua vida, mesmo que à distância: Jorge Paulo Lemann. Pela reportagem, Max passou a conhecer a trajetória do empreendedor e suas conquistas, o que fez ele refletir sobre o que um homem é capaz de realizar.

Na época, Max vivia um grande conflito de cultura na Vale, onde trabalhava. Não eram as pessoas, nem o trabalho que incomodavam o futuro empreendedor: era o modo de tomar decisões, e a política que envolvia todos os cargos da companhia.

“Até então, quando ouvia na faculdade que precisava encontrar uma empresa com valores parecidos com o meu, pensava que era besteira. A gente brincava que o único valor que importava era o do contracheque mesmo. Mas, conforme o tempo foi passando, comecei a achar sem graça um dia me tornar diretor.”

“Quando eu era menino, era muito sonhador. Escrevia música desde pequeno, já tive uma banda no colégio, me dedicava muito aos esportes. Mas, quando você vira adulto, tem que parar de sonhar, passar na faculdade, encontrar um emprego, fazer carreira…Eu via que tinha parado de sonhar e me perguntava: poxa, quando eu chegar no fim da vida, o que vão falar sobre mim?”

A trajetória empreendedora de Lemann acabou servindo de inspiração para quem Max um dia queria se tornar. "Quero que digam que eu vim ao mundo e mudei a vida das pessoas de forma significativa, pessoas que eu nem conheço."

Essa foi a motivação que fez Max trazer aquela ideia da plataforma de milhas para o mundo real.

Pilotando o novo negócio

No início, o projeto não passava de um hobby. Max conta que, como não acreditava muito se aquilo daria certo, trabalhava nele à noite e nos finais de semana, enquanto trabalhava na Vale e ainda estudava para fazer um MBA no exterior.

A plataforma não passava de um Power Point interativo que tirava a dúvida das pessoas e indicava como o processo de troca das milhas poderia ser feito. O que hoje chamamos de MVP, para Max, era empreender na raça.

"Nossa meta era vender uma viagem por dia. Se nós conseguíssemos impactar a vida de uma pessoa todo dia, já valia a pena."

Companheiros de bordo

Mas, para criar uma empresa de tecnologia quando a matéria na faculdade que mais teve dificuldades foi programação de computadores, era preciso ir atrás de um sócio. E ali estava o lado positivo de contar para todo mundo sua ideia.

Max encontrou dois parceiros: Conrado Abreu, que cuidava do lado operacional do negócio, e Hiran César, que era responsável pela tecnologia. Enquanto o primeiro era irmão de consideração de Max, o segundo chegou até ele por indicação de um amigo.

"Eu não conhecia ele e chamei para ser sócio. Era como conhecer alguém na balada, achar legal e já propor casamento e filhos."

Como em todo casamento pode haver o divórcio, e a relação não durou tanto. Em 2014, o sócio saiu do negócio e Max continuou ao lado de Conrado, dividindo as responsabilidades da empresa.

O Day1 da MaxMilhas

Seis meses depois de dar o start, em julho de 2013, Max aproveitou as férias da Vale para viajar a São Paulo e fazer networking.

Voltou inspirado com as possibilidades que encontrava para o futuro da MaxMilhas e com o crescimento contínuo, mesmo que ainda tímido, no número de vendas.

Foi no primeiro dia de volta das férias, durante um feedback com a sua gerente, que ele pediu demissão. Era hora de se dedicar inteiramente para a MaxMilhas.

“No outro dia, peguei o carro e fui dirigindo de Vitória para BH, voltando para casa. Percebi que o site começou a ter muitas vendas. A média era de 5 por dia e estávamos com 30. Parecia mesmo que aquela tinha sido a decisão certa.”

“Porém, quando cheguei em casa, fui analisar de perto os números e levei um susto: descobri que aquele resultado era fruto de uma fraude. Estávamos sendo vítimas de um golpe. Foi ali que aprendi pela primeira vez como empreender é uma montanha-russa. Horas antes eu estava entusiasmado e radiante com a decisão de sair da Vale, e depois tudo já estava diferente.”

Passada a turbulência, o negócio decolou

No final daquele mesmo ano, a MaxMilhas ganhou o prêmio INFO Start como a startup do ano. E o mais inusitado é que, até ganhar esse prêmio, o Max não tinha ideia de que sua empresa era uma startup.

Sua bagagem de engenharia na Ambev e na Vale nunca o colocaram em contato com o ecossistema empreendedor. Foi a partir dali que ele traçou um paralelo entre o conceito de manufatura enxuta que viu nas fábricas que atuou e o de startup enxuta, de Eric Ries, para profissionalizar a gestão do negócio.

Em 2014, foi acelerado pela 21212 Digital Accelerator, onde encontrou uma comunidade com a qual poderia trocar, aprender e que apresentou a ele a Endeavor.

Enquanto ele crescia, participava de diferentes programas de apoio e mentoria. Começou no programa Startup Network; logo depois, participou do Scale-Up Minas Gerais e, agora, acaba de se tornar Empreendedor Endeavor, aprovado no Painel Internacional no Painel Internacional de Seleção (ISP) da Endeavor.

De todas as mentorias, uma das que mais marcou foi a de Ronaldo Cunha, padrinho do empreendedor durante o programa Scale-Up Minas. O ex-CMO da Netshoes, compartilhando muito da experiência que tinha, sempre provocava o empreendedor com a pergunta:

– E aí, quando vocês vão se tornar uma empresa de 1 bilhão?

“Eu achava que já pensava grande e ele me dizia pra pensar maior ainda”, conta Max. “Não era pelo faturamento em si, mas pelos recursos necessários para criar um negócio que revolucione o mercado. Uma empresa de 10, 100 milhões não tem um poder transformador tão grande quanto uma de 1 bilhão.”

É por isso que hoje o sonho grande de Max não é apenas consolidar um novo segmento de mercado, mas, principalmente, liderá-lo. “Quando digo isso na empresa, as pessoas ficam achando que sou louco. Mas eu quero levar isso para o resto do mundo. Nós sabemos que não existe um modelo de negócios assim nos EUA, na China, na Europa…”

O que eu quero é um dia olhar para trás e ver de maneira clara que existiu uma era pré e pós MaxMilhas no mercado de passagens aéreas.

A altitude do sonho é grande, mas a rota é segura

“O que me guiou foi a vontade de fazer acontecer. Não lembro de termos feito um planejamento em longo prazo, com foco nos resultados. Era muito mais vontade e execução, do que fé.”

E se o objetivo de Max, ao iniciar esse negócio, era impactar a vida das pessoas, algumas histórias já mostram que isso está se realizando.

Como a do casal que convidou o empreendedor a se tornar padrinho de casamento deles. Isso porque o relacionamento a distância dos dois, durante o namoro, só foi possível por conta do preço baixo das passagens aéreas que eles compravam pelo site.

Outro exemplo legal é o do pai que enviou um e-mail para o time contando que, graças a eles, ele pôde assistir ao nascimento do seu filho. Sua esposa tinha entrado em trabalho de parto antecipado, enquanto ele viajava, e o preço das passagens aéreas estava muito alto, por conta da urgência. As milhas de outra pessoa, que ele nem conhecia, acabaram sendo usadas para ele viajar.

Essa visão de impacto não está associada apenas aos clientes, mas também aos 90 funcionários da empresa.

“Hoje, todo mundo da MaxMilhas ganha 20 mil milhas pra viajar nas férias. Tinha gente que nunca tinha viajado de avião, então a gente proporciona a essa gente a experiência que os nossos clientes também têm, para que entendam o impacto daquilo que fazemos todos os dias.”

“No começo, eu não acreditava muito que aquela ideia poderia ser um negócio, muito menos com a visão de horizonte e impacto que temos hoje. Mas, de certa forma, sempre fui guiado por uma frase: 'se não existisse impossível, até onde você conseguiria ir?'. Ouvi isso na Endeavor e carrego comigo desde então. Se não der certo, eu vou menos longe; mas ainda assim, vai ser muito mais alto do que um dia pensei em chegar.”

Texto publicado originalmente no site da Endeavor.

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