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A nova corrida das startups: entregar de tudo

Startups agora entregam de frutas a remédios - é um nicho de mercado que está atraindo muitos empreendedores e, principalmente, investimentos

EQUIPE DO RAPPI: a empresa colombiana recebeu um investimento de 130 milhões de reais para acelerar seu crescimento (foto/Divulgação)

EQUIPE DO RAPPI: a empresa colombiana recebeu um investimento de 130 milhões de reais para acelerar seu crescimento (foto/Divulgação)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 8 de fevereiro de 2018 às 18h51.

Última atualização em 4 de setembro de 2018 às 11h52.

O tempo em que pedir comida com poucos cliques por meio de um aplicativo era o ápice da comodidade e conveniência já ficou para trás. Startups de tecnologia agora entregam qualquer coisa que os clientes queiram receber. É um nicho de mercado que tem está atraindo muitos empreendedores e, principalmente, investimentos.

Em meados de janeiro, a colombiana Rappi, que começou a operar no Brasil em agosto de 2017, recebeu um investimento de 130 milhões de reais para acelerar seu crescimento no país e no restante da América Latina.

A empresa, que já recebeu investimentos de fundos como o Sequoia e o Redpoint, dessa vez não abre quem são os investidores. Mas o dinheiro vem para que puxe a fila de um mercado que, segundo analistas, logo deve se tornar tão aquecido como foi o do delivery de comida há poucos anos.

A proposta da Rappi é entregar de produtos de supermercado a remédios, passando por petshops e restaurantes. É possível até sacar dinheiro, num conceito chamado de hiperconveniência. Pelo aplicativo, os clientes podem escolher uma série de estabelecimentos credenciados e comprar qualquer produto pelo preço de prateleira, mais o valor do frete. Em um raio de 3 quilômetros, a entrega custa seis reais e noventa centavos e vai integralmente para o entregador. As empresas conveniadas pagam uma porcentagem das vendas para a Rappi, em um modelo parecido com o do aplicativo de delivery de comida iFood. A taxa depende do tipo de produto. Em comida, por exemplo, ela é de 27%. Diferente do iFood, que funciona apenas como um marketplace que conecta clientes a restaurantes, a Rappi é quem fornece os entregadores, num modelo mais parecido com o do UberEats.

Caso o produto não faça parte da lista de cadastrados, é possível indicar onde o entregador poderá encontrá-lo e qual a mercadoria desejada em um campo específico para isso. Nesse caso, o cliente paga uma taxa de 14% sobre o valor do pedido – limitada a 25 reais –, mais o frete de seis e noventa. É possível fazer uma assinatura mensal, chamada de Rappi Prime, que custa 38 reais e dá direito a fretes grátis ilimitado e diminui a taxa sobre o valor de produtos não cadastrados para 9%. “Embora o cliente possa pedir qualquer coisa, um já pediu um colchão, eles geralmente usam o app para pedidos rápidos, como compras do dia no mercado, comida ou coisas de escritório”, diz Bruno Nardon, responsável pela Rappi no Brasil. As entregas são feitas de carro, bicicleta ou moto, a depender do pedido.

Em todos os pedidos feitos, abre-se um chat entre o entregador, o cliente e um funcionário do suporte da própria empresa para resolver qualquer problema que venha a surgir. No caso das compras feitas em supermercados, são funcionários contratados da própria Rappi que selecionam os produtos a serem entregues e, em caso de dúvidas, podem enviar fotos para que os clientes façam a escolha. “A preocupação dos entregadores é a entrega. Justamente por isso, é melhor ter alguém dentro dos supermercados escolhendo os melhores produtos”, afirma Nardon.

No caso dos entregadores, o modelo é parecido com o Uber. Eles se cadastram, passam por um pequeno processo de aprovação e podem começar a trabalhar com o aplicativo. Os funcionários que ficam dentro dos supermercados são contratados diretamente pela companhia. Esse tipo de custo com pessoal é algo que as empresas de tecnologia sempre tentaram evitar por diversos motivos. “Esse tipo de opção pode dificultar a escalabilidade da startup. Enquanto ela é relativamente pequena, é mais fácil, mas imagina quantos funcionários serão necessários quando tiver dezenas de milhares de pedidos por dia?”, diz um executivo da área de tecnologia com conhecimento no mercado de marketplaces digitais.

Para Nardon, o crescimento possibilita que a eficiência desses funcionários aumente. “Com um volume maior de pedidos, conseguimos otimizar a jornada de trabalho dessas pessoas, melhorando a produtividade delas. O crescimento dos pedidos não é linear ao de novos funcionários”, diz.

Hoje, são cerca de 1.000 entregadores rodando – 3.000 cadastrados – e 30 funcionários que ficam dentro dos mercados escolhendo os produtos. A empresa está presente somente em São Paulo, mas os 130 milhões de investimento devem servir para que ela expanda os serviços para outras cidades do país – devem ser nove ao todo no primeiro semestre. Além do Brasil, há operações na Colômbia, o país-sede, México e, em breve, na Argentina.

Competição global

A Rappi não está sozinha nesse mercado no Brasil. Criada em Curitiba, o James Delivery está presente em três cidades – a capital paranaense, São Paulo e Balneário Camboriú (SC) – e aposta em um negócio parecido. Diferente da Rappi, no entanto, quando o cliente compra por meio do aplicativo curitibano, a taxa de serviço – de 10% do total do pedido – não está inclusa no valor do produto e é paga à parte, além do frete, que custa seis reais e noventa e nove centavos.

O James está fechando uma rodada de captação para expandir para mais cidades. As próximas devem ser Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. São 500 entregadores nas três cidades em que já atua.

As duas empresas estão num mercado cada vez mais competitivo no mundo. A espanhola Glovo, do mesmo setor, recebeu um investimento de 30 milhões de euros no final do ano passado para acelerar sua expansão – colocando, inclusive, a América Latina na mira. A plataforma já funciona no Chile e pode expandir para outros países da região em breve.

No final das contas, todas elas se inspiram na americana Postmates, que surgiu em 2011 e é avaliada em 800 milhões de dólares. Embora não esteja no melhor de sua forma – recentemente demitiu 30 funcionários na busca de atingir o equilíbrio das finanças –, o modelo desenvolvido pela startup é considerado uma boa referência para o mercado ocidental.

O foco da maioria dessas empresas é tornar-se o centro de conveniência dos consumidores, indo, aos poucos, para muito além de somente entregas. A Rappi já possibilita que os clientes contratem os entregadores por hora para realizarem outros serviços.

“Recentemente, um cliente pediu para que um entregador o acompanhasse em uma endoscopia”, conta Nardon. A empresa, em breve, deve anunciar parcerias com outros markeplaces que já existem, como de contratação de freelancers, venda de presentes ou outros.

Na linha de chegada, as empresas podem concorrer com aplicativos como o Rapiddo, da Movile, dona do iFood, que possibilita colocar créditos no celular, chamar comida e pedir um táxi, em uma parceria com a 99. O Rapiddo tenta replicar o modelo do WeChat, app usado pelos chineses para fazer de tudo – de agendar consultas médias a marcar um encontro no estilo Tinder. O Wechat é da Tencent, investidora da Movile. No fundo, todos querem ser o “concierge” dos clientes e, claro, ganhar dinheiro fazendo isso.

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