Renato Ramalho (KPTL) e Alexandre Ostrowiecki (Multilaser): uso de mecanismos de incentivo da Nova Lei de Informática para criar fundos dedicados à inovação em startups (Montagem de Eduardo Frazão (Editoria de Arte/EXAME) sobre foto de Paulo Barbagli/Exame)
Leo Branco
Publicado em 29 de setembro de 2021 às 08h00.
Uma das principais fabricantes de eletroeletrônicos no país, a Multilaser pretende investir até 20 milhões de reais num fundo dedicado a expansão de startups dedicadas à inovação no serviço público — as chamadas govtechs.
O Fundo Govtech está sendo criado pela gestora KPTL, aberta por Renato Ramalho em 2004 e uma das pioneiras do venture capital no país — no portfólio da KPTL estão negócios como Colab (aplicativo de zeladoria urbana) e Magnamed (fabricante de respiradores hospitalares).
Faz também parte do fundo a Cedro Capital, gestora de recursos sediada em Brasília e com foco no estados do Centro-Oeste, Tocantins e Minas Gerais.
Nas contas de Ramalho, é o primeiro fundo da América Latina 100% dedicado ao financiamento de negócios dedicados a venda direta ou indireta para o serviço público. A captação começou em março. A Multilaser é o primeiro parceiro estratégico a colocar recursos num fundo desse tipo, mas não deve ser o único — a intenção é ir atrás de outras empresas patrocinadoras.
Para Ramalho, o passo da Multilaser é importante no momento de convencimento dos empreendedores sobre a credibilidade do fundo.
"Uma startup olha de forma diferente para um fundo ao entender quem são os investidores", diz Ramalho. Do lado do investidor, há de se levar em consideração o fator multiplicador de um aporte desse tipo. "O benefício não está limitado ao tamanho do cheque dele, mas ao tamanho do fundo. A Multilaser investe 20 milhões de reais e pode multiplicar esse valor considerando a possibilidade de poder se aproximar de uma gama selecionada de jovens com empresas promissoras."
O fundo terá dez anos de duração e, agora, terá 10 milhões de reais para aportes. Uma carta de intenção entre as partes garante outros 10 milhões de reais caso necessário.
A tese de investimento abarca dez verticais de serviços públicos: saúde, educação, segurança, habitação e urbanismo, infraestrutura e mobilidade, saneamento, meio ambiente e defesa civil, tecnologias para cidades inteligentes, temas regulatórios e, por fim, cidadania e gestão pública.
Os responsáveis pelo fundo querem manter um contato próximo ao empreendedores selecionados. A ideia não é só colocar recursos e, sim, acompanhar de perto a expansão da startup — independentemente de ter sinergias com o modelo de negócio do patrocinador. "A Multilaser é um caso interessante pois tem interesse estratégico em várias das verticais do fundo, como smart cities e segurança", diz Adriano Pitoli, head do Fundo.
"Apesar disso, a empresa elegeu a vertical de educação para o sponsor dentro do Fundo pois é uma vertical em que o Brasil ainda precisa evoluir muito e a tecnologia tem um papel-chave nessa missão."
O foco do Fundo GovTech é continuar gerando uma captação expressiva a partir dos mecanismos de incentivo da Nova Lei de Informática. Com a nova lei, as empresas do setor podem alocar cerca de metade do total de recursos que são obrigadas a investir em PD & I em FIPs (Fundos de Investimento em Participações) de empresas de base tecnológica.
Segundo Adriano Pitoli, é preciso divulgar melhor as vantagens desse mecanismo de incentivo. “Esse é um antigo pleito de todo o ecossistema de tecnologia do País e que nos aproxima das melhores práticas de incentivos à inovação que vemos nos países desenvolvidos”.
“Vemos uma certa inércia das empresas do setor para direcionarem parte dos seus programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação na direção desses mecanismos mais modernos, mas esse caminho é inexorável”. O fundo GovTech é o terceiro dedicado a empresas de base tecnológica no qual a Multilaser está investindo.
A Multilaser vive um ano especial. Avaliada em pouco mais de 9 bilhões de reais, a empresa realizou no fim de julho sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) e agora é listada em bolsa, após uma captação de 1,9 bilhão de reais na B3. Com mais de 3.000 funcionários, a companhia agora investe em sua expansão no varejo internacional, com os olhares voltados para a América Latina, Europa e África.
Para Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser, o momento é de investimentos diversificados. “Mantemos um olhar atento para oportunidades de investimento em fundos que acreditam em startups, especialmente aquelas que possam tornar a vida das pessoas melhor. Além de estimular o empreendedorismo digital, queremos ajudar a sociedade, apoiando soluções que possam ajudar o setor público a evoluir, principalmente na área de educação”, diz Ostrowiecki.
Com um portfólio de mais de 5.000 produtos, a Multilaser fabrica smartphones, notebooks, tablets, além de eletroportáteis, smartwatches e drones, itens de saúde e bem estar, beleza e perfumaria, bem como brinquedos e artigos para bebês.
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