Mario Perino (CFO), Fernando Franco (CEO) e Luciano Krebs (CTO) da Provi: quase dois milhões de reais em financiamento para qualificação profissional (Provi/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 3 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 3 de setembro de 2019 às 13h11.
O Brasil tem mais de 550 fintechs -- e o apetite continua por soluções cada vez mais nichadas. É o caso de fintechs como a Provi, que concede financiamentos para cursos de curta duração.
A startup de serviços financeiros já concedeu quase dois milhões de reais em crédito para qualificações profissionais que vão da micropigmentação de sobrancelhas até desenvolvimento web e programação. Agora, a Provi antecipou a EXAME a notícia de um aporte semente de 1,3 milhão de dólares.
O investimento semente foi liderado pelo fundo europeu Global Founders Capital (que investiu em negócios Dafiti, Facebook, LinkedIn, Slack) e completado por investidores anjo como o Fundação Estudar Alumni Partners (FEAP), grupo de ex-bolsistas da Fundação Estudar. Os recursos servirão para a Provi expandir a equipe e seu capital para financiamentos, ampliando a carteira de crédito para nove milhões de reais até o final deste ano.
A Provi foi fundada pelos empreendedores Fernando Franco (CEO), Luciano Krebs (CTO) e Mario Perino (CFO). Enquanto Krebs atuou como desenvolvedor, Franco e Perino trabalharam em bancos de investimento. “Tínhamos bastante contato com juros e víamos como empréstimos podem ajudar ou quebrar uma pessoa. Depois de tanto tempo no mercado financeiro, queria criar um negócio que mudasse a vida das pessoas”, afirma Franco.
Em busca de uma ideia de negócio, Franco e Mario pediram demissão e foram estudar sistemas de financiamento em diversos países. Na China, observaram a análise de dados não estruturados, como comportamentos de usuários no mensageiro WeChat.
A Provi nasceu usando o método, por meio de um algoritmo próprio dotado de aprendizado de máquina (machine learning). Alguns exemplos de análise são perfis em redes como GitHub e LinkedIn e testes comportamentais de impulsividade nos gastos.
“Olhamos o crédito da maneira tradicional, analisando os últimos gastos dela, mas isso tem menos importância quanto mais jovem é o tomador do financiamento. Temos de lembrar que quem pagará não é a pessoa de ontem, mas a de amanhã”, diz Franco. “A educação pode melhorar sua capacidade de pagamento, mas os grandes bancos continuam tratando da mesma forma quem toma crédito para estudar ou para viajar.”
A decisão por empreender em educação veio não só dessa ampliação da chance de parcelas quitadas, mas também de uma necessidade brasileira específica pelo financiamento de cursos de curta duração. A maioria do crédito educacional está concentrada em cursos de longa duração, como uma graduação.
“O ensino superior pode ser uma impossibilidade de tempo e dinheiro para muitos. Para algumas profissões, o curso prático pode até ser mais recomendado, como na programação. Mesmo assim, não achamos uma linha de financiamento específica para eles”, afirma o cofundador.
A Provi apostou nessa lacuna e começou a ser modelada há um ano. A fintech concedeu seu primeiro financiamento há quatro meses.
O financiamento na Provi é atrelado hoje a dez instituições de ensino, como a escola de programação Ironhack e a instituição de cursos de estética Bioderme. É preciso solicitar o crédito por meio desses locais, garantindo que os recursos sejam usados para a educação.
A Provi deposita o valor total do curso para a instituição de ensino. Em troca dessa liquidez, o local dá um desconto no curso para a fintech. A Provi, então, cobra o valor original do tomador do financiamento, mas em parcelas.
Para o tomador do financiamento, o valor não mudou em relação ao exigido pela instituição. Mas a Provi ganhou uma margem pelo desconto da instituição e também pode cobrar taxas de juros do tomador do financiamento, no caso de várias parcelas. Os juros vão de 0% a 3% ao mês, a uma média de 1% ao mês.
A resposta de crédito é feita em até 48 horas. A média de tempo de resposta é de três horas. A Provi financiou quase dois milhões de reais em crédito para uma carteira de quase 200 tomadores de financiamento. Não houve inadimplência até o momento.
A Provi tem 12 membros e está incubada no Opp, espaço de empreendedorismo da instituição financeira C6 Bank. A fintech passou pelo Programa de Empreendedorismo do Opp entre janeiro e agosto deste ano. O C6 Bank foi o primeiro investidor da Provi, com um aporte de 70 mil reais, e o programa deu acesso a especialistas e contatos que resultaram em sua atual rodada semente, de 1,3 milhão de dólares.
A Provi usará a nova injeção de capital para chegar a nove milhões de reais em crédito concedido até o fim deste ano. O primeiro passo é expandir a possibilidade de cursos de curta duração.
Além das áreas de beleza e tecnologia, a Provi entrará para o financiamento de residência médica neste mês, com um piloto. “Entendemos que a pessoa que está no quinto ou sexto ano da graduação de Medicina terá dinheiro daqui pouco tempo, mas agora não tem condição de bancar uma residência. Apostamos na sua capacidade de pagamento futura”, afirma Franco.
O segundo passo é aumentar a equipe, chegando a 18 membros em 2019. Por fim, a Provi usará os recursos para ampliar sua capacidade de empréstimo e atingir mais financiados.
Mesmo com metas tão ambiciosas, sobra tempo para colaborar com o Banco Central. A Provi apresentou um piloto ao Laboratório de Inovações Financeiros e Tecnológicas para “resolver o problema de obter crédito mais barato” e trabalha com escritórios de advocacia para colocá-lo em prática.
Os resultados devem ser vistos também até o final deste ano. Por enquanto, o negócio segue sendo financiar promessas de profissionais qualificados -- e de bons pagadores.