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Como a Companhia de Idiomas pode crescer, apesar da falta de mão de obra?

A Companhia de Idiomas quer crescer 30% em dois anos ensinando línguas para brasileiros e estrangeiros. A demanda existe. O dilema é encontrar professores qualificados à altura para atendê-la

Lígia Velozo Crispino e Rosângela Souza, sócias na Companhia de Idiomas: Escola tem entre suas conquistas grandes clientes, como o banco Itaú (Daniela Toviansky)

Lígia Velozo Crispino e Rosângela Souza, sócias na Companhia de Idiomas: Escola tem entre suas conquistas grandes clientes, como o banco Itaú (Daniela Toviansky)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2012 às 06h00.

São Paulo - As sócias Rosângela Souza, de 43 anos, e Lígia Velozo Crispino, de 47, estão enfrentando um tipo de problema frequente entre as pequenas e médias empresas em crescimento - a dificuldade de encontrar mão de obra para sustentar a expansão. Elas são donas da Companhia de Idiomas, que no ano passado faturou 3 milhões de reais ensinando línguas estrangeiras para os funcionários de clientes como o banco Itaú e a empresa de refeições coletivas GRSA.

Desde 2010, a empresa vem crescendo em média a uma taxa anual de 10%, desempenho que tem deixado Rosângela e Lígia insatisfeitas. Nos últimos meses, elas recusaram contratos por falta de professores para atender novos clientes. "Poderíamos ter crescido o dobro se tivéssemos mão de obra disponível", diz Rosângela.

Como é comum em muitas escolas de idiomas, os professores da Companhia de Idiomas são prestadores de serviços, que recebem uma porcentagem sobre o valor que a empresa cobra dos clientes pelas aulas. Hoje, a empresa mantém aproximadamente 100 professores, que atendem, em média, 700 alunos por mês - a maioria das aulas é para turmas pequenas, de um a três alunos, que geralmente se reúnem durante o expediente num espaço cedido pelas empresas. 

Para atender à demanda e investir em novos serviços - como aulas de português para estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil e tradução de documentos -, Rosângela estima que seria necessário cadastrar dez novos professores por mês. "Raramente consigo atingir essa meta", diz ela.

"Analiso mensalmente cerca de 100 currículos, dos quais costumo aprovar não mais que três ou quatro professores." Uma das dificuldades é que elas exigem que seus profissionais tenham, além da fluência num idioma estrangeiro, conhecimento dos termos técnicos usados nos negócios dos clientes, especialmente em áreas como finanças e tecnologia. "Nosso processo de seleção é extremamente rigoroso", diz Lígia. "Acreditamos que tem de continuar assim para não perder a qualidade do ensino."

Desde o ano passado, as donas da Companhia de Idiomas buscam caminhos para superar a escassez de professores. Uma das possibilidades é dar aulas pelo Skype. "Sem perder tempo se deslocando entre um cliente e outro, a produtividade dos professores pode aumentar pelo menos 10%", diz Rosângela. O problema é que muitos dos clientes alegam que seus funcionários preferem a presença do professor e, para manter os contratos, pedem descontos, diminuindo a rentabilidade do negócio. 

As sócias também estudam criar um programa de treinamento para suprir as deficiências dos professores reprovados nos testes de seleção. A intenção é for­mar turmas de treinamento no espaço disponível na sede da escola, instalada em um sobrado na Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo. Para isso, seria preciso dobrar os investimentos em treinamento, que hoje representam 5% do faturamento da escola.

Para discutir os próximos passos a ser tomados pelas sócias, Exame PME ouviu o empreendedor Marcel Magalhães, fundador da escola UNS Idiomas. Também opinaram Cristiane Brandão, sócia da Cravo, empresa especializada em treinamento a distância, e Sérgio Rivas, da Syrius, consultoria especializada em recursos humanos. Veja o que eles disseram.


(Gabriel Rinaldi)

Dar mais aulas a distância

Sérgio Rivas- Syrius COnsulting (São Paulo, SP)
Consultoria especializada em gestão de pessoas

Perspectivas:  O crescimento da economia brasileira abre muitas oportunidades de internacionalização para os ne­gócios brasileiros, seja para atrair investidores, seja pa­ra encontrar fornecedores no exterior, seja para abrir novos mercados fora do país. Com isso, muitas empresas terão mais necessidade de treinar seus funcionários para que se tornem fluentes em idiomas estrangeiros.

Oportunidades: Os responsáveis pelos departamentos de recursos humanos costumam ter dificuldade para encontrar bons fornecedores para dar cursos de idiomas nas empresas — trata-se de um mercado muito pulverizado, em que muitos professores trabalham por conta própria, informalmente, abrindo espaço para escolas especializadas em prestar esse tipo de serviço.

O que fazer: As sócias da Companhia de Idiomas devem investir nas aulas pelo Skype para atender mais alunos sem ter de aumentar o número de professores. Feitas as contas, pode ser que os ganhos de produtividade compensem os descontos necessários para manter os clientes que preferem aulas presenciais — e a tendência é que, à medida que os alunos aprovem o novo sistema, a empresa recomponha seus preços.


(Marcelo Correa)

Treinar novos professores

Cristiane Brandão - Agência Cravo (Rio de Janeiro, RJ)
Escola de treinamentos para grandes empresas
Faturamento: 7,5 milhões de reais (em 2011)

Perspectivas: O negócio de cursos a distância é um mercado bastante interessante por permitir que empresas com muitas filiais possam fornecer um treinamento padronizado a seus funcionários, onde quer que eles trabalhem. Na Cravo, atendemos clientes com esse tipo de necessidade, como a construtora Gafisa e a operadora de telefonia Oi, que têm unidades espalhadas pelo país inteiro.

Oportunidades: Há um grande mercado formado por empresas em crescimento no interior do Brasil, que têm necessidade de qualificar seus funcionários, mas nem sempre encontram bons fornecedores de serviços locais. Caso Rosângela e Lígia decidam investir nas aulas pela internet, elas poderão ter acesso a esse mercado.

O que fazer: Uma das vantagens do ensino a distância é que alunos e professores não precisam estar na mesma cidade. Por isso, as sócias devem investir nas aulas de idiomas pela internet — não só para conquistar novos clientes mas também para treinar mão de obra. O treinamento deve ser cobrado. Isso faz sentido, porque seus professores são prestadores de serviços sem vínculo formal - e nada impede que, após passar pela qualificação, deem aulas por conta própria ou em um concorrente.


(Fabiano Accorsi)

Adotar um modelo híbrido 

Marcel Magalhães- UNS Idiomas (São Paulo, SP)
Rede de franquias de idiomas
Faturamento: 40 milhões de reais (em 2011)

Perspectivas:  Minha experiência mostra que há mercado para aulas presenciais e pela internet. Muitos alunos sentem-se mais confortáveis frente a frente com o professor e se dispõem a pagar mais por isso. Outros preferem o ensino a distância, que geralmente custa mais barato por proporcionar ganhos de escala às escolas.

Oportunidades: Empresas dispostas a aproveitar as oportunidades que surgem com grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, têm urgência em preparar seu pessoal. Ensinar os funcionários a lidar com termos técnicos em outro idioma, como faz a escola de Rosângela e Lígia, é um argumento para conquistar esses clientes.

O que fazer: As sócias podem adotar um modelo híbrido com as primeiras aulas pela internet. Caso o aluno se sinta à vontade, o curso pode continuar a distância, proporcionando o ganho de produtividade que a escola precisa. Caso contrário, as aulas passariam a ser presenciais a partir daí.

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