Homem lamenta em computador: (Foto/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 30 de outubro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 30 de outubro de 2017 às 06h00.
São Paulo – Ver o negócio ao qual você se dedicou tanto chegar ao fim não é fácil para ninguém. No entanto, apesar de dolorida, a falência é com certeza um momento de grande aprendizado para o empreendedor.
Por isso, consultamos empreendedores de diversos setores para entender quais foram as principais lições que eles tiraram desse processo tão difícil.
Veja as respostas a seguir:
O empreendedor Henrique Mol é dono da rede de franquias Fórmula Pizzaria. Porém, antes Mol foi dono da Destaque Comercial, uma agência de publicidade que não deu certo e precisou fechar as portas. Para o empreendedor, a principal lição que o fracasso trouxe foi a de que um negócio precisa amadurecer.
“Uma das lições é entender que o negócio precisa ter uma maturidade. Nesse negócio de publicidade eu tentei colocar tudo do melhor. Com isso, tive um investimento alto e um custo de operação alto também, e isso dificultou a manutenção da operação. Aprendi que o negócio precisa ser pequeno um dia para depois ser grande no dia seguinte. Para ser grande ele precisa percorrer um caminho. Principalmente quando você não tem estrutura financeira ou experiência, é importante começar pequeno”, afirma.
O foco é uma característica importantíssima para quem quer empreender. E a falta dele pode levar um negócio a fechar as portas. Foi o que aconteceu com o empreendedor Celso Edgar Caparica, CEO da Qi Network, uma empresa focada em computação em nuvem.
Caparica antes tinha duas empresas, a Qi e a App Mobile, focada em aplicativos para pequenas empresas. Porém, chegou o momento em que ele percebeu que precisaria fazer uma escolha. “Muitas boas possibilidades vão surgir no caminho, principalmente quando o negócio está indo bem, e você não poderá abraçar tudo ao mesmo tempo. O aprendizado maior é: foco nos objetivos que se deseja alcançar”, afirma o empreendedor.
E completa: “Tomar a decisão de encerrar a App Mobile foi difícil, mas visualizamos que estava tirando nosso foco do negócio principal que, naquele momento, exigia todo nosso esforço. Talvez se a gente não tivesse tomado essa decisão, hoje as duas empresas teriam ficado no meio do caminho.”
O caso é parecido com o do empreendedor Isaac Azar, dono dos restaurantes Paris 6. Antes, Azar era proprietário também do restaurante Azaït, que chegou a fazer sucesso no meio gastronômico.
“Em 2007, tanto Azaït quanto Paris 6 operavam deficitariamente. Concentrar as energias em uma única marca foi a estratégia que definiu o fechamento do Azaït e resultou no posterior crescimento da própria marca Paris 6”, conta.
Iniciar um negócio sem saber como o mercado está se comportando é um erro muito comum entre empreendedores. E foi o que aconteceu com João Selarim, hoje CEO da TotalVoice, que desenvolve API de telefonia.
Tive uma empresa em 2011, a IT 4 Life, e acabamos falindo. Tivemos uma ideia e saímos desenvolvendo. Em momento algum teve alguma interação com o mercado. Gastamos uns cinco meses desenvolvendo um software de finanças pessoais sem tentar entender se o que estávamos fazendo fazia sentido. Por consequência, acabamos criando uma ferramenta instalada no Windows, enquanto nossos concorrentes iam pra web e smartphone, e encontramos muita dificuldade em emplacar vendas”, conta.
Deixar de testar o produto antes de investir uma boa quantidade de dinheiro nele é outro erro comum entre empreendedores. Foi o que aconteceu com Marco Giroto, fundador da SuperGeeks, uma escola de programação para crianças e adolescentes.
Antes, ele fundou a eBookPlus, uma plataforma que ofereceria livros eletrônicos de graça para o leitor, usando a publicidade para pagar a conta. “A empresa foi aberta no Vale do Silício, com foco no mercado de língua inglesa. Investimos 300 mil reais no desenvolvimento e no lançamento da plataforma, mas a empresa não foi bem sucedida pois esquecemos de testar e validar a ideia do negócio antes de investir todo este dinheiro”, conta.
“Conseguimos diversas empresas que queriam anunciar em nossos livros. Porém, esbarramos em um mercado avesso a inovações que é o mercado editorial. As editoras são muito tradicionais e não gostam de mudanças. O que deveríamos ter feito é criado um MVP, com diversos autores independentes e alguns anunciantes, mostrando ao mundo, e as editoras que o modelo funcionava e poderia ser rentável, e ai sim, investiríamos em uma plataforma para automatizar todo este processo. Se tivéssemos testado e validado isso antes, teríamos investido no máximo 10% do que foi investido”, completa.
Outro erro comum entre empreendedores e que pode levar ao fim de um negócio é não dar a devida atenção aos contratos e misturar questões pessoais com questões profissionais. Foi o que aconteceu com Felipe Matos, que hoje está à frente da 10milstartups.
No passado, Matos fundou a empresa GirandoWap, que acabou após problemas entre os sócios. “Na minha primeira empresa, quando fomos registrar o domínio na internet a gente ainda não tinha CNPJ e na época isso era necessário. Por isso, registramos o domínio no nome de uma empresa da mãe de um dos sócios. O tempo passou e houve um desentendimento. Como reação, o sócio tirou o app do ar e ‘sequestrou’ o domínio, pedindo resgate. Disse que era dele e que, se quiséssemos usar, a nossa empresa teria que pagar. Desde então tenho muito mais atenção com contratos e evito ao máximo misturar assuntos da empresa com questões pessoais dos sócios”, conta.
O chef e empreendedor Checho Gonzales fundou em 2009 o restaurante Aji, de inspiração peruana. Mas o negócio não deu certo. “Entendi que estava insistindo no caminho errado, tentando moldar meu negócio ao que eu achava que o mercado queria e deixando de lado o que eu sei fazer, que é cozinhar. Percebi que não me encaixava naquele modelo careta de restaurante, com custos altíssimos de aluguel (o Ají ficava no bairro dos jardins) e um público que claramente não conversava com o meu estilo de cozinha”, conta.
Para sair da situação, Gonzales decidiu mudar. “Parti para algo diferente do padrão, um formato de negócio mais despretensioso, com serviço de balcão, embalagens descartáveis, sem garçom. Com isso, foquei totalmente na cozinha e pude cobrar um valor acessível para uma comida de rua latino americana. Atualmente, em um box bem pequeno no Mercado de Pinheiros eu chego a atender 600 pessoas em um sábado”, completa.
O empreendedor Rafael Soares fundou em 2009 a Yoguland, um rede de frozen yogurt que chegou a ter mais de 50 lojas fraqueadas. No entanto, em 2012, as mudanças do mercado fizeram a busca pelo produto evaporar. “A rede não chegou a falir, mas sim morrer. Nesse momento acredito que eu tenha enfrentado o maior desafio da minha carreira: me reinventar e persistir no empreendedorismo”, afirma.
“Nesse momento é necessário ter frieza e tomar novos rumos, sejam eles mudar de setor e ir em busca de novos nichos, ou se reinventar, trazendo algo inovador e atrativo para o comércio. Para isso, é fundamental adquirir algumas práticas, como ser muito objetivo, tranquilo e ter disciplina. A mudança é difícil para qualquer pessoa, e exige persistência, comprometimento, autoconfiança e planejamento”, completa o empreendedor, que hoje é dono da rede de franquias Oven Pizza.