Profissionais executivos conversando (Creative Commons/Flickr)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2014 às 11h11.
Coisas para pensar antes de propor uma sociedade a alguém
Escrito por Vinicius Licks, especialista em empreendedorismo
“Começar uma empresa com o meu melhor amigo? Na hora, eu soube que iria fazê-lo. Como eu poderia recusar?" Foi assim que Steve Wozniak decidiu aceitar a proposta de sociedade feita por Steve Jobs para criar a Apple, em 1976.
Capital inicial? Wozniak vendeu sua calculadora HP por 500 dólares enquanto Jobs vendeu o seu VW velho por 1,5 mil dólares. Jobs também propôs uma participação de 10% na Apple para Ron Wayne, um colega de trabalho seu na Atari. Wozniak e Jobs ficaram, cada um, com 45% da empresa.
Wozniak seria corresponsável pela engenharia elétrica junto com Jobs, que também assumiria a parte comercial, e Wayne seria responsável pela engenharia mecânica e documentação dos projetos.
Para qualquer empreendedor, fazer uma sociedade com um amigo ou colega de trabalho para começar um novo negócio é uma decisão super simples. Afinal, eles já se conhecem. Mas, como toda decisão na vida, ter ou não ter sócios traz consequências. Ao optar pela sociedade, o empreendedor terá que tomar fazer algumas escolhas importantes: quem ele convidará para ser seu sócio? Qual será o papel de cada um na sociedade? Como dividir a participação na empresa?
Foram exatamente estas as primeiras decisões que os fundadores da Apple tiveram que tomar. Todas estas escolhas estão interligadas e afetarão, no longo prazo, a estabilidade da equipe de sócios fundadores, o valor da empresa e o controle sobre os rumos do empreendimento.
Claro, o empreendedor sempre poderá adiar estas decisões se optar pelo voo solo no início. Mas esta escolha também traz os seus próprios desafios. Sozinho, o empreendedor poderá não reunir todas as competências e conhecimento do mercado, rede de contatos e recursos necessários para começar a empresa. Ou ainda, poderá sentir falta do apoio emocional e psicológico que uma sociedade poderá lhe trazer.
Para decidir se faz sentido ou não ter um sócio, o empreendedor deverá avaliar o capital humano, social e financeiro necessários para colocar o negócio em funcionamento. Em seguida, comparar com as competências, o conhecimento do mercado, os contatos e recursos de que ele já dispõe.
A partir desta autoanálise, se ele identificar que muitas peças importantes do quebra-cabeça estão faltando, então valerá a pena ter um ou mais sócios com um perfil capaz de complementar as suas deficiências. Se apesar disto, ele decidir que quer mesmo é convidar o seu melhor amigo de escola para embarcar junto no seu sonho, pelo menos a decisão terá sido bem informada.
Curiosidade: se você nunca tinha ouvido falar da participação de Ron Wayne na formação inicial da Apple, existe uma boa razão para isso: 11 dias depois de topar entrar na sociedade, ele desistiu e vendeu para Jobs e Wozniak sua participação de 10% na Apple por 800 dólares à vista e 1.500 dólares em um cheque pré-datado.
Vinicius Licks é professor de empreendedorismo na engenharia do Insper.