André Ferraz, presidente da Incognia: empresa nasceu em 2014 a partir de um projeto de alunos de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco (Incognia/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 15h30.
Menos de um ano depois de vender seu braço de publicidade para o Magazine Luiza, a empresa de tecnologia Inloco, de Recife, anuncia a mudança de sua marca para Incognia. O novo nome consolida o processo de mudança de modelo de negócio da companhia, que passou a focar em produtos de identidade e segurança digital desde o começo da pandemia.
Incognia era o nome que a Inloco dava à sua frente de segurança digital, que usa os padrões de geolocalização dos usuários como chave de identificação. Ao decidir concentrar seus esforços somente nesse produto, a empresa percebeu que seria mais fácil deixar para trás a antiga marca.
A tecnologia de segurança e identidade digital da Incognia começou a ser construída com o aporte de 20 milhões de dólares que a empresa recebeu em junho de 2019, liderado pelo fundo americano Valor Capital e pelo brasileiro Unbox Capital, da família Trajano, do Magazine Luiza.
A identidade digital da empresa foi pensada para substituir a necessidade de login e senha para autenticar pessoas. Ela mapeia o comportamento do usuário no smartphone de forma anônima e cria uma identidade com base no seu padrão de deslocamento.
Hoje, o produto é utilizado em três frentes por bancos, apps de delivery, e-commerce e carteiras digitais. A primeira é para facilitar o processo de abertura de contas. Em vez de o cliente precisar enviar um comprovante de residência, ele só precisa ativar a localização do smartphone para validar o endereço informado. Segundo André Ferraz, fundador e presidente da companhia, a simplificação no processo aumentou o volume de aberturas de cadastros em até 20% nas empresas que adotaram a solução.
O segundo tipo de uso é para facilitar o login durante compras online ou transações financeiras. Segundo a empresa, 30% dos clientes desistem da compra quando são obrigados a comprovar a identidade. Com o histórico de geolocalização do usuário, a Incognia sabe se a pessoa que está efetuando a transação é a mesma cadastrada ou não. “Mais de 90% das transações acontecem de um local seguro para o usuário, como a casa ou trabalho — nessas situações, a empresa não precisa exigir senha ou comprovante de biometria ao cliente”, diz Ferraz.
O serviço também evita fraudes, já que a startup consegue avaliar se o dispositivo de acesso já foi utilizado em outros esquemas e se está em uma região não frequentada pelo usuário cadastrado. “Conseguimos, em média, uma redução de 70% nos roubos de conta”, diz o cofundador.
Hoje, são cerca de 10 grandes empresas usando o serviço no Brasil, Estados Unidos, México e Colômbia — só no Brasil, são mais de 70 milhões de dispositivos monitorados. A cada transação avaliada para as empresas clientes, a Incognia recebe alguns centavos.
A startup nasceu em 2014 de um projeto de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife. O fundador estava empenhado em criar ferramentas que permitissem a “internet das coisas”, modelo em que os dispositivos pessoais estariam conectados entre si e realizando tarefas de forma autônoma. Para isso, ele começou a desenvolver tecnologias de geolocalização e ferramentas de segurança digital.
Para poder financiar suas pesquisas, a startup precisou abraçar outros mercados, como a publicidade. Ela criou um sistema que manda notificações push quando as pessoas passam perto de estabelecimentos das empresas clientes. A estratégia deu certo. Em 2016, a Inloco Media já era avaliada em 50 milhões de reais e tinha escritórios em Nova York, Berlim e Londres.
Em 2020, com a pandemia forçando uma queda na circulação de pessoas pela cidade, o negócio sofreu. Por isso, quando o Magazine Luiza, que era cliente da ferramenta de mídia há alguns anos, demonstrou interesse em adquirir o produto, a startup decidiu que era hora de vendê-lo e focar na sua solução de segurança digital.
Segundo Ferraz, o valor de mercado de 90 milhões de dólares que a Inloco tinha no começo de 2020 caiu com a pandemia e a venda da divisão para o Magalu, mas hoje já foi recuperado. Para 2021, a meta do fundador é multiplicar por dez a receita mensal da companhia, explorando, principalmente, o mercado americano, que deve passar a corresponder por 35% do faturamento da empresa até o final do ano — hoje representa menos de 10%.