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99 e Uber brigam pelo holofote. Enquanto isso, Cabify já cresceu 20 vezes

Ricardo Weder, presidente global da Cabify, falou a EXAME sobre como é empreender no Brasil - e, mais ainda, contra concorrentes de categoria peso-pesado

Ricardo Weder, da Cabify: "O Brasil tem um tamanho de mercado, e oportunidades, impressionantes" (Cabify/Divulgação)

Ricardo Weder, da Cabify: "O Brasil tem um tamanho de mercado, e oportunidades, impressionantes" (Cabify/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 11 de junho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 11 de junho de 2018 às 06h00.

São Paulo - O mercado de mobilidade urbana está cada vez mais acirrado no Brasil - o que não significa que os menores não possuam espaço para crescer. Enquanto 99 e Uber recebem investimentos de peso de nomes como o conglomerado chinês Didi Chuxing e o milionário japonês Masayoshi Son, respectivamente, a espanhola Cabify apresenta, de maneira tímida, grandes crescimentos.

Apenas no Brasil, a Cabify cresceu 20 vezes em 2017, na comparação anual, e alcançou 3 milhões de usuários. No mundo todo, o mesmo aumento foi de seis vezes e levou a startup a bater o número de 13 milhões de clientes. Além das terras brasileiras, a Cabify opera em países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, México, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana.

O que não quer dizer que o aplicativo não tenha seus próprios demônios a enfrentar. No começo deste ano, promoveu uma reestruturação mundial que cortou cerca de 10% dos seus 1,8 mil funcionários. Também vem enfrentando dificuldades para levantar investimentos.

Ricardo Weder, presidente global da Cabify, afirmou em entrevista a EXAME que a startup espanhola espera crescer quatro vezes em 2018. Para isso, focará menos em capitalizações e mais na seleção de funcionários e motoristas - e, com isso, no efeito borboleta dos bons atendimentos. “Em longo prazo, queremos nos transformar nos maiores players dos mercados onde atuamos por meio dessa estratégia.”

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

EXAME - Quais os maiores benefícios e dificuldades de empreender no Brasil?

Ricardo Weder - O Brasil tem um tamanho de mercado, e oportunidades, impressionantes. O país cresce, apesar da recessão de anos. Mais ainda, sempre busca inovar e trazer coisas novas. Os consumidores querem provar serviços e entender tecnologias, especialmente os mais jovens. Acho que essas são as maiores fortalezas para os negócios feitos no Brasil, incluindo os de mobilidade. Em outros países da América Latina, essa aceitação tecnológica é mais difícil.

Mas a dificuldade também está no tamanho do Brasil. Há uma complexidade geográfica e cultural, por conta das diversas regiões e estados. O empreendedor tem que buscar tropicalizar seus produtos e maximizar sua proposta de valor. Tivemos de aprender no Brasil como lidar com essas diferenças e gerar um serviço que o consumidor enxergue como uma solução simplificadora de sua vida. Fizemos um intenso trabalho de comunicação.

Você acha que, em comparação com outros países onde a Cabify opera, o Brasil apresentou mais dificuldades de estabelecimento por conta de burocracias e regulações?

A burocracia é bastante robusta no Brasil. Mesmo assim, desde que chegou ao Brasil, a Cabify está 100% legal. Não considero que tenha sido um impedimento na hora de encontrar a forma de operar no país. Temos tido bastante êxito nesse tempo que estamos por aqui.

As regulações com temas laborais, fiscais e trabalhistas, evidentemente, atrasam o início da operação em um país. Mas isso ocorre com todos os países da América Latina. Existem oportunidades no Brasil quanto a melhorar o processo de aberturas de empresas e incentivar o ecossistema nacional.

Apesar disso, vimos avanços regulatórios quanto à mobilidade e uma disposição de entender as mudanças no setor, escutando a voz dos empreendedores. Observamos como o tema foi avançando em diversos estados e cidades do país. Havia uma lei geral, que não contemplava normas específicas para a tecnologia e nem como todo o ecossistema estava transformando seus serviços. Era importante contar um marco que reconhecesse novas alternativas de mobilidade e não limitasse a inovação.

Mas ainda há muito a fazer, já que é uma indústria dinâmica e uma das principais variáveis em termos de qualidade de vida nas cidades.

No que ainda podemos avançar, em termos regulatórios?

A tecnologia avança mais rápido do que a capacidade do governo de gerar regulações para a mesma. É preciso entender a inovação e seus impactos. Por isso, tentamos trabalhar de mãos dadas com o governo - não só para que as empresas operem legalmente, mas para que a concorrência aumente.

Um assunto importante nas políticas públicas de tecnologia é ter essa visão de como incentivar a competição dos serviços em longo prazo, evitando práticas desleais de concorrência e monopólio. É importante para as empresas terem segurança na hora de investir no país e, com isso, sintam que possam continuar operando no futuro. Algumas cidades ainda não atendem essa nova leva de serviços, dos táxis e motoristas autônomos até as bicicletas.

Quão importante é o Brasil para a Cabify, em estratégia de expansão?

O Brasil está no top 3 dos nossos mercados. Em 2017, crescemos 20 vezes em viagens e faturamento, comparando com o ano de 2016. Um dos destaques foi o mercado corporativo, com 5.000 empresas brasileiras conosco hoje.

Já inauguramos uma nova versão do aplicativo em abril deste ano e estamos reformulando nossa proposta de valor corporativa. Ressaltaremos que ajudamos as empresas a reduzirem seus custos, ao mesmo tempo em que implementamos medidas de acompanhamento e segurança de seus funcionários ao se locomoverem.

Nossa estratégia daqui em diante é fortalecer nossa operação e lançarmos mais categorias em cidades nas quais já estamos e possuem complexidades a serem resolvidas, como Rio de Janeiro e São Paulo. Posteriormente, avaliaremos para quais novas regiões para nós faz sentido expandir.

Como a Cabify quer enfrentar a concorrência da 99 e do Uber no Brasil, que possuem muita presença no mercado e o apoio de grandes fundos internacionais?

Nosso último valuation como grupo, divulgado em dezembro do ano passado, foi de 1.4 bilhão de dólares, o que é um valor relevante. Mas está claro para nós que competimos com as duas indústrias do setor que mais levantaram capital privado, que são Uber e Didi Chuxing [99, no Brasil].

Estamos conscientes de que recursos são importantes para expandir rapidamente, mas também sabemos que a inovação, o talento, a paixão, o trabalho em grupo e a execução são ainda mais essenciais do que incentivos econômicos. Nós apostamos na empatia que temos com nossos motoristas e funcionários para elaborar a melhor comunicação de proposta de valor. É a melhor forma de nos posicionarmos no mercado e fazer com que o usuário tenha uma experiência extraordinária, o que inclui um processo rigoroso de seleção de pessoal e de fiscalização dos veículos.

Gostaria de ressaltar como temos talentos brasileiros na nossa equipe, tanto na terra natal quanto em outros países atendidos pela Cabify. Eles são fundamentais para fazermos frente a players de atuação extremamente internacionalizada.

Em longo prazo, queremos nos transformar nos maiores players dos mercados onde atuamos por meio dessa estratégia. O que não significa que também busquemos investimentos que melhorem a nossa tecnologia de plataforma.

Qual a projeção de crescimento da Cabify neste ano, no mercado brasileiro?

Evidentemente, é complicado reproduzirmos um resultado como 20 vezes. Esperamos crescer em torno de 300% nos mercados em que operamos, e aqui no Brasil isso é muito possível - e de forma sustentável.

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