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Com dificuldade para vender online? Empresas ajudam pequenos negócios

Companhias como Magazine Luiza e Ebanx disponibilizam plataformas para que prestadores de serviço e comerciantes possam vender online

Rua 25 de março, em São Paulo. (Germano Lüders/Exame)

Rua 25 de março, em São Paulo. (Germano Lüders/Exame)

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Carolina Ingizza

Publicado em 3 de abril de 2020 às 06h00.

Última atualização em 3 de abril de 2020 às 10h49.

Com a pandemia do coronavírus, empreendedores e autônomos precisam se reinventar e repensar seus negócios para continuar de pé. A quarentena e as recomendações de isolamento social impõem uma dificuldade técnica extra, já que pequenas e médias empresas não estão acostumadas a operar no comércio eletrônico. Para quatro a cada dez empresas brasileiras, as vendas realizadas em canais digitais correspondem a apenas 10% de seu faturamento.

Para ajudar empreendedores e vendedores a entrarem no mundo online, algumas empresas e fintechs oferecem soluções. A Loja Integrada, por exemplo, disponibiliza uma plataforma que os ajuda a se conectar com clientes, receber os pagamentos e enviar os produtos. A plataforma é gratuita e a partir dos 50 produtos catalogados ou de 5.000 visitas, há um plano mensal de 49,90 reais.

Entrar no comércio eletrônico não apenas permite que os negócios continuem recebendo receitas, mas também ajuda o varejista a expandir sua atuação. Uma loja de bairro tem clientes em um raio limitado, mas uma loja online pode alcançar consumidores muito mais distantes, diz Pedro Henrique, presidente da Loja Integrada. A plataforma está conectada a diversos serviços de entrega por motoboy, como a Loggi.

Ao oferecer a plataforma de comércio eletrônico para os varejistas, Henrique percebeu que os empreendedores tinham dificuldades ainda mais profundas. "Percebemos que o desafio não é técnico, de criar a loja, mas também de atrair os consumidores", diz. A empresa passou a criar conteúdos com dicas de venda e financeiras.

A empresa faz parte do grupo Vtex, empresa de tecnologia para o comércio eletrônico, e já vendeu mais de 20 milhões de produtos na história da plataforma, com mais de 1 milhão de lojas criadas. São 600 novas lojas por dia. Nos últimos dias, a plataforma teve um crescimento de 20% em relação ao acesso ao site e mais de 46% em relação a criação de lojas virtuais.

Parceria na venda online

A gigante varejista Magazine Luiza também decidiu usar sua experiência em venda online para ajudar os pequenos negócios. Percebendo a necessidade neste momento de crise, a empresa decidiu antecipar seus planos e lançou, na terça-feira, a Parceiro Magalu. “Fizemos em cinco dias o que estava planejado para ser feito em cinco meses”, diz Frederico Trajano, presidente da companhia.

A plataforma oferece suporte para microempreendedores individuais (MEI) e empresas com faturamento até 5 milhões de reais por ano. Por lá, os empresários podem cadastrar seus estoques de produtos no site e aplicativo do Magazine Luiza, se conectando com os mais de 20 milhões de clientes da companhia. As entregas são feitas pelos Correios, sem custo para o lojista, mas o Magu vai cobrar, por venda, uma taxa de 3,99% até o dia 31 de julho.

Para as pessoas físicas, que trabalham como autônomas, a nova plataforma do Magalu oferece um sistema de comissões. As pessoas podem criar suas lojas individuais usando os mais de 7 milhões de produtos disponíveis no Magazine Luiza. A cada venda realizada, o parceiro recebe uma taxa, como acontece com as revendedoras de empresas de cosméticos.

As comissões por venda variam entre 1% e 12%, a depender do produto. A cada 50 reais acumulado, o parceiro pode solicitar o repasse em sua conta, que poderá ser feito em até 34 dias . Durante a pandemia, o Magalu incentiva que os produtos sejam vendidos por meio de redes sociais individuais, como Facebook, Instagram e WhatsApp. No futuro, os parceiros poderão realizar vendas de porta em porta, com pagamento por meio do aplicativo.

Experiência em pagamentos digitais

O unicórnio brasileiro Ebanx também se mobilizou para ajudar os empreendedores. Especializada em pagamentos digitais, a empresa de Curitiba transformou um projeto interno de eventos em uma plataforma de lojas online. A ideia dos sócios é oferecer um sistema simplificado para os comerciantes de balcão conseguirem montar seu primeiro e-commerce. “Não é o tipo de produto que a gente queria fazer, é uma tentativa de solução”, afirma o sócio e diretor de marketing André Boaventura.

A ideia da startup não foi criar “uma grande plataforma de e-commerce”, mas sim oferecer um jeito fácil e rápido de um pequeno empresário vender alguns produtos digitalmente. A plataforma, chamada de Ebanx Beep, permite expor os produtos e processar as vendas de forma 100% digital. A empresa não cobra pela criação da loja, mas fica com uma taxa de 4,9% sobre cada transação confirmada.

“A ideia não é que o empreendedor cadastre 500 produtos. O nosso foco é vender produtos ou vouchers o mais rápido possível”, diz Boaventura. O cadastro leva de 15 a 20 minutos no site e pode ser feito tanto por pessoas físicas quanto empresas.

A iniciativa é feita em parceria com a Visa, que já estava com o Ebanx no programa Cidades do Futuro, que leva meios de pagamentos digitais para cidades do interior do país. Além do Beep utilizar uma série de ferramentas antifraude e de autenticação das transações da Visa, a empresa também usa sua extensa base de clientes no Brasil para divulgar a nova plataforma de vendas.

Segundo Fernando Teles, diretor da operação brasileira da Visa, a companhia trabalha agora em um modelo de recomendação por geolocalização. A ideia é que, em breve, uma pessoa com cartão Visa consiga receber uma informação sobre uma loja próxima que está comercializando produtos de forma eletrônica.

Fora os esforços tecnológicos, companhia está intensificando também suas iniciativas de educação financeira. Na visão de Teles, é importante que as grandes empresas façam esse esforço de explicar os cuidados que os empreendedores precisam ter ao realizar vendas online. “Não é só disponibilizar o marketplace, tem que ter uma educação financeira de negócios e de comportamento digital. É hora de abraçar e acolher essas pessoas”, diz o diretor.

Vitrine virtual

Nem sempre uma solução completa, com pagamento e delivery, é necessária. Alguns comerciantes precisam somente de uma maneira digital de expor os produtos que costumavam estar nas prateleiras das lojas. Pensando nisso, o Olist, startup paranaense que conecta pequenos lojistas a plataformas como Amazon, Americanas e Mercado Livre, decidiu criar uma ferramenta que funcionasse como uma vitrine virtual.

A plataforma, chamada Olist Shops, permite que qualquer pessoa cadastre gratuitamente seus produtos em uma loja virtual com URL único. Em três minutos, o lojista consegue cadastrar produtos e compartilhar o link de sua vitrine pelas redes sociais. O pagamento pode ser feito pela plataforma mais conveniente ao vendedor e ao cliente.

A empresa, que recebeu investimento de 190 milhões de reais do Softbank em outubro do ano passado, não pretende lucrar com a nova ferramenta. A ideia dos sócios é expandir a capilaridade de atuação da empresa no país e ajudar no momento de crise. "No Shops, o produto vai se manter gratuito por o maior tempo possível, queremos estar presente em várias cidades", diz Tiago Dalvi, fundador da startup.

Aos poucos, a equipe da startup adiciona novas funcionalidades ao serviço. Na semana passada, uma ferramenta para ajudar na gestão de vendas foi incorporada ao sistema, ajudando o lojista a controlar melhor o que entra e saí da loja virtual. A meta da empresa é seguir aperfeiçoando o Shops conforme as demandas dos empreendedores aparecerem.

Antecipar vendas

Para os pequenos negócios ou prestadores de serviço que não conseguem oferecer nada online, algumas startups criaram soluções para tentar antecipar vendas do futuro. Dessa forma, o consumidor pode adiantar a compra de um serviço ou produto que será consumido quando o período de isolamento terminar, como um corte de cabelo ou uma refeição em um restaurante próximo ao trabalho.

A fintech Cora, em parceria com o Apontador, Omie, NFe.io, Conube e Tegra, criou a página Compre dos Pequenos, para facilitar as transações. Pelo site, os lojistas podem se cadastrar e oferecer os cupons para clientes. Assim que a compra é confirmada, o valor integral é repassado ao lojista, sem a cobrança de nenhuma taxa extra do cliente.

A Todo Cartões, startup que opera o cartão presente de varejistas como Ri Happy, Riachuelo e Centauro, lançou uma estratégia similar. Pelo site Todos Presentes, é possível comprar um cartão que poderá ser usado em compras futuras. Em até dez dias, o comerciante recebe o repasse da compra. O único custo que ele tem é a taxa da operação de cartão de crédito.

Até agora, mais de 167 lojistas usaram o serviço. João Espíndola, presidente e fundador da empresa, diz que na primeira semana de uso, a plataforma já levantou mais de 45 mil reais em vendas. O café Funny Feelings, por exemplo, conseguiu vender na loja virtual 10 mil reais em apenas quatro horas, garantindo o dinheiro necessário para a folha de pagamento da empresa.

“A Todo Cartões não está lucrando nada com esse projeto, nosso intuito é ajudar o mercado a superar a crise”, diz Espíndola.

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