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“Banco dos universitários”, fintech busca nicho para bater concorrência

Empresa de pagamentos Partyou começou abrangente, mas percebeu que teria mais oportunidades atacando público específico: universitários e suas entidades

Equipe da Partyou: negócio transacionou 1,8 milhão de reais no ano passado (Partyou/Divulgação)

Equipe da Partyou: negócio transacionou 1,8 milhão de reais no ano passado (Partyou/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 24 de fevereiro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2019 às 08h00.

A concorrência não está nada fácil caso você seja uma fintech -- e a empresa de pagamentos Partyou logo percebeu que teria de se destacar de alguma forma. Em um mar de 453 startups de serviços financeiros, segundo os últimos dados do Radar FintechLab, o nicho foi a maneira encontrada para se diferenciar de outras fintechs sem ter de investir rios de dinheiro em marketing e taxas agressivas.

Em 2018, a Partyou voltou o foco de sua tecnologia de transações para o público universitário e suas entidades. A fintech atende 105 instituições do tipo e acumula 30 mil cadastros em sua plataforma, oferecendo de lojas online a maquininhas para cursos e festas universitárias.

Com 2,2 milhões de reais em investimentos captados, a Partyou pretende lançar sua conta digital para pessoas jurídicas e físicas neste ano e mais que triplicar o número de entidades atendidas. Em longo prazo, a fintech almeja abocanhar a participação dos grandes bancos nos produtos financeiros para estudantes de ensino superior.

Mudança de negócio: de todos aos universitários

A Partyou foi criada pelos empreendedores Leandro Souza, Otávio Dutra e Thais Mellone em 2016, com a ideia de montar uma empresa que facilitasse transações entre as pessoas. Existem diversos negócios no ramo, sendo o maior expoente o americano PayPal. Assim, os empreendedores tiveram de pensar qual era o diferencial do negócio durante uma aceleração na Startup Farm, na virada de 2017 para 2018.

“Tínhamos duas mil pessoas cadastradas e vimos muitos universitários. Então, decidimos ir atrás de quais problemas financeiros eles enfrentavam”, conta Dutra. Além das transações, os estudantes enfrentavam problemas com educação financeira e administração das entidades estudantis.

Pesquisas da própria Partyou mostraram que há 1.500 associações do tipo apenas no estado de São Paulo. O negócio foca hoje em soluções para elas. Em sua plataforma, por enquanto disponível apenas para desktop, é possível criar lojas virtuais para venda de produtos e ingressos. Os estudantes podem pagar tanto online, com cartão de crédito, quanto por meio uma maquininha. Esses pagamentos são processados pela Adiq, adquirente do banco Bonsucesso.

Maquininha da Partyou

Maquininha da Partyou: levando pagamentos físicos ao digital (Partyou/Divulgação)

Enquanto isso, as entidades conseguem controlar seu estoque e ter um registro do que foi comprado e quanto entrou em suas contas. “Muitas ainda dependem de dinheiro, o que gera falta de controle financeiro e problemas com segurança. Fazemos um trabalho constante de educação para a adoção dos pagamentos digitais”, afirma Dutra. Segundo uma pesquisa da agência B2, 45% dos universitários fazem pagamentos em dinheiro.

Hoje, a Partyou trabalha com 105 entidades, como atléticas da Universidade de São Paulo (USP) em cursos de Administração, Economia e Engenharias. O negócio se monetiza por meio de uma taxa de 5% nas transações online e de 2,5 a 3,5% nas maquininhas, dividida entre a Partyou e a adquirente. Em 2018, o negócio transacionou 1,8 milhão de reais e registrou 30 mil cadastros.

Expansão de serviços

Para 2019, a Partyou pretende dar um salto ambicioso: quer mais que triplicar seu número de entidades, chegando a 350 associações, e transacionar 25 milhões de reais.

O negócio já havia recebido mais de 2,13 milhões de reais em investimentos de anjos, da Startup Farm e da agência de fomento regional ao empreendedorismo Desenvolve SP entre 2016 e 2018. Resolveu, então, fazer uma nova captação este ano para bater as metas de crescimento.

Em uma campanha de equity crowdfunding pela plataforma Kria, a empresa captou 300 mil reais em cinco horas, a um valuation de 25 milhões de reais e com 139 investidores. “Mais do que o dinheiro, fizemos a campanha para atrair nossos usuários ao quadro societário da Partyou. É uma maneira de mostrar a mais investidores o engajamento que os alunos possuem com nossa marca”, diz Dutra. Para complementar o aporte, a Patyou negocia outros 1,7 milhão de reais com fundos de investimento.

O capital será usado para lançar o aplicativo da Partyou, cartões bandeirados e contas digitais para pessoas jurídicas (as entidades) e físicas (os estudantes). Por mais que pareça um banco, a fintech continuará apenas como empresa de pagamentos. Os serviços serão feitos em parceria com instituições financeiras maiores, modelo adotado por fintechs como a Neon Pagamentos, associada ao Banco Votorantim. “É um processo de desverticalização do banco. Não queremos ser como os grandes, que querem vender todos os tipos de produtos financeiros que desenvolvem, mesmo não sendo os melhores naquilo.”

Os “bancos dos millenials”

Conquistar os consumidores finais das entidades, após a Partyou ter se tornado conhecida pelos eventos universitários, é a estratégia em longo prazo da startup. Há mais de oito milhões de universitários no país e, segundo a startup, dois milhões estão no estado. Concluir o ensino superior triplica a renda do antigo estudante e a Partyou espera oferecer mais serviços para que ele continue com a marca, e não com as contas universitárias dos grandes bancos.

Construir um “banco dos millenials” é um movimento já visto lá fora. Criada em 2015, a fintech britânica Monzo se coloca como o banco do futuro, com operação totalmente online e visando principalmente os mais jovens. O banco digital já captou 211,7 milhões de libras com investidores, o equivalente a mais de um bilhão de reais na cotação atual.

O Monzo é o principal benchmark da Partyou, mas ela eventualmente terá de comprar briga com os concorrentes brasileiros semelhantes ao banco digital britânico, como o Nubank. O tempo dirá se a estratégia de conquistar universitários logo no primeiro ano da faculdade será suficiente para o concorrido mercado das fintechs.

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