Ume Shimada, de 95 anos, dona da loja de chás do sítio Shimada (Flávio Florido/Sebrae/SP)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2022 às 11h00.
Última atualização em 7 de março de 2022 às 10h52.
Por Jornal de Negócios do Sebrae-SP
O depoimento abaixo é de Terezinha Shimada, 67 anos, filha de Ume Shimada que, aos 95 anos, continua à frente do Sítio Shimada – Chás Artesanais e Turismo.
“O Sítio Shimada existe desde que minha mãe, dona Ume Shimada, o herdou dos pais dela, ainda na minha infância e dos meus irmãos. Naquela época, na década de 1960, era o auge do chá preto na economia de Registro. Meus pais eram muito batalhadores, era um trabalho muito difícil, eles colhiam a camellia sinensis (planta de cuja folha se originam vários tipos de chá) e vendiam para as fábricas, que processavam o chá preto.
Meu pai nasceu no Japão e minha mãe nasceu no Brasil, é a caçula entre os irmãos dela. Além do chá, eles tinham horta, outros produtos ligados à comida oriental e vendiam para a cidade. Quando minha mãe e os irmãos herdaram o sítio, só ela manteve a parte dela, os outros lotes foram vendidos. Por muito tempo, o chazal continuou a produzir matéria-prima para fábricas, foi como nossa família se sustentava junto com a produção de lichias, que nós que começamos a plantar no Vale do Ribeira, mas depois ela arrendou o sítio e a família se mudou para São Paulo.
Retornamos há uns 15 anos e começamos a plantar novamente, vendendo para as fábricas. Em 2011, os compradores passaram a recusar e nosso chazal ficou abandonado por três anos, até que, em 2014, pela iniciativa da nossa mãe, começamos a produzir o nosso próprio chá. Na época, ela já tinha 87 anos, mas não queria perder a tradição, ficava muito triste pensando no que poderia fazer. O negócio começou com ela e um entusiasta de chás, o Tomio Makioti, que trabalhou em fábricas e entendia de máquinas, e também tinha essa preocupação de não acabar com a tradição do chá preto. Conversando entre eles, fizeram uma fábrica no sítio.
Na época era um chá diferente, a qualidade melhorou muito com o aprendizado que tivemos desde então. Quando inauguramos, nossa ideia era fazer o chá preto, processar e vender, e aconteceu que outros estudiosos de chá e sommeliers trouxeram muitas informações. Nós vamos melhorando dia a dia. Nossos diferenciais são que o chá é artesanal e há três anos temos um certificado orgânico, que valorizou muito nosso produto.
Hoje, além do Chá Preto do Sítio Shimada, temos chá verde, chá branco, lichia e alguns subprodutos, como broto de bambu. Nós temos compradores de chá para revenda, lojistas e também varejo na venda online – temos muitos clientes internacionais, consumidores finais. Tudo na venda online aprendemos com o Sebrae, hoje minha filha, meu filho e minha nora cuidam dessa parte. Nós somos em seis irmãos e todos têm uma atividade. Foi a dona Ume que começou, mas os filhos, sobrinhos e netos também gostam muito – a quinta geração da família já está envolvida.
Também fizemos vários cursos sobre turismo e, em 2018, começamos a receber turistas interessados na produção de chá. Isso alavancou muito o nosso sítio, mas com a pandemia as visitas tiveram de parar e agora estão retornando. As escolas de sommelier trazem os alunos para conhecer a plantação e também recebemos os amantes de chá. Querem saber como é produzido, visitam a roça, a fábrica, têm degustação de chá e harmonização com produtos da região.
Minha mãe é muito cativante, hoje tem 95 anos, adora conversar com os turistas. Quando ela começou aos 87, ela era muito ativa mesmo, colhia chá, participava da produção e até me deixava para trás. Atualmente, ela não consegue mais fazer o que fazia, fica vigiando de longe e de vez em quando puxa minha orelha! Ela gosta de contar como começou, e tudo foi iniciativa dela mesmo, a empreendedora é ela. O que ela me diz é para nunca deixar acabar a produção de chá, e pelo que vejo da minha família, nosso negócio tem muito futuro pela frente.”