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Como empreender bem na crise, segundo Romero Rodrigues

Para o fundador do Buscapé e novo sócio do Redpoint eventures, esse é o melhor momento para startups digitais no Brasil conseguirem investimento. Veja por quê


	Romero Rodrigues: "Agora é o melhor momento para investir em startups digitais no Brasil"
 (Fabio Sarraf / EXAME)

Romero Rodrigues: "Agora é o melhor momento para investir em startups digitais no Brasil" (Fabio Sarraf / EXAME)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 13 de novembro de 2015 às 04h56.

São Paulo – O empreendedor Romero Rodrigues é mais conhecido por ser o fundador do Buscapé, o site de comparação de preços que foi vendido em 2009 ao grupo sul-africano Naspers por 342 milhões de dólares. Nesta semana, ele anunciou que será também o mais novo sócio do brasileiro Redpoint eventures, fundo de investimento com raízes no Vale do Silício.

Em entrevista a EXAME.com, ele contou sobre o porquê de ter entrado para um fundo agora, após dez anos atuando como investidor-anjo, e respondeu se a crise ajuda ou atrapalha na hora de startups conseguirem investimento. "Para as startups muito boas, com bons empreendedores, a crise nem ajuda nem atrapalha. Para os empreendedores não tão bons, a crise sem dúvida nenhuma atrapalha, porque diminui um pouco a liquidez do mercado", conta.

O fundador do Buscapé também falou sobre o que uma empresa precisa fazer para crescer nos próximos anos e quais setores ele julga promissores. Veja as respostas para essas questões e mais trechos da entrevista:

EXAME.com Por que você decidiu entrar para um fundo de investimentos após anos como investidor-anjo?

Romero Rodrigues O principal motivo de eu ter entrado em um fundo de Venture Capital é que isso era uma evolução natural do meu trabalho como investidor-anjo. Já tenho 25 investimentos feitos como investidor-anjo. Chega um ponto em que você não consegue mais gerenciar e ter agilidade no dia a dia com esses empreendedores: você precisa montar uma equipe.

Ao mesmo tempo, estou só colocando capital próprio e usando geralmente tempo livre para esses investimentos. Vários amigos ou conhecidos queriam coinvestir comigo. Então, fazia todo sentido poder trabalhar não só com capital próprio, mas com o de terceiros.

Por último, eu tenho um network bom no Brasil e fora também, mas queria expandí-lo, principalmente nos Estados Unidos e no Vale do Silício. Isso me fez buscar uma estrutura mais profissional de investimento, onde eu pudesse agregar mais valor às empresas e também ficar com uma participação maior ao investir. Como investidor-anjo, você normalmente fica com um percentual pequeno.

Eu acredito que a próxima geração de empresas de internet no Brasil vai ser, potencialmente, a melhor geração de todas. Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e sócio da Redpoint eventures

EXAME.com A crise econômica pela qual o Brasil passa ajuda ou atrapalha uma startup a conseguir investimentos?

Romero Rodrigues Para startups muito boas e com bons empreendedores, a crise nem ajuda nem atrapalha. Para empreendedores não tão bons, a crise sem dúvida atrapalha. Ela diminui a liquidez do mercado.

Este é o melhor momento para investir em startups digitais no Brasil. Por causa da crise, as empresas param de investir em médio e longo prazo – elas cortam o que não dará resultados para salvar o trimestre ou o ano. Elas cortam projetos de inovação, marketing... Isso faz com que profissionais talentosos fiquem disponíveis no mercado.

É um dos raros momentos que startups conseguem competir por talentos com grandes corporações. Qualquer projeto que uma empresa de médio e grande porte tenha para se proteger de novos serviços é colocado em segundo plano. Isso é uma vantagem para as startups.

O consumidor também muda – quando hábitos antigos morrem, morrem na crise. Quando ele muda de hábito, procura um produto ou serviço que custe menos. Ele diz: “bom, vou enxugar meu orçamento. Tenho de achar uma solução para minha TV à cabo, que custa 150 reais”. Nesse momento, ele vai para o Netflix, que custa 15 reais.

Isso vai acontecer com reserva de restaurante, como é o caso do Grubster, em que sou investidor e que está crescendo na crise. No Buscapé a receita não está crescendo, mas a audiência está. Todo mundo está procurando comparar preço, até quem não comparava. Isso não acontece quando o momento econômico é bom.

As empresas também gastam melhor. Se a receita está crescendo, ela não precisa economizar para aumentar o lucro - o próprio aumento da receita proporciona isso. Já em uma crise, o que a empresa faz? Procurar eficiência. Isso ajuda startups, que podem vender para essas companhias.

Eu acredito que a próxima geração de empresas de internet no Brasil vai ser a melhor de todas. Por causa da crise e porque nunca se usou tanto celular como vai se usar nos próximos cinco anos. Hoje, 35% da população usa smartphones, e vai subir para 60% nos próximos cinco anos. Isso só acontece uma vez na vida.

EXAME.com Que áreas você julga serem promissoras para novas startups nesse momento?

Romero Rodrigues Há setores que estão muito interessantes. Eles são: saúde, fintech [startups que tragam soluções na área financeira], educação, varejo – não falo em vender produtos, mas em ajudar as pessoas, como faz o Buscapé – e serviços para pequenas e médias empresas, que começarão a buscar eficiência.

Os negócios têm que ter duas características para crescer nos próximos três anos. A primeira é ser mobile – todo mundo que tiver um serviço que faz muito sentido para um celular vai se beneficiar desse crescimento de penetração nos próximos três ou quatro anos.

A segunda é ter características que vão contra o ciclo. É o exemplo do Buscapé: os consumidores estão procurando mais, não estão indo no shopping comprar sem antes pesquisar. Quando a crise acaba, a receita do Buscapé tem altíssimo crescimento porque todas as pessoas que aprenderam a usar passam a utilizá-lo porque criaram um hábito.

Eu dei também o exemplo do Grubster: as pessoas jantam fora menos no meio da crise, mas, se vão jantar, que seja pagando 70% da conta e não 100%. Toda startup que tiver um comportamento contra o ciclo vai se beneficiar.

No final do dia, apesar de a gente ver todos os setores, a gente investe em pessoas, em grandes empreendedores que a gente acredita que possam mudar o mundo. Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e sócio da Redpoint eventures

EXAME.com Que conselhos você daria para uma empresa que quer atrair grandes fundos de investimento?

Romero Rodrigues A receita de bolo diz que é preciso resolver um problema importante em um mercado potencial – ou seja, grande – e ter um bom time. Eu diria que a última parte é a mais importante. No final do dia, apesar de vermos todos os setores, investimos em pessoas, em grandes empreendedores que acreditamos que podem mudar o mundo. Às vezes, pode ser de um setor que alguém ache que está saturado, mas ele pode ter uma visão muito boa do que quer fazer.

Meu trabalho como investidor é perceber o quão resiliente e sagaz esse empreendedor é. Ele pode não ter a melhor ideia, mas pode se adaptar à situação de forma vencedora. Então, entre a ideia, o mercado e as pessoas, olhamos efetivamente as pessoas. Minha dica é trazer um time complementar, forte e que esteja alinhado, que seja sócio do sonho do empreendedor. Ele não pode economizar nos talentos que vai trazer para formar o time.

Eu diria que os melhores empreendedores brasileiros, falando de startups, não deixam nada a desejar aos melhores empreendedores americanos. Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e sócio da Redpoint eventures

EXAME.com  Como você avalia a posição do Brasil em startups em relação ao cenário global?

Romero Rodrigues Eu comecei a fazer investimento-anjo por volta de 2005. O Buscapé começou em 1998, mas nos primeiros anos eu não tinha capital nem para trocar o carro velho (risos), muito menos para fazer investimento-anjo.

Eu vejo uma evolução rápida do empreendedor brasileiro e das startups. Por diferentes motivos: tivemos entre 2010 e 2011, pouco depois da venda do Buscapé, muitos estrangeiros vindo ao Brasil, o que trouxe uma diversidade de opiniões e visões.

Tivemos também muitos empreendedores brasileiros indo para o Vale do Silício, fazendo quase um summer camp [acampamento de verão], com estágios em aceleradoras. Isso enriqueceu muito os empreendedores brasileiros. Eu diria que os melhores empreendedores brasileiros não deixam nada a desejar aos melhores empreendedores americanos. Fato. Não tem o que discutir.

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