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Com medo de desaceleração econômica, startups cortam gastos

Com tanta decepção afetando o reino das startups e desaceleração iminente, startups decidem guardar mais dinheiro

Vale do Silício: A questão da rentabilidade surge em praticamente todas as conversas com os investidores (David McNew/Newsmakers/Getty Images)

Vale do Silício: A questão da rentabilidade surge em praticamente todas as conversas com os investidores (David McNew/Newsmakers/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2020 às 08h00.

Última atualização em 4 de janeiro de 2020 às 09h00.

San Francisco – Mark Frank, que dirige uma startup de tecnologia de saúde chamada SonderMind, havia planejado esperar até o fim de 2020 para arrecadar mais dinheiro para sua empresa.

Mas, depois que a Uber e a Lyft tropeçaram na abertura de seu capital e que a WeWork depôs seu executivo-chefe e cancelou sua oferta inicial de ações, Frank mudou de ideia. Com tanta decepção afetando o reino das startups e uma desaceleração econômica iminente, ele decidiu que ter mais dinheiro na mão era o melhor caminho.

A SonderMind, que levantou US$ 3 milhões em abril, tem 80% desse dinheiro sobrando, disse Frank. Para estender o tempo em que a startup tem dinheiro, ele decidiu gastar menos que o planejado e iniciou conversas informais com os investidores para uma nova rodada de captação de recursos no começo do ano que vem.

"A questão agora é: 'Forçamos ainda mais esse cronograma?'", disse Frank, de 41 anos, que vive em Denver.

Guardar recursos

As startups de tecnologia, que desfrutaram de anos de dinheiro fácil e crescimento rápido, estão se preparando para uma possível desaceleração ao fazer algo que era impopular em tempos de boom: acumular dinheiro. Muitas empresas novas estão gastando menos e arrecadando mais que o planejado, disse Scott Orn, diretor de operações da Kruze Consulting, companhia de San Francisco que fornece serviços de contabilidade e recursos humanos para mais de 200 startups.

Nos primeiros três meses do ano, os clientes da Kruze tinham um saldo médio de caixa de US$ 3,5 milhões. Em setembro, isso havia aumentado para US$ 4,5 milhões, disse ele. E as startups que começaram o ano torrando US$ 260 mil por mês reduziram esse valor, em média, para US$ 230 mil, disse ele.

"Todos estão guardando o último dólar", disse Orn.

Poupar está em desacordo com o modelo da maioria das startups apoiadas pelo capital de risco, que normalmente arrecadam muito dinheiro para gastar no crescimento rápido. Vários investidores estão agora forçando suas empresas a dar lucro.

Joe Horowitz, investidor da Icon Ventures, empresa de capital de risco em San Francisco e Palo Alto, na Califórnia, disse que se reuniu recentemente com duas startups num dia em que tentavam iniciar rodadas "provisórias" não planejadas de financiamento para se proteger contra um ambiente difícil no ano que vem. Ele disse que essa era uma atitude prudente.

"Aconselhamos as empresas a ser mais cautelosas nos gastos, a ir em frente com planos de arrecadação de fundos e a levantar um pouco de capital extra, se puderem, especialmente quando percebemos esses ventos contrários", disse ele.

Novas perguntas

Ben Parr, presidente e fundador da Octane, uma startup de software de atendimento ao cliente em San Francisco, disse que os investidores estavam perguntando quanto dinheiro sua empresa estava gastando e quanto tempo levaria para empatar o investimento.

"Um ano atrás, eles perguntavam: 'Qual é sua taxa de crescimento mensal?'", disse Parr, de 34 anos. Sua startup de 16 pessoas, que levantou US$ 4 milhões, está no caminho certo para obter lucro no início de 2020, disse ele.

Não se sabe se realmente o estouro da bolha das startups está chegando. Muitos investidores e empreendedores se lembraram de apreensões semelhantes em 2015, quando os fundos mútuos reduziram os valores dos maiores "unicórnios", as startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais. Alguns capitalistas de risco chegaram até a mencionar "unicórnios mortos". Enquanto algumas empresas falavam de austeridade, o dinheiro dos financiamentos continuava a fluir.

Agora, o fator medo deve ser maior, disse Micah Rosenbloom, investidor da empresa de capital de risco Founder Collective.

"A maioria das pessoas com menos de 30 anos só conhece o mercado em crescimento, portanto a maioria das pessoas no ecossistema não está tão preocupada quanto deveria", disse ele.

Mais conservadores

Algumas startups prestam atenção e não se arriscam.

Em setembro, o Fairygodboss, um site de carreira para mulheres em Nova York, diminuiu a quantia de dinheiro que estava perdendo em várias centenas de milhares de dólares por mês. A startup, que tem 55 funcionários, corre um risco maior do que a média em caso de desaceleração, porque as empresas são mais propensas a comprar seus serviços em um mercado de trabalho forte, disse Georgene Huang, executiva-chefe e cofundadora.

Ela queria que os US$ 14 milhões em financiamento de capital de risco da Fairygodboss durassem o maior tempo possível. Então, reduziu os gastos.

"Definitivamente, ficamos mais conservadores. Vemos nuvens de tempestade no horizonte", disse Huang, de 39 anos.

A questão da rentabilidade surge em praticamente todas as conversas com os investidores, disse Pranav Sachdev, executivo-chefe e cofundador da Glyph, uma startup de calçados de Nova York que arrecadou US$ 400 mil.

A empresa, que tem dois funcionários em tempo integral, é rentável, disse Sachdev. Mesmo assim, ele planeja aumentar o tamanho de seu próximo financiamento para dar mais apoio à Glyph, acrescentou.

"Em vez de levantar US$ 750 mil ou US$ 1 milhão, buscaremos talvez US$ 1,5 milhão", disse Sachdev, de 30 anos.

Mesmo algumas empresas de capital de risco expressaram o temor de não conseguir levantar dinheiro novo no ano que vem, disse Chris Douvos, fundador da Ahoy Capital, que investe em fundos de risco.

"Há essa sensação de que todas as grandes avaliações que víamos e das quais nos orgulhávamos ao longo dos últimos anos estão agora perigando", disse ele.

A captação de recursos é muitas vezes afetada pelo sentimento do mercado de ações, disse Horowitz, da Icon Ventures, que trabalha com capital de risco há quatro décadas.

"Quando os mercados públicos estão indo bem, somos uma classe de ativos sexy. Quando os mercados públicos estão sofrendo, nós nos tornamos resíduo tóxico."

Frank, o executivo-chefe da SonderMind, é um dos fundadores da empresa, que foi criada em 2014 e administra uma rede de terapeutas. Segundo ele, à medida que o ambiente das startups foi mudando, foi preciso alterar os planos de captação de recursos e reduzir os gastos de sua empresa.

Porém Frank disse que ainda pretendia gastar no desenvolvimento de novos produtos, bem como em publicidade e contratação. Se a economia tomar um rumo drástico, a empresa vai alterar rapidamente sua estratégia.

"Podemos ser rentáveis, se necessário", disse ele.

Aconteça o que acontecer, Frank não espera que a SonderMind siga o mesmo caminho que os unicórnios que abriram o capital este ano. "A época de levantar US$ 10 bilhões antes de uma oferta pública provavelmente já passou", disse ele.

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