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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Todos os meses, o investidor americano John May é alvo de centenas de pequenos empresários que querem receber aporte de capital. "Por isso, se eu receber uma quantidade imensa de documentos sobre uma empresa, simplesmente não vou ler", diz. Tempo é, definitivamente, seu recurso mais escasso. May tem uma série de credenciais, todas associadas ao investimento anjo: é investidor, professor, autor de livros e presidente da Angel Investor Association, que reúne várias entidades americanas de fundos anjo. Na segunda-feira (12/03), May esteve no Brasil para falar no Congresso da ABVCAP, associação que reúne gestores de investimentos do Brasil.
Os investidores anjo aportam dinheiro em empresas em estágio bem inicial. Como uma pequena empresa pode conquistar esse tipo de capital? Em entrevista a EXAME PME, May disse o que um empreendedor deve fazer para conquistar o aporte dos anjos. Falou também sobre o investimento anjo no Brasil, e quais as áreas mais promissoras.
EXAME PME -- Como o senhor escolhe as companhias em que vai investir?
John May -- Nosso bem mais precioso é o tempo. Não queremos perder tempo em empresas que não nos servem. De cada 100 empresas, entrevistamos dez e investimos em duas. O empreendedor não pode gastar o tempo do investidor - nem seu próprio tempo - tentando receber aportes de fundos que não estão alinhados com o perfil de sua empresa. Isso demonstra falta de foco.
EXAME PME -- Quais as qualidades que um empreendedor deve ter para disputar o aporte de um investidor anjo?
May -- Primeiro, o empreendedor precisa refletir se realmente quer ter esse tipo de parceiro. O anjo orienta, opina. Nem todo empreendedor gosta desse tipo de intervenção. Muitos são bastante apegados à sensação de que estão no controle. O empreendedor precisa, também, ser capaz de descrever o grande futuro que ele vê naquela empresa. Além disso, motivação é fundamental. Se um empresário me diz: "A empresa vai gerar muito dinheiro", eu respondo: "Mas eu já tenho muito dinheiro". Se o empresário me diz: "eu vou começar uma idéia inovadora, vou mudar a economia de uma cidade". Aí ele desperta meu interesse.
EXAME PME -- Como um empreendedor deve apresentar seu plano de negócios?
May -- Se um empreendedor se encontra com um investidor no elevador, ele precisa ser capaz de apresentar a empresa em menos de um minuto. Ninguém vai ouvir por cinco minutos. Se o empreendedor, nessa hora, tem à mão uma folha com a apresentação resumida da empresa, aí sim. O investidor leva o papel e lê no avião. Se quiser saber mais, vai pedir mais páginas, ou o plano de negócios. Assim, é preciso ter várias versões para apresentação de sua empresa: uma apresentação de uma folha, uma apresentação de duas, um plano de negócios sem apêndice. Um material imenso simplesmente não vai ser lido. Não queremos ver cinco anos de projeção financeira dentro do plano de negócios.
EXAME PME -- Como se aproximar do investidor?
May -- O caminho ideal é a indicação. Se o empresário não tem nenhum conhecido para o indicar, tudo fica mais difícil. Entre um estranho com uma idéia incrível e um indicado por uma pessoa de confiança, o primeiro encontro agendado será com o indicado. O empreendedor precisa encontrar um jeito de ser apresentado da forma mais pessoal possível.
EXAME PME -- Quais as áreas mais atraentes para o fundo anjo?
May -- Investimos em negócios que consumam o mínimo de capital e que tenham potencial para crescer o máximo, como tecnologia, softwares, webdesign. Queremos baixo custo de produção e altas margens de lucro. Os empreendedores podem ter muitos sonhos, mas nem todos são atraentes ao investidor-anjo. Outra característica importante para o fundo anjo é a proximidade geográfica. Brinco que a empresa investida precisa estar próxima a ponto de ser possível que eu verifique, do meu escritório, se a luz está acesa, na sexta-feira à noite.
EXAME PME -- E no Brasil? Há algum setor atraente?
May -- Ouço muito sobre os negócios relacionados a fontes de energia renovável. Acredito que o setor de energia do Brasil tem potencial para receber aportes.
EXAME PME -- Por que você acha que o investimento anjo ainda é incipiente no Brasil? É uma questão econômica ou cultural?
May -- Ao longo de minhas viagens pelo mundo, eu concluí que é uma questão cultural. Normalmente, o investidor anjo já foi um empreendedor. Se já foi empreendedor, tem menos medo de perder dinheiro - sabe que, se perder, pode ganhar tudo de novo. Eu acho que, nos últimos dez anos, o Brasil não teve uma boa quantidade de empreendedores muito bem sucedidos, que fizeram suas grandes empresas. Conseqüentemente, há pouca gente disposta a ser investidor anjo.
EXAME PME -- Muitos investidores desconfiam de empreendedores que não arriscam seu próprio dinheiro no negócio. O que o senhor acha dessa opinião?
May -- É muito importante que o empreendedor também corra riscos. Alguns não têm nenhum dinheiro. Nesses casos, é preciso, ao menos, gastar muito tempo e energia no negócio. Mas se o empreendedor tem algum capital, deve mesmo gastar muito. Naturalmente, não é necessário arriscar tudo. Mas por que um investidor vai arriscar seu dinheiro se o empreendedor não é capaz de arriscar o dele próprio?
EXAME PME -- O senhor ajudou a fundar um grupo de investimento composto apenas por mulheres investidoras. Qual o resultado disso?
May -- O grupo que eu auxiliei, o WomenAngels.net, hoje é composto por 83 mulheres milionárias. O mercado de investimentos cresceu tanto nos Estados Unidos que há, agora, os grupos de investidores compostos por minorias. Negros e hispânicos, por exemplo, querem retribuir, às suas comunidades, um pouco do que conquistaram.