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A saga da startup Magic Leap: US$ 2,3 bilhões, mas um óculos decepcionante

O Magic Leap One, headset que prometeu uma realidade aumentada única, não surpreendeu veículos americanos especializados. E agora?

Usuário com o Magic Leap One: startup recebeu aportes de gigantes como Alibaba e Google (Magic Leap/Divulgação)

Usuário com o Magic Leap One: startup recebeu aportes de gigantes como Alibaba e Google (Magic Leap/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 25 de agosto de 2018 às 08h00.

Última atualização em 25 de agosto de 2018 às 08h00.

São Paulo - Liberte sua mente e entre no "magiverso", um espaço sideral onde as possibilidades criativas se expandem diante dos seus olhos. Essas são as primeiras mensagens que você lê ao entrar no site da Magic Leap, a mais charmosa das startups entre o já charmoso setor da realidade aumentada e virtualCriada em 2011, a empresa ganhou 2,3 bilhões de dólares em investimentos de corporações estreladas sem lançar um produto sequer. Até este mês.

O problema é que a demora da startup em lançar um protótipo criou expectativas a que seu equipamento final não correspondeu. O primeiro headset da companhia, chamado Magic Leap One: Creator's Edition, não surpreendeu veículos americanos especializados em tecnologia. A resposta da Magic Leap, assim como no começo de sua história, está nas promessas.

Investimentos quentes...

Esse é um mercado hábil em vender sonhos: basta pensar nas simulações de esportes radicais e nos pokémons que surgem pelas ruas. A Magic Leap se posiciona como uma empresa da “computação espacial”, misturando experiências de realidade aumentada e virtual (pense em um pokémon dentro de um ginásio ou um parque também virtual).

O objetivo da Magic Leap é ir dos óculos futurísticos que só podem ser usados em ambientes fechados a aparelhos que se integram no dia a dia das pessoas. Algumas aplicações incluem apresentações de comunicação e mídia, experiências melhores no videogame e simulações médicas.

A Magic Leap foi criada em 2011 pelo empreendedor Rony Abovitz. Mas o negócio só começou a ganhar notoriedade em 2014, após assegurar um investimento de 542 milhões de dólares da gigante de tecnologia Google (que, vamos lembrar, não fez sucesso com seu similar Google Glass). Investindo pesado em marketing e na atração de desenvolvedores tentados pelo proposta revolucionária da Magic Leap, a empresa cresceu seu buzz e seu orçamento.

Hoje, possui 2,3 bilhões de dólares em aportes e se tornou o empreendimento inovador que mais recebeu investimentos de todo o estado da Flórida.

A lista de investidores é extensa, com famosos no ramo de tecnologia (as gigantes Alibaba e Google, além dos fundos Andreessen Horowitz e Qualcomm Ventures), instituições financeiras (os bancos J.P. Morgan e Morgan Stanley) e nomes menos prováveis, como o fundo soberano da Arábia Saudita (que aportou em outros gigantes americanos da tecnologia, como a Tesla de Elon Musk) e o brasileiro Grupo Globo, com direito a uma apresentação do óculos da Magic Leap em rede nacional durante a Copa do Mundo 2018.

Entre seus conselheiros e mentores estão Jack Ma, do Alibaba; Sundar Pichai, na época CEO do Google; o diretor Steven Spielberg; e Richard Taylor, fundador do premiado estúdio de efeitos visuais neozelandês Weta Workshop.

De acordo com estudo do Goldman Sachs reproduzido pelo CB Insights, o mercado de realidade aumentada e virtual pode chegar a 80 bilhões de dólares em 2025. O Citigroup estima que o número aumente para 2 trilhões de dólares em 2035. Tamanha expectativa gerou pressões na equipe do Magic Leap. Brian Wallace, marqueteiro contratado para divulgar a Magic Leap em 2014, teria dito ao veículo Wired que “se frustrou quando sentiu que tinha de vender algo que não existia” e que sabia que seus pronunciamentos não seriam compatíveis com o produto final. Abovitz, o CEO, afirmou que a equipe de marketing não estava alinhada com a cultura da empresa - e Wallace teve seu contrato de trabalho suspenso em 2016.

A Magic Leap desapareceu dos radares enquanto o HoloLens, aparelho de realidade mista da Microsoft, ganhou espaço. No final do ano passado, reapareceu com o anúncio de que seu headset finalmente tinha uma data de lançamento, e era o ano de 2018.

Fundador e CEO do Magic Leap, Rony Abovitz

Fundador e CEO do Magic Leap, Rony Abovitz (Brian Ach/Getty Images for Wired/Getty Images)

… E reviews mornas

A companhia lançou neste mês seu primeiro headset, chamado Magic Leap One: Creator’s Edition, em seis cidades americanas. O problema é que o equipamento recebeu uma avaliação apenas razoável: é uma criação ligeiramente superior ao HoloLens, óculos de realidade mista da Microsoft, lançado há dois anos.

O Magic Leap One é composto de um headset leve, feito de câmeras que monitoram movimentos e pequenos vidros direcionadores de ondas (chamados de “chips fotônicos” pela companhia). O aparelho é acompanhado de um pequeno computador vestível e um controle de mão. No momento, o Magic Leap funciona analisando o movimento da cabeça e das mãos, como a maioria dos aparelhos de realidade virtual. O controle de mão também é similar ao de um Oculos Go ou um Samsung Gear VR, ainda que seja melhor acompanhado pelas câmeras do headset.

O Magic Leap One

O Magic Leap One: óculos de realidade mista, pequeno computador vestível e controle de mão (Magic Leap/Divulgação)

Um jornalista do veículo The Verge foi testar o óculos no escritório da startup e destacou falhas marcantes, como o dinossauro projetado começar a se desmontar quando o usuário se aproxima e um homem sobrepor-se ao animal. “Há uma desconexão chocante entre os vastos recursos e as partes do produto real. Eu realmente acredito que a Magic Leap me deu um vislumbre do futuro da computação, mas poderá levar um longo tempo para chegarmos lá, e eu não tenho certeza de que a Magic Leap será a companhia a alcançá-lo primeiro."

Já o veículo americano CNBC destaca os problemas de campo de visão: você se sente como se estivesse olhando para o mundo a partir de uma janela, e pode ser difícil perceber objetos muito próximos ou muito distantes. A Magic Leap afirmou ao veículo que atualizações no hardware irão resolver tais problemas.

Para o TechCrunch, o aparelho da Magic Leap é caro - custa 2.295 dólares, ou mais de 9.000 reais - e não é o que as pessoas esperavam. “O aparelho de segunda geração pode causar mais impacto”, prevê o veículo.

Abovitz sabe dos problemas e afirma que eles serão corrigidos nas próximas atualizações - ou seja, menos ideias e mais execução. A Magic Leap já está trabalhando nas versões dois e três de seu Magic Leap, sem data de lançamento. À Wired, Abovitz comparou o desenvolvimento do Magic Leap à chegada do homem à Lua: ninguém parou qualquer dia desses, imaginou uma expedição espacial e construiu a nave Apollo 11 na primeira tentativa. Resta saber se Abovitz conseguirá, mais uma vez, apaixonar compradores e investidores do seu suposto "magiverso."

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