(Foto/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 10h00.
Última atualização em 31 de janeiro de 2019 às 11h19.
No meio da escassez de crédito para pequenas e médias empresas, a fintech IOUU viu uma oportunidade de negócio. A startup criou uma plataforma em que pequenos negócios podem pedir um empréstimo diretamente para investidores, por uma taxa mais baixa e sem a intermediação de um banco.
Batizada de IOUU (trocadilho com I Owe You, que em inglês significa eu te devo), a fintech já emprestou quase 2,6 milhões de reais para 49 micro e pequenas empresas. A plataforma conta com mais de 8 mil usuários cadastrados, sendo 2.500 investidores.
Entre seus clientes, estão negócios dos mais variados, como escritórios de advocacia, faculdade de tecnologia, espaço de coworking, empresa de segurança, um negócio de cachorro quente, entre outros.
Antes de abrir a IOUU, em 2016, Bruno Sayão trabalhou em empresas de tecnologia para o mercado financeiro e na concepção de bancos digitais. Percebeu que havia uma barreira grande nos empréstimos para pequenas e médias empresas, já que são clientes com maior risco de inadimplência. Durante a crise econômica, esse crédito ficou ainda mais escasso.
Sayão conheceu empresas que facilitam essa operação, ao conectar investidores diretamente aos microempreendedores, pequenas ou médias empresas. O modelo é chamado de peer to peer lending e já é conhecido nos Estados Unidos, com a UpStart, e na Inglaterra, com a Funding Circle. O empreendedor, então, decidiu abrir o negócio por aqui.
A IOUU não é a única brasileira a adotar o modelo. A Biva é uma das pioneiras do mercado. Criada em 2015, já recebeu aportes que vão desde David Vélez, um dos co-fundadores do Nubank, ao fundo KaszeK Ventures, dos fundadores do Mercado Livre.
A Nexoos surgiu logo em seguida, acelerada pela Oxigênio, da empresa Porto Seguro. Também atuam nesse mercado as startups Kavod Lending e a TuTu Digital. Em abril do ano passado, o Banco Central regulamentou essas fintechs e estabeleceu regras para o seu funcionamento.
Microempreendedores e empresas pequenas ou médias podem se cadastrar na plataforma da IOUU para pleitear um empréstimo. A fintech então analisa a pontuação de crédito da companhia com base em mais de 700 bancos de dados.
Em apenas três minutos, a empresa recebe uma pré-aprovação e, em 72 horas, recebe ou não a aprovação de empréstimo.
Alguns desses dados também são levados em consideração por instituições financeiras tradicionais, como a avaliação de crédito no SPC e Serasa, posição em tribunais de justiça, faturamento da empresa e se tem alguma dívida.
Além disso, a fintech também avalia a posição dos sócios, seus parentes e pessoas mais próximas, bens, veículos, a taxa média de inadimplência do setor em que a empresa está, histórico profissional e até as redes sociais do empreendedor. Realiza ainda um teste comportamental de risco psicográfico, como pontuação de crédito alternativa, usando inteligência artificial.
Todos esses dados são publicados na plataforma, acessíveis para os investidores, que então tomam a decisão de fazer um empréstimo ou não. "O processo todo é mais rápido e menos burocrático que em bancos tradicionais, por ser totalmente digital e com uso de muita tecnologia", afirma o empreendedor.
A tecnologia também permite cortar custos. A companhia não tem agências bancárias e trabalha com uma equipe enxuta, de 15 pessoas. Os custos de equipe, infraestrutura e até procedimentos burocráticos levam os bancos a aumentarem as taxas de empréstimo. O Brasil tem o segundo maior spread bancário do mundo, que é a diferença entre o valor pelo qual o banco arrecada dinheiro por meio de investimentos e o valor pelo qual empresta o dinheiro.
Ao cortar custos - e ter uma margem de lucro menor que bancos - a IOUU oferece, ao mesmo tempo, taxas de juros mais baixas para os clientes e rentabilidade mais alta para investidores, de 28,36% ao ano para os dois grupos.
A ideia é que a plataforma da IOUU seja atrativa não apenas para as micro e pequenas empresas, mas também para investidores.
Segundo Sayão, uma das vantagens do modelo é a rentabilidade imediata. Normalmente, um investidor faz um aporte em uma startup em troca de participação. Pode recuperar o dinheiro com a venda da startup, chegada de novos investidores ou até um IPO, o que pode demorar anos para acontecer. Com o modelo de peer to peer, o investidor não compra uma participação e já recebe o retorno pelo empréstimo nos primeiros 30 dias.
O empreendedor afirma que, mesmo que a rentabilidade pareça atraente, não é recomendável basear os investimentos apenas na plataforma. “A IOUU foi criada para compor a carteira de investimentos, porque há riscos assim como na bolsa de valores”. Por isso, a IOUU toma diversas precauções para manter a taxa de inadimplência baixa e para proteger os investimentos.
"Com apenas 15 dias de inadimplência, já entramos em contato para obter uma previsão de pagamento. Para atrasos mais longos, temos parceria com um escritório de cobrança e podemos entrar com medidas judiciais de recuperação", diz o empreendedor. Assim, a taxa de inadimplência da plataforma é de apenas 1,77%.