PME

Com R$ 400 milhões no bolso, qual o próximo passo para a Loggi?

Startup é um dos principais players brasileiros do aquecido mercado de entregas. Nova rodada de aportes impulsiona plano agressivo de expansão

Loggi: Criada em 2014 para enviar documentos, startup cobre hoje 40% da população brasileira (Loggi/Divulgação)

Loggi: Criada em 2014 para enviar documentos, startup cobre hoje 40% da população brasileira (Loggi/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 7 de junho de 2019 às 17h15.

Dificilmente você veria o setor de logística em uma lista dos mais sexy ou de conquistadores de manchetes mas startups estão aproveitando as oportunidades de lucro que esse mercado tem a oferecer há algum tempo e, agora, sua luta pela dominação é vista pela proliferação de entregadores em cidades como São Paulo. Uma dessas startups é a Loggi, empreendimento de entregas que recebeu um grande impulso há poucos meses.

O negócio captou um investimento de 400 milhões de reais e, com isso, projeta que seu serviço de entregas terá 95% de cobertura nacional de entregas no mesmo dia ou no dia seguinte até 2020. Outra expectativa é atingir 5 milhões de entregas mensais pelo país nos próximos três anos. O mercado brasileiro de entregas é especialmente atrativo: o país gasta o equivalente a 12,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em logística, do armazenamento ao transporte. Nos Estados Unidos, o percentual é de 7,8%.

Estratégia de dominação

O primeiro passo para o plano de dominação foi a compra da startup WorldSense, que trabalha com inteligência artificial aplicada à publicidade na internet, com o objetivo de incorporar 400 engenheiros à equipe da Loggi. O movimento de aquisição com foco em talentos, comum no Vale do Silício (Estados Unidos) nos anos 2013 e 2014, é chamado de acqui-hiring.

“Temos mais um negócio de tecnologia do que de logística apenas. Há dois anos ninguém falava em termos como experiência do consumidor e esse é nosso diferencial para transportadoras tradicionais”, afirma o cofundador Fabien Mendez.

Os profissionais adquiridos da WorldSense ajudarão a desenvolver uma inteligência artificial dotada de machine learning. Ou seja, robôs que conseguirão antecipar padrões de desvio de rota por conta de condições climáticos e de trânsito, por exemplo. Com isso, notificam o motorista e o consumidor com maior antecedência e melhoram a operação da Loggi.

Segundo Mendez, 80% dos recursos obtidos nos últimos anos foram direcionados a identificar pontos de onde saem as entregas que estejam perto dos consumidores, ou hubs. Há oito hubs hoje na cidade de São Paulo, sua sede de atuação, com a projeção de chegar a 50 deles pelo Brasil até o final de 2019.

Na Loggi, São Paulo integra-se com outras 15 metrópoles para entregas no mesmo dia ou no dia seguinte (modelo conhecido como same ou next day delivery). A região coberta same ou next day representa 35% do volume nacional de encomendas. Até 2020, a porcentagem deve saltar para 95% same ou next day e 70 cidades atendidas no modelo.

Incluindo encomendas com maior prazo, a Loggi faz 3 milhões de entregas em 33 cidades, com 10 mil motofretistas e motoristas de vans.

Entregador da Loggi

(Loggi/Divulgação)

Além de sua plataforma de tecnologia, a Loggi investirá em robótica e engenharia. A empresa gerencia 12 mini-hubs em toda a cidade de São Paulo, onde os pacotes chegam para serem classificados em rotas eficientes em relação ao tempo e ao custo e, em seguida, escolhidos pelos motoristas em menos de uma hora.

A startup levantou em outubro do ano passado um aporte de mais de 400 milhões de reais, liderado pelo fundo Vision, do SoftBank (Japão), e acompanhado pelo KaszeK Ventures (Brasil). A aposta em aplicativos de entrega não é novidade para o fundo do bilionário Masayoshi Son. No início deste ano, o Vision Fund liderou um investimento de US$ 535 milhões na DoorDash, um aplicativo de entrega de alimentos com sede em São Francisco. Também comprou 15% da gigante Uber, dona do spin-off Uber Eats.

Segundo Mendez, o aporte reflete o interesse do SoftBank em mobilidade urbana, comércio e logística, além de demonstrar um melhor humor dos investidores do que o visto em 2015, quando a startup captou um aporte bem menor, de cerca de 50 milhões de reais. A Loggi teria atingido seu ponto de equilíbrio entre receitas e despesas no final de 2017 e cresceria a uma taxa de 25% por mês. “Crescimento com disciplina é um atrativo”, detalhou na época a EXAME.

Modelo de negócio e desafios

Criada em 2014 para enviar documentos, a Loggi se expandiu e captou recursos para atender novas demandas. Foi dos documentos para o e-commerce, aproveitando o crescimento de 12% do comércio eletrônico em 2018, para 53,5 bilhões de reais. Hoje, atende as dez maiores lojas online do país, Como Dafiti e Mercado Livre. Há um ano e meio, a Loggi começou a fazer entregas em alimentação. A ideia é aproveitar horários de atuação distintos, intercalando entregas de produtos vindos do e-commerce com refeições.

Com a comida, a Loggi adicionou players como o aplicativo colombiano de entregas Rappi e Uber Eats em seu catálogo de concorrentes. Apps do tipo são vistos como complementares a Mendez: enquanto eles são especializados em fazer os consumidores pedirem, a Loggi atua na logística. Há entregadores da Loggi que, inclusive, fazem entregas para a Rappi. Mas tais fronteiras cada vez mais se diluem, na visão do investidor Paulo Humberg. “Estaríamos nos vinte minutos do primeiro tempo, se isso fosse um jogo de futebol. Não sabemos ainda o que vai acontecer, mas, no fundo, daqui a pouco todo mundo concorre. Haverá um amadurecimento desse mercado e começaremos a olhar quem sobrevive após as grandes captações”, afirmou anteriormente a EXAME o investidor do fundo A5 Capital Partners.

Humberg vê com bons olhos a captação da Loggi, que poderá fazer mais frente à expansão da Rappi. Ele ressalta que aquisições entre gigantes e startups podem ocorrer, já que o mercado de delivery é alvo de negócios de diversos setores – mobilidade urbana, tecnologia e varejo físico e online, por exemplo. No final do ano passado, a rede americana Target comprou a startup de delivery Shipt. Mais recentemente, no mês passado, o Walmart adquiriu a startup mexicana de entregas para supermercados Cornershop.

No Brasil, porém, o mercado ainda está “tranquilo demais” para esse movimento. As gigantes fazem tanto parcerias com pequenas quanto desenvolvimentos próprios. O Mercado Livre fechou uma parceria com a startup EuEntrego e já faz algumas entregas de seus vendedores. A gigante Amazon ensaia uma operação 100% própria e ensaia um piloto com a startup de logística por caminhões CargoX. “Não acho que vivemos em um mundo binário. Vejo espaço para transportadoras independentes como forma de complementar as entregas. A chinesa JD.com possui tanto logística própria quanto parceiros”, afirma Mendez.

Acompanhe tudo sobre:InovaçãoLoggiLogísticaStartups

Mais de PME

ROI: o que é o indicador que mede o retorno sobre investimento nas empresas?

Qual é o significado de preço e como adicionar valor em cima de um produto?

O que é CNAE e como identificar o mais adequado para a sua empresa?

Design thinking: o que é a metodologia que coloca o usuário em primeiro lugar