Valério Dornelles, da Tecno Logys: "O grande passo para a expansão da Tecno Logys foi dado. Não dependemos mais de terceiros para fornecer os blocos que usamos em nossas paredes" (Lia Lubambo / EXAME PME)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h43.
São Paulo - Para quem teve uma das ideias mais inovadoras do setor da construção no Brasil, o empreendedor Valério Dornelles é curiosamente pessimista a respeito do valor da propriedade intelectual: "Aqui no Brasil, é uma ilusão".
Dornelles, um engenheiro civil, fundou em 1999 a Tecno Logys, empresa que desenvolveu um pioneiro sistema de construção de paredes usando blocos de tamanhos diferentes, como um brinquedo Lego.
O que poderia ser um negócio com base na exploração do design e do método construtivo tornou-se algo diferente — uma fornecedora de paredes para grandes construtoras, como Cyrela e Camargo Corrêa. Do planejamento à compra dos materiais, do desenho dos equipamentos à logística, a Tecno Logys se encarrega de tudo.
A opção pelo serviço completo foi bem-sucedida. A empresa fechou 2013 com faturamento de 38 milhões de reais — 50% acima do ano anterior — e a projeção é de 50 milhões para este ano. Se a escolha tivesse sido pela venda dos blocos ou do design, Dornelles teme que a história pudesse ter sido diferente.
"Além dos blocos, criamos um sistema de transporte de argamassa nas obras. Tudo foi patenteado. Mesmo assim, fomos copiados por muita gente", diz ele. Dornelles conta que foi complicado lutar contra esse tipo de pirataria. "Num dos casos, só a entrega de uma notificação para o copiador levou oito meses", diz.
Para evitar que seu modelo de negócios dependesse totalmente de ideias e sistemas passíveis de ser pirateados, Dornelles levou a Tecno Logys pelo caminho da integração completa de sua cadeia produtiva — hoje, a empresa também é dona da Bloks, uma fábrica de blocos.
A Bloks foi inaugurada há um ano, em uma sociedade da Tecno Logys com o grupo GE Marchi. A cidade escolhida para erguer a fábrica foi Santa Cruz da Conceição, em São Paulo. "As cidades médias do interior paulista estão crescendo muito", afirma Dornelles. “A região é prioritária para o crescimento do negócio."
A decisão de estar presente também na ponta industrial do setor estava no radar havia algum tempo. Os blocos eram produzidos por terceiros, e o risco de desabastecimento estava sempre presente — sem os blocos, a Tecno Logys não teria o item mais importante de seu sistema, batizado de alvenaria integrada.
"O bloco foi uma grande novidade há dez anos, mas hoje é quase um padrão de mercado", diz Dornelles. "Nossa maior força é a integração, com a venda de metros quadrados de paredes."
Com investimento de 30 milhões de reais, a Bloks é o elo que faltava na cadeia. A fábrica é uma das mais modernas cerâmicas do país. Robôs fazem a carga e a descarga, e o sistema de bandejas móveis usado na secagem dos blocos é único no país, segundo Dornelles, assim como o forno-túnel de 150 metros.
A possibilidade de acelerar a inovação também foi decisiva. Depender de fornecedores para produzir novos tipos de bloco nem sempre é uma alternativa viável, diz Dornelles. "Ganhamos uma concorrência para fazer as paredes de um edifício com estrutura metálica, o que exige blocos mais leves. Se as fábricas de nossos fornecedores estão ocupadas, não temos garantia de que eles vão fabricar um novo produto só para nos atender."
Hoje, Dornelles calcula que cerca de 2% do faturamento seja investido em pesquisa e desenvolvimento. Esse valor não está apenas em laboratório. "Temos 600 funcionários trabalhando em obras", diz. "Isso é um grande campo experimental, que nos permite colocar em prática novas ideias."
Dornelles diz que ainda está aprendendo o lado industrial do negócio, e para isso a escolha dos sócios foi essencial. O grupo GE Marchi tem experiência no setor. Parte dos equipamentos da Bloks veio de uma antiga empresa do grupo, a cerâmica Maristela, desativada em 2009.
A Maristela ficava em Leme, a menos de 10 quilômetros de onde foi erguida a Bloks. Além disso, o GE Marchi é dono de uma jazida de argila nas proximidades da fábrica. Os benefícios da sociedade também foram sentidos pelo grupo GE Marchi, diz Paula Marchi de Souza, uma das sócias: "Somos uma empresa familiar, e a experiência do Valério com gestão nos ajuda a nos profssionalizar e crescer."
A companhia foi escolhida pela Odebrecht para fornecer as paredes dos edifícios da Vila dos Atletas, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ao todo, serão 500.000 metros quadrados de paredes para as 31 torres residenciais, cada uma com 17 andares.
É o maior empreendimento imobiliário do país hoje, e um volume enorme para a Tecno Logys, que entrega cerca de 750.000 metros quadrados de paredes por ano. "A expansão para o interior de São Paulo e a consolidação da presença no Rio de Janeiro devem garantir o crescimento do negócio no horizonte próximo", diz Dornelles.
Em seu primeiro ano, a Bloks respondeu por cerca de 20% do faturamento do grupo Tecno Logys, e a expectativa é que em 2015, quando se prevê que a capacidade esteja toda preenchida, a fábrica represente cerca de metade das receitas.
Está nos planos entrar no mercado de casas populares e de edifícios de menor porte (hoje, a companhia costuma fornecer para projetos de prédios de pelo menos 15 andares). Embora o foco da Bloks no momento seja a própriaTecno Logys, um caminho de expansão possível é vender para outras companhias do setor.
Com o tempo, diz Dornelles, boa parte das receitas poderá vir até da abertura de novas fábricas e parcerias regionais com pequenas olarias ou outras fábricas. "O grande passo para o crescimento da Tecno Logys foi dado com a Bloks", diz Dornelles. "Nossa prioridade agora é otimizar a operação."