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Brasileiro cria startup que está no Vale - e em 140 países

"Todos acham que empreender é muito mais difícil do que realmente é”, diz Alessio Alionço, fundador e CEO da Pipefy

Alessio Alionço, fundador da Pipefy, no CASE 2016:  “Sempre quis empreender, desde criança” (ABStartups/Reprodução)

Alessio Alionço, fundador da Pipefy, no CASE 2016: “Sempre quis empreender, desde criança” (ABStartups/Reprodução)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 26 de agosto de 2017 às 08h00.

Última atualização em 26 de agosto de 2017 às 08h00.

Planilhas esquecidas, e-mails perdidos, informações duplicadas ou desencontradas e aquele sistema de acompanhamento que você sempre esquece de preencher. Parece familiar?

Foi essa sensação de redundância e frustração com o que havia no mercado para gestão de processos que fizeram Alessio Alionço desenhar a plataforma que ele mesmo gostaria de utilizar em seus negócios.

Em idos de 2013, ele esboçou a ideia e pediu feedback direto da fonte: consultou 40 clientes em potencial, donos de negócios de pequeno e médio porte, com entre cinco e 100 funcionários.

A resposta foi entusiasmada: se aquela plataforma realmente existisse, eles pagariam. Dezessete empresas inclusive adquiriram o serviço mesmo antes de ver o protótipo funcionando. Ou seja, a ideia tinha tração.

Prestes a completar quatro anos, a Pipefy hoje oferece seu software – uma plataforma online e customizável de gestão de processos que funciona por meio de cards e checklists – para cerca de 15 mil companhias em mais de 140 países, incluindo Accenture, Telefônica, Visa, Volvo e GE.

Após ter conquistado uma vaga na aceleradora americana 500 Startups e entrado em contato com investidores estrangeiros, a startup montou um escritório no Vale do Silício, o pólo de inovação mundial.

A sede segue sendo em Curitiba, cidade em que Alessio estudou Administração na Universidade Federal do Paraná e onde pôde aproveitar o fato de que batalha pelos melhores talentos – algo crucial quando o negócio está crescendo bastante – é muito menos feroz no Brasil que nos EUA.

“Sempre quis empreender, desde criança”, explica o fundador e CEO.

Ao entrar na faculdade, resolveu colocar a vontade em prática através da JR Consultoria UFPR, empresa júnior na qual trabalhou por três anos. “Pude acompanhar de perto a realidade de dezenas de empreendedores que atendíamos com as consultorias. Isso fez com que meu sonho se tornasse bem mais tangível – e descobri que não era tão difícil como eu imaginava.”

Além da convivência cotidiana com empreendedores, Alessio também encontrou apoio e inspiração para empreender no conteúdo gratuito oferecido pela Endeavor, que ele indica para qualquer um que tenha interesse no assunto.

“Passei várias noites assistindo aos vídeos disponíveis na biblioteca virtual e também li Como Fazer uma Empresa Dar Certo Num País Incerto”, fala. “Esses conteúdos me influenciaram muito e me ajudaram a escolher empreender em vez de entrar em algum programa de trainee, como praticamente todos os meus colegas de faculdade fizeram.”

Por que a Pipefy quer ser global?

Após uma passagem por outra consultoria, onde trabalhou com fusões & aquisições e turnarounds de empresas, decidiu passar seu último ano universitário como empreendedor da acessozero, sua startup de marketplace de serviços vendida para o Apontador.com quatro anos depois, em 2012.

Após a venda, Alessio começou a planejar a Pipefy sonhando grande. “Nascemos com o objetivo de ser líder mundial no nosso segmento e nos preparados para isso desde o primeiro dia”, diz.

Literalmente desde o primeiro dia, vale dizer. Em um texto publicado no Medium, Alessio explica que, mais do que vontade de crescer, a escolha se deu por um motivo estratégico: focar apenas no mercado interno poderia simplesmente condenar a empreitada.

Uma startup bem estruturada e com dinheiro para investir pode muito bem vir do exterior para atuar no Brasil, como tantas já fizeram, e eliminar ou pelo menos dificultar muito a vida das startups locais.

Posicionar-se como um negócio pronto para fazer o mesmo – sair do Brasil para o mundo e focar em soluções globais e de qualidade –, explica Alessio, é um jeito de enfrentar esse perigo.

“De todos os seus apps instalados, quantos são nacionais? Dos top 10 aplicativos que você mais usa, quantos são nacionais? Deu pra sentir o tamanho do estrago?”, escreveu. “Quem tiver mais competência e acesso a capital para se tornar o player global será o grande vencedor.”

O sonho de criar uma gigante brasileira

Não é segredo que o Brasil ainda tenha muitos pontos de melhoria quando se trata de incentivar e auxiliar o empreendedorismo nacional.

Mesmo ciente das dificuldades, Alessio acredita que é preciso internalizar a ideia de que é possível, sim, começar algo grande aqui.

“Escalar e ser um negócio global é, antes de tudo, uma questão de ambição e vontade”, afirma. “Os brasileiros deveriam parar de tanto se criticar, criticar a política e tantos outros problemas e começar a foca em criar valor de classe mundial através da nossa criatividade, design e capacidade de colaboração.”

Sua vontade é que a Pipefy se torne um dos primeiros cases de uma gigante de tecnologia de origem brasileira – e não só porque foi preciso para sobreviver. “Nosso legado será a quantidade de empregos que iremos gerar e a influência sobre outras empresas que ainda estão por nascer.”

Hoje à frente de uma companhia com cerca de 60 funcionários, o CEO também defende a importância da buscar apoio e mentoria. “A mentoria atua como um atalho para chegar ao resultado que você quer ou precisa. Para quê cometer erros e tomar decisões ruins se você pode aprender com a experiência de outros?”

Além de mentorar outros empreendedores – ele compartilha conhecimentos através de posts sobre os desafios de empreender, como este, que trata da busca por investidores –, Alessio recorre com frequência aos seus próprios mentores, como amigos que têm seus próprios negócios e investidores.

Entre os jovens que auxilia, uma das angústias mais frequentes é a crença de que empreender é muito difícil. É algo que ele quer (muito) desmistificar.

“É mais uma barreira psicológica do que de fato real”, afirma. “Sempre falo para que a melhor fase para empreender é quando você ainda é novo. Não tem família para sustentar, anão tem apartamento financiado ou carreira para arriscar. Se tudo der errado, você tem uma super história para contar. Não se deixe seduzir nem ser dominado pelo medo da incerteza que é abrir seu negócio.”

Texto originalmente publicado no site do Na Prática.

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