Estudante: quem quer ser universitário e empreendedor ao mesmo tempo deve conhecer os prós e contras dessa opção (Foto/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2016 às 06h00.
São Paulo – Muitos universitários querem abrir um negócio próprio. Esse interesse pode vir tanto de uma dificuldade para entrar no mercado de trabalho, aprofundada pela crise econômica, quanto pelo desejo de fazer diferença na sociedade. Seja pelo motivo que for, histórias de sucesso estimulam essa opção: o Buscapé, por exemplo, foi criado por três universitários.
Por outro lado, o sonho do negócio próprio é acompanhado por muitas dúvidas sobre como dar os primeiros passos sem enlouquecer. Por isso, EXAME.com consultou quem entende do assunto e reuniu conselhos específicos para quem quer acumular o título estudante com o de empreendedor.
Um ponto de partida é conhecer os prós e contras dessa opção. “Uma vantagem é estar no meio de professores e colegas que também desenvolvem atividades paralelas. Isso ajuda muito a desenvolver o negócio, por meio da troca de ideias e experiências”, explica José Balian, coordenador da Incubadora de Negócios da ESPM. “O lado negativo é ter de dividir a faculdade com o projeto de empresa, sendo que ambos exigem muita dedicação.”
Há quem prefira entrar para o dia a dia apenas após a formatura, como Bruno Bueno e Vinícius Oyama. A graduação em Engenharia da Computação na USP, que tem aulas em período integral, fez com que os empreendedores usassem essa época para fazer o planejamento do negócio. Só depois é que a Codus, desenvolvedora de sistemas personalizados para negócios, entrou em operação. “Nosso curso foi basicamente integral e o último período era o mais pesado. Sabíamos que, para fazer nosso empreendimento dar certo, precisaríamos de muito esforço na hora de executar, mais do que ter a ideia por si só”, explica Bueno.
Já o estudante Lucas Covenha consegue conciliar seu aplicativo com a faculdade. Sendo estudante de administração na ESPM, ele estudou o mercado mobile durante seu primeiro ano de curso e foi admitido na incubadora da escola. No terceiro semestre de curso, ele e os sócios Thiago Fabra (também da ESPM) e Pedro e Thiago Balducci (FAAP e Insper, respectivamente) apresentaram aos mentores o Brô, que disponibiliza anúncios na tela de espera do smartphone (aquela em que o usuário digita a senha) em troca de recompensas monetárias para o dono do aparelho. Após um ano de incubação, os empreendedores irão lançar o projeto neste semestre. Covenha está no terceiro ano de faculdade.
Você se identificou com as histórias desses estudantes? Então, confira as dicas para começar a empreender desde agora:
O primeiro passo para abrir um negócio é ter vivências – que, uma hora, virarão ideias. Por isso, seja uma pessoa inquieta.
“Visite uma feira de negócios todo mês, de setores diferentes, e troque cartões. Entre em estabelecimentos pensando como um dono de negócio, e não apenas como cliente. Se possível, fazer isso fora do Brasil também é muito importante – lugares que estão em estágios diferentes de empreendedorismo, e que tenham produtos e serviços inovadores para nós”, recomenda Balian, da Incubadora de Negócios da ESPM.
“Faça um arquivo na sua memória de informações e de relacionamentos. Uma hora, você irá juntar uma coisa na outra e terá uma sacada.”
Na mesma linha, procurar cursos e leituras fora da universidade também é importante – especialmente se seu curso não contempla conceitos de gestão. Foi o caso de Bueno e Oyama, por exemplo, que eram especialistas mais no ramo de atuação da Codus do que na própria administração de negócios.
“Eu já buscava conhecimentos de áreas além da minha quando era estagiário. Há uma fonte enorme de cursos de administração, finanças, estratégia e marketing de excelente qualidade e gratuitos. Muitas faculdades, especialmente as técnicas, podem não oferecer essa qualificação - e ela é essencial para abrir um negócio. Não confie apenas na faculdade”, explica Bueno.
Se você acha que não dará conta de cuidar da operação da sua empresa enquanto estuda, é possível usar esse tempo para refinar o seu planejamento. “Nós fizemos simulações do que seria preciso investir, qual seria a estratégia de marketing e como ficaria o fluxo de caixa no nosso primeiro ano, por exemplo”, conta Bueno. Além disso, o empreendedor recomenda sempre revisar esse planejamento, inclusive quando partir para a operação.
Usar seu tempo para refinar a empresa pode ser uma alterinativa, mas desde que o timing de lançamento do negócio não seja perdido, avisa Balian. “Se você vislumbrar uma oportunidade, seria ótimo montar o negócio o quanto antes. Não pode deixar uma oportunidade passar.”
O planejamento da sua empresa inclui também quanto tempo você pode dedicar a ela. Esse ponto é ainda mais crucial quando você está na universidade: alguns negócios não combinam com outros compromissos.
“Se você tem aula o dia inteiro, não dá certo abrir uma empresa que exija o mesmo tipo de dedicação, como um comércio, por exemplo. Porém, se for uma plataforma online, que depende mais de criação e implementação, já é algo mais possível”, afirma Bueno, da Codus. “Avalie o risco dessa falta de disponibilidade dentro do seu plano de negócios.”
Ter uma empresa enquanto se cursa a faculdade não é uma tarefa nada fácil – ambos exigem muito. “Se você não se mexer para divulgar seu empreendimento, por exemplo, ele nunca dará certo. Ao mesmo tempo, deixar de estudar não é uma opção”, resume Covenha, do Brô. “Talvez seja precisa trabalhar durante os finais de semana e nas madrugadas, por exemplo. Não é uma tarefa impossível, mas exige dedicação total.”
Nem é preciso comentar que essa é, mais do que nunca, a hora de ser objetivo e evitar procrastinações. “Faça os trabalhos da faculdade rapidamente, sem deixar tudo para a última hora. Também preste atenção nas aulas, porque isso poupa tempo de estudo depois”, diz Balian, da Incubadora de Negócios da ESPM.
Um dos maiores recursos que sua universidade oferece são seus colegas. Os empreendedores da Codus se juntaram após um projeto em grupo, por exemplo. “Tanto eu quanto o Vinícius [Oyama] já tínhamos a ideia de abrir uma empresa. Nós dois entendíamos tanto de negócios quanto de tecnologia, além de termos a mesma mentalidade e os mesmos objetivos”, diz Bueno.
Além de encontrar um sócio, ele também afirma que a faculdade foi muito importante para conhecer outros empreendedores. “Até hoje falamos com colegas que também abriram um negócio. Conversamos para trocar experiências, tirarmos dúvidas e até já fizemos projetos conjuntos.”
Lucas Covenha ressalta ainda que, dependendo do seu negócio, seus colegas são também seu público-alvo. Esse foi o caso do Brô, que é direcionado para a geração Y. “Não tenha medo de compartilhar seu projeto com seus colegas. São eles que validam a ideia, na condição de público-alvo, e que ditam como é seu mercado e como ele será no futuro”, aconselha o estudante.
Além dos colegas, conversar com os professores é outro recurso muito valioso. Bueno e Oyama aproveitaram uma matéria de empreendedorismo na faculdade para falar com os docentes. “A gente conversava sobre nossa empresa e eles apontavam o que poderia estar errado, indicando novos caminhos. Recomendo que você procure qual dos professores possui mais experiência de mercado, e menos acadêmica”, afirma Bueno.
Se a sua escola possui uma incubadora ou qualquer projeto que incentive o empreendedorismo, faça um ótimo proveito. Afinal, essa é uma oportunidade que nem todos possuem. “A incubadora ajuda a montar o plano de negócios, em todas as suas etapas. Isso minimiza a falta de experiência e de tempo do aluno, porque dá um suporte gerencial em áreas que não são a especialidade dele”, diz Balian, ele próprio coordenador de uma incubadora universitária. É o caso da startup de Covenha: a incubadora fornece um local de trabalho, consultorias gratuitas de professores da faculdade e contato com outras empresas estudantis.
Além disso, o empreendedor do Brô também recomenda conversar com entidades como o Diretório Acadêmico, a Atlética e a Empresa Júnior do seu curso. “Eles podem funcionar como um meio de comunicação da sua ideia para outros alunos, pensando que eles são o público-alvo do seu negócio ou empreendedores como você.”