ESG

Startup Repassa cresce vendendo roupas usadas e leva aporte de R$7,5 mi

Empresa, fundada em 2015, busca as roupas usadas na casa dos vendedores e revende pela internet. Só no segundo trimestre, o negócio cresceu mais de 60%

Tadeu Almeida, fundador da Repassa: empreendedor deixou a carreira como publicitário em busca de um negócio com mais propósito (Repassa/Divulgação)

Tadeu Almeida, fundador da Repassa: empreendedor deixou a carreira como publicitário em busca de um negócio com mais propósito (Repassa/Divulgação)

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Carolina Ingizza

Publicado em 5 de setembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 11 de setembro de 2020 às 11h14.

Foi procurando por propósito que Tadeu Almeida decidiu deixar sua carreira como publicitário para empreender. O empresário tinha sucesso na agência em que fundou, mas já não levantava da cama empolgado com o trabalho que estava executando. Em um plano um pouco megalomaníaco, como ele mesmo descreve, decidiu fundar um negócio que fosse socialmente relevante. Foi por isso que, em 2015, lançou a Repassa, uma loja online de roupas usadas. 

“Queremos aumentar o ciclo de vida das roupas e diminuir o impacto ambiental da cadeia de moda. Além disso, aproveitando a cultura solidária do brasileiro, conseguimos gerar recursos para projetos sociais”, diz Almeida. Hoje, a Repassa já soma mais de 500.000 cadastros e recebe cerca de 50.000 peças por mês para venda no site. 

Erros e acertos

Mas a startup não nasceu vendendo roupa. No primeiro ano do negócio, a empresa era uma plataforma para quem quisesse vender todo tipo de produto usado — desde panelas a vestidos. Rapidamente Almeida percebeu que precisava escolher um nicho se quisesse se destacar e decidiu focar em moda. 

Mesmo depois da mudança, a empresa não estava crescendo na velocidade que o empreendedor esperava. Foi aí que ele teve a ideia de mudar o modelo de negócio. Em vez de fazer como os outros brechós virtuais, em que o usuário tira foto e publica as peças sozinho, a Repassa decidiu assumir totalmente o trabalho de venda, buscando a peça na casa do vendedor. Isso porque a empresa notou que as peças fotografadas internamente representavam 60% das vendas, ainda que fossem só 5% do catálogo. 

Em março de 2017, foi a virada do negócio. Hoje, quem quer vender com a Repassa precisa entrar em contato com a empresa, solicitar uma “sacola do bem” e definir se quer receber o valor total das vendas ou doar uma porcentagem para uma ONG. A sacola, que custa 24,99 reais, é enviada para casa do vendedor, que precisa colocar todos os produtos lá dentro e mandar de volta para a startup. Em São Paulo, a própria empresa faz a retirada em casa. Nas cidades em que sua transportadora parceira não atua, o vendedor recebe um código dos Correios e pode postar gratuitamente seu pacote.

Depois disso, o vendedor não tem que se preocupar. A Repassa analisa as peças, fotografa, cadastra no site, faz a venda, embala e envia para o cliente. O primeiro dono da roupa recebe 60% do valor da venda na sua carteira virtual e pode usar o dinheiro para comprar no site, doar, gerar um vale compras da Malwee (que é parceira) ou sacá-lo. 

Investimento milionário

A nova estratégia deu tão certo que a empresa cresce mais de três vezes por ano desde 2017. Depois de algumas rodada de investimento anjo e seed em 2017 e 2018, a startup recebeu um cheque de 7,5 milhões de reais em março de 2020, totalizando 10 milhões de reais recebidos desde a fundação da empresa. A rodada série A foi liderada pelo fundo Redpoint eventures, que também investe na Creditas, Housi e Tembici. 

Não é a toa que a empresa tenha atraído investidores. Dentro das estratégias de sustentabilidade, a cultura do compartilhamento e reuso de produtos é uma das mais fortes. Estima-se que 70% das roupas deixem de ser usadas depois de seis meses da compra e uma das formas mais simples de evitar o desperdício é a venda para terceiros. Os hábitos dos consumidores já caminham nessa direção. Nos Estados Unidos, o mercado de roupas usadas deve passar de 24 bilhões de dólares para 51 bilhões em vendas nos próximos cinco anos, segundo a consultoria de varejo GlobalData e a empresa Thread Up. 

A onda é tão favorável que esta semana, a Enjoei, que concorre no mesmo nicho da Repassa, entrou com um pedido para abertura de ações na bolsa brasileira. Conforme apurou EXAME, a empresa pode ser avaliada em 2 bilhões de reais com a abertura de capital. 

Planos para o futuro

A captação logo no começo de março deixou a Repassa mais tranquila durante os primeiros meses de pandemia. A empresa não precisou fazer nenhuma demissão por conta da crise. A operação ficou paralisada somente por 21 dias, enquanto a startup definia como iria garantir equipamentos de segurança e transporte privado para os funcionários. 

Para os negócios, o isolamento social foi positivo. De maio a julho, o faturamento da startup foi 186% maior que no mesmo período do ano passado. Para dar conta da alta demanda, a empresa contratou mais de 20 pessoas, totalizando 113 funcionários hoje. 

O plano agora é seguir crescendo. E espaço para isso não vai faltar: este ano, a empresa mudou para uma sede oito vezes maior que a anterior, com 3.200 metros quadrados e capacidade de comportar até 500 funcionários.

A Repassa investe também em tecnologia e formas de trazer mais comodidade para seus usuários. Hoje, sua equipe está reescrevendo os códigos da plataforma para reduzir o tempo de carregamento das páginas e melhorar o algoritmo de recomendação de peças para os visitantes.

A partir de outubro, em parceria com a Malwee, a startup amplia seus pontos de coleta de sacola, expandindo para além da cidade de São Paulo. O objetivo é oferecer o mesmo nível de conforto para vendedores do Brasil todo. 

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