Chefe grita com funcionários: há alguns indícios de má liderança que valem para a maioria das organizações (imtmphoto/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 29 de novembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 29 de novembro de 2017 às 06h00.
São Paulo – Nos últimos anos, o empreendedorismo virou a opção profissional de muita gente – especialmente diante da crise econômica e da necessidade de buscar novas fontes de renda. Alguns desses entrantes, porém, repetem uma falha conhecida nas organizações: a falta de uma boa liderança.
Esse é um problema não apenas para os funcionários, mas para o negócio como um todo. “O líder é o modelo de referência para a cultura do empreendimento. Quando eu chego em uma empresa, eu analiso a equipe e, a partir disso, a liderança. Assim, uma equipe desanimada, que não busca resultados, é resultado de uma cultura organizacional mal liderada”, afirma Lincoln Carrenho, palestrante especializado em inteligência emocional e liderança.
“O líder não é apenas um gestor. Ele mobiliza as pessoas para desafios superiores”, concorda João Roncati, diretor da consultoria People+Strategy. “Em uma organização, isso gera diferencial competitivo – algo extremamente poderoso para qualquer negócio.”
Como descobrir se você é ou não um péssimo líder? É preciso estar atento ao contexto do seu empreendimento e saber qual é a fórmula certa de liderança para ele – e se você persegue tal ideal. Mesmo assim, há alguns indícios de má liderança que valem para a maioria das organizações.
Veja, a seguir, alguns sinais de que você é um péssimo líder:
Uma primeira dica para perceber se você é ou não um péssimo líder é prestar atenção em como você guia a equipe. Perceba, por exemplo, se você mobiliza as pessoas apenas por conta de seu cargo de autoridade.
“As pessoas param para ouvir um péssimo líder apenas porque ele é o chefe, e não porque o empreendedor é visto como referência. Se você se comportar apenas como o dono, é difícil se tornar um exemplo de liderança”, recomenda Roncati.
Como reverter essa percepção? É importante que a equipe reconheça que, de fato, você merece a posição que ocupa – um conceito conhecido como “legitimidade.”
“A equipe se sente bem quando olha para o líder e se sente segura. Para isso, você tem que tomar posição e se tornar referência, além de mostrar sua preocupação com o desenvolvimento da equipe, tanto na hora de cobrar quanto de ser companheiro. Isso é que gera autoridade”, completa Carrenho.
Outro sinal de má liderança é ser reconhecido apenas pela teoria, e não pela prática. O empreendedor que vive só de definições e ordens não tem como gerar confiança por parte de seus funcionários em sua capacidade de levar a empresa para a frente.
“As pessoas devem contar com você para que a empresa supere os desafios. Você deve ser visto como um recurso valioso do negócio”, explica Roncati, da People+Strategy.
Muito se fala em inteligência emocional: um conhecimento ligado à gestão de sentimentos próprios e alheios.
Saber se liderar antes de liderar os outros, prezando pelo equilíbrio emocional e pelo bom relacionamento, deveria ser um pré-requisito para os gestores. Porém, muitos “líderes” não dominam esse tipo de inteligência.
“O empreendedor tem que entender que há momentos em que ele estará bem e outros em que não estará. Há tempos de se abrir para os funcionários e tempos de se posicionar”, enumera Carrenho. “Esse controle emocional é importante para evitar uma tensão desnecessária na empresa: quando uma equipe trabalha tensionada, opera abaixo de sua produtividade.”
Você pode ter a melhor estratégia do mundo: sem ter pessoas capacitadas para executá-la, seu negócio não irá para frente. Antes do “como” vem o “quem”, segundo Carrenho.
“É na seleção do profissional que mora o segredo, muitas vezes. Busque profissionais de alto nível: isso não é tarefa apenas do pessoal de recursos humanos, mas sua também. No fim, quem será responsabilizado pelo resultado da equipe e pelo nível da sua empresa é você”, afirma o palestrante.
A falta de comunicação é outro erro comum na hora de assumir a liderança de um negócio: muitas vezes, os empreendedores estão tão absortos nas metas do negócio que se esquecem que os funcionários são os que fazem tudo acontecer.
Para Carrenho, seu trabalho como gestor também envolve entender sua equipe como um tabuleiro de xadrez: cada funcionário tem diferentes qualidades a aprimorar e defeitos a se minimizarem para que você vença o jogo.
Como conhecê-los? Dê e receba insights, por meio de conversas sinceras. “Um bom líder usa o feedback de quem está ao seu redor para ter noção de suas práticas, boas ou ruins. Esse é o primeiro passo para desenvolver suas capacidades”, completa Roncati, da People+Strategy.
Da mesma maneira, a falta de comunicação do péssimo líder também surge em outro sinal: a falta de abertura para sugestões dos funcionários, o que incentivaria a criatividade da equipe.
“Eu costumo ver justamente o oposto: quando a equipe surge com uma ideia, os donos de negócio logo rejeitam”, afirma Carrenho.
“O péssimo líder acha que conflitos são ruins, mas diferenças de percepção podem ser positivas. Lembre-se de que ouvir o outro lado é importante para que você e as pessoas ao seu redor cresçam, junto com sua empresa.”
Os péssimos líderes também não querem dividir seu conhecimento com os membros da equipe. Eles podem temer a saída dos funcionários da empresa ou, ainda pior, achar que eles podem “estragar” o negócio ao não desempenharem bem as tarefas.
“O líder que puxa todas as responsabilidades para si e se esquece de delegar começa a ter uma grande dificuldade: a equipe desiste de tentar e se acomoda. Esse líder que não ensina não consegue multiplicar lideranças dentro da sua empresa, comprometendo o futuro do negócio”, afirma Carrenho.
Se você percebeu que suas atitudes indicam uma má liderança, já deu o primeiro passo para sua melhora: querer mudar. “Depois desse reconhecimento, é hora de acionar sua escuta ativa e descobrir onde exatamente você está falhando como líder”, afirma Roncati, da People+Strategy.
Pense em seus modelos de referência: você conhece alguém que considera um bom líder? Converse com essa pessoa e avalie a possibilidade de fazer coachings e mentorias. Caso não tenha ninguém em mente, cursar programas de desenvolvimento de liderança é outra boa opção.
Mas o mais importante, na visão de Roncati, é se envolver de fato com seus funcionários. “Participe dos desafios da empresa, gerando uma relação de confiança e cumplicidade. Esse é o primeiro passo para ser um líder melhor.”