Carnaval: blocos transformaram a folia de São Paulo nos últimos anos e expandiram suas atividades para além do feriado (Carlos Alkmin/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de fevereiro de 2020 às 17h00.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2020 às 17h00.
Gabriel Ribeiro não era muito de Carnaval, mas pegou gosto pela folia nas ruas do Rio. Quando teve a ideia de criar um bloco em São Paulo, pensou mais em uma ação entre amigos e conhecidos do que em criar um negócio. Com outros parceiros, organizou vaquinhas virtuais, vendeu catuaba, camisetas, canecas e tirou algum dinheiro do próprio bolso. Em 2016, o Agrada Gregos estava na rua.
Ele é um dos megablocos da cidade e costuma arrastar cerca de 600 mil pessoas em seu desfile. Assim como outros blocos de São Paulo, Ribeiro e seus sócios, Armando Saullo e Nathalia Takenobu expandiram seu projeto para além do Carnaval - e atuam como empresários, organizando festas mensais, festivais e até encontros entre possíveis patrocinadores e blocos menores.
Já no segundo ano de existência, o Agrada Gregos tinha contrato com patrocinadores e funcionava como produtora. Com o crescimento, o grupo já organizou festivais de música com o nome do bloco - o último encheu o Estádio do Canindé em dois dias. Na semana da próxima Parada do Orgulho LGBT (em junho), haverá novo festival, ainda no Canindé, mas com mais de 60 atrações.
A expertise do grupo é tão grande que eles criaram um bloco de música sertaneja, o Pinga Ni Mim, e são parceiros na produção do bloco da cantora Pabllo Vittar. Se no primeiro ano os gastos estimados com o bloco foram de R$ 7 mil, hoje, um megabloco como o Agrada Gregos (com artistas convidados e equipe contratada de segurança, apoio, imprensa etc) acaba custando de R$ 90 mil a R$ 160 mil.
Percebendo o potencial do Carnaval em São Paulo e a dificuldade que novos blocos têm de conseguir se conectar com potenciais patrocinadores, o Agrada Gregos criou o "Carna Business". "Nosso objetivo é conectar marcas e blocos e ajudá-los a se estruturar. Nós promovemos uma rodada de encontros no último mês de novembro. Foi uma oportunidade para todo mundo falar do seu bloco para marcas interessadas em patrocinar o carnaval. Já estamos pensando em um próximo encontro no mesmos moldes", disse Ribeiro.
Um dos casos mais reconhecidos de empreendedorismo para além do Carnaval é o do Acadêmicos do Baixo Augusta. O bloco começou com uma brincadeira entre amigos durante um casamento em Paraty. A partir daí, no primeiro ano, cumpria um trajeto entre duas casas noturnas - o Studio SP e o Sonique - com um público arregimentado via Facebook.
Aos dez anos de vida, o Acadêmicos costuma atrair um público que gira em torno de 1 milhão. Formado por profissionais liberais, jornalistas, publicitários, agitadores culturais e artistas, logo se transformou em um associação com sede própria. Hoje, na Casa do Baixo Augusta, são promovidos shows, ensaios de peças teatrais, exibição de filmes, lançamentos e festas. "Nossa missão é manter acesa a programação cultural paulista", disse o presidente da entidade Ale Natacci. Alê Youssef, um dos criadores do bloco, é o hoje secretário municipal de Cultura.
Já o Bloco Tarado Ni Você, que homenageia o cantor Caetano Veloso, saiu com o apoio de uma vaquinha virtual durante seus dois primeiros anos - até conseguir o patrocínio de uma marca de cerveja. Hoje, o Tarado costuma levar 100 mil para as ruas do centro de São Paulo - com uma estrutura de apoio que emprega cerca de 200 pessoas no período dos desfiles.
O Tarado também mantém uma agência de eventos fora do período carnavalesco. A agenda inclui shows no Sesc, apresentações corporativas (para empresas) e até mesmo aparições em festivais internacionais. "Carnaval não dá lucro, não vivemos só de carnaval. Cada organizador tem outros trabalhos para se manter", disse Raphaela Soares Barcalla, uma das sócias do bloco.
Já O Espetacular Bloco da Charanga do França nasceu do trabalho do músico Thiago França. Sem o gigantismo dos outros blocos, principalmente por se tratar de apresentações acústicas, a Charanga se consolidou como uma das grandes atrações do carnaval.
A utilização de instrumentos de sopro fez com que Thiago criasse uma oficina de sopro - que já formou cerca de 70 pessoas. Atualmente, as oficinas se desdobraram em aulas de trompete e percussão. "As oficinas ocorrem de maio a fevereiro, duas vezes por semana", disse França - que conta que as oficinas do Charanga custam cerca de R$ 70, mas também há bolsas para quem não pode pagar. Parte das oficinas é custeada por eventos de que a Charanga participa fora do período de carnaval.