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A inveja que constrói é diferente da que destrói

Muitos empreendedores obrigam seus vendedores a ir atrás dos clientes da concorrência sem parar para pensar se é uma boa ideia

Ilustração de boneco com alfinetes, inveja (EXAME PME)

Ilustração de boneco com alfinetes, inveja (EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2014 às 06h00.

São Paulo - Lembro como se fosse hoje o dia em que ingressei oficialmente em vendas. Havia arranjado um emprego no departamento técnico de pré-vendas de uma distribuidora de softwares. Logo nas primeiras semanas, conheci, na salinha de café, um sujeito simpático e bem-vestido.

Começamos a conversar e ele me contou uma piada. Ri e contei outra de volta. Aquela situação se repetiu por uns três dias. Foi quando ele me chamou para conversar. Ele tinha uma sala exclusiva. Só então me toquei que era o gerente comercial da empresa. Recebi um convite para trabalhar com ele. Aceitei.

Logo no primeiro mês como vendedor, bati a meta com folga e recebi o triplo do meu salário anterior como técnico. Não sei como souberam, mas todos os colegas do antigo departamento começaram a me olhar diferente, de um jeito meio desagradável, como se eu fosse malvado ou culpado por eles não terem sido promovidos. Comentei com meu novo chefe. “Eles estão com inveja”, disse-me ele.

A inveja, também conhecida como olho gordo ou dor de cotovelo, é o sentimento de cobiça que surge quando queremos ter o que o outro tem. Pode ser provocada por coisas materiais, realizações ou características — o outro é mais rico, mais bem-sucedido, mais charmoso ou mais qualquer coisa. Ela pode surgir até em relação ao que os outros estão sentindo — o cara ao lado é mais feliz do que eu.

A inveja pode tornar nebulosos pensamentos e ações. Vou dar um exemplo de minha área. Muitos empreendedores empurram a equipe de vendas para os clientes da concorrência. Se o concorrente tem, por que nós não temos, certo? Se o raciocínio é esse e nada mais, trata-se de uma visão medíocre.

Quando se pensa assim, sem parar para pensar se é de fato uma boa ideia, é difícil brotar algo inteligente. É a hora em que a equipe de vendas fica mais perdida do que o Brasil na Copa do Mundo e só resta dar descontos e mais descontos, deixando a rentabilidade desabar.

O empreendedor inseguro dá bola demais para a concorrência — o que é tão danoso quanto ignorá-la. O foco deve ser o cliente. Do que ele precisa? Como podemos entregar mais valor?

Querer algo que o outro tem pode ser saudável — se essa emoção funciona como um motor de arranque para comportamentos positivos. Se alguém deseja ganhar muito dinheiro, ser prestigiado com um prêmio de vendas ou comprar um carro novo, que então arregace as mangas e vá à luta.

Isso é fazer com que a inveja trabalhe a nosso favor de forma construtiva. Caso contrário, acaba resultando somente em aflições, fofocas, mentiras, ódio e daí para pior.

Aceitar que não somos o outro e que devemos estabelecer nossos objetivos e metas com base no que acreditamos é um princípio fundamental. Devemos buscar ser o melhor que podemos ser, e não ser igual a quem julgamos melhor. Vale para vendas, para toda a empresa — e vale também para a vida.

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