Microfranquias: número de candidatos para franquias de investimento de até 90.000 reais subiu 40% com a crise (Kathrin Ziegler/Getty Images for National Geographic Magazine)
Carolina Ingizza
Publicado em 7 de julho de 2020 às 09h18.
Última atualização em 7 de julho de 2020 às 09h59.
A pandemia de coronavírus, que já matou mais de 65.000 brasileiros, provocou uma crise econômica sem precedentes no país. Em momentos como esse, por necessidade, uma parte da população decide começar um negócio próprio. Para empreendedores iniciantes, as microfranquias, que custam até 90.000 reais, são atrativas. Elas se destacam por seu custo relativamente baixo e pela possibilidade de suporte que as franqueadoras oferecem.
Uma pesquisa realizada pela consultoria Praxis Business entre os dias 25 de maio e 8 de junho sobre a Gestão de Crise no Franchising mostra que o número de candidatos a novos franqueados aumentou para 40% das microfranquias consultadas nos últimos meses. Tudo por causa da pandemia.
Segundo André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias, de modo geral, se tornam opções interessantes no momento atual, tanto para as pessoas que perderam empregos quanto para aquelas que estavam habituadas a investir suas reservas em investimentos de renda fixa. “No caso das franquias home based, elas soam ainda mais interessantes, já que agora as pessoas se adaptaram a trabalhar de casa”, diz o presidente da associação.
Apesar do investimento inicial menor, os especialistas alertam que o cuidado na hora da compra deve ser o mesmo que seria adotado em uma compra de franquia maior. “Não é porque é microfranquia que o suporte é menor — o candidato a franqueado precisa avaliar se a franqueadora oferece suporte que lhe ajudará no desenvolvimento do negócio”, diz Lyana Bittencourt, diretora do Grupo Bittencourt, consultoria em franchising.
Para ajudar quem está pensando em investir em uma microfranquia para ser gerida de casa, EXAME conversou com especialistas no setor e reuniu algumas dicas dos cuidados que precisam ser tomados antes de realizar o investimento. Confira abaixo:
Gerir um negócio de casa não é fácil. Sem o ponto comercial para atrair clientes ou funcionários, o empreendedor precisa ser muito mais ativo na hora de vender o serviço ou produto disponibilizado pela marca. Entender se esse é o seu perfil é importante antes de investir em um negócio pelos próximos anos. “Tem que ser uma pessoa que joga em todas as áreas do campo, que é bem disciplinada, resiliente e que se automotive, com uma veia comercial muito forte”, diz Friedheim, da ABF.
Não vale a pena investir em um negócio simplesmente pelo custo baixo. Construir uma franquia exige dedicação, então procure oportunidades primeiro em segmentos que te atraiam. Adir Ribeiro, fundador da consultoria Praxis Business, recomenda que o candidato entre em contato com pelo menos quatro franquias do setor, usando as informações disponíveis em portais como o da ABF. Ao fazer o contato digital com as franqueadoras, o consultor indica que se faça reuniões por vídeo, para que haja uma proximidade maior entre candidato e franqueador.
O ideal na hora de investir em uma franquia seria conhecer a sede da franqueadora. Em um momento em que as visitas são restritas, o candidato precisa usar outras formas para verificar a credibilidade da rede. Marcelo Cherto, fundador da consultoria em franchising Grupo Cherto, indica que se busque o maior número de informações possíveis sobre a marca e seus administradores. Nesse contexto, segundo o consultor, marcas reconhecidas levam vantagem. “A marca pode até ser iniciante, mas investigue se por trás dela há um grupo grande ou um empresário conhecido. É preciso redobrar os cuidados em um momento de pesquisa à distância”, diz o consultor.
Outro ponto de atenção antes de comprar uma franquia sem sair de casa é a infraestrutura doméstica. Para além do momento atual, em que boa parte dos trabalhos estão sendo feitos de casa, o empreendedor precisa se perguntar se quer e consegue trabalhar em um modelo de home office pelos próximos anos. “As atividades que precisam ser desempenhadas podem ser feitas no seu ambiente doméstico? É preciso muita disciplina para trabalhar em casa”, diz Marcelo Cherto. Adir Ribeiro também recomenda que o candidato questione a franqueadora quanto aos equipamentos que precisa ter para viabilizar o negócio.
“A pandemia não muda, em nenhuma hipótese, o fato de que o candidato precisa entrar em contato com outros franqueados para entender o suporte que a franqueadora dá. Ser um negócio home based não muda isso”, diz Lyana Bittencourt. Conversar com pessoas que já investiram no negócio é sempre uma boa forma de ter referências sobre os problemas e as vantagens da rede. Quanto mais pessoas puder conversar, melhor. Cherto recomenda que os candidatos perguntem aos franqueados o que eles fariam de diferente se pudessem voltar ao dia anterior ao da assinatura do contrato. “Que exigências fariam que não fizeram na época? É um bom método para conseguir informações”, diz o consultor.
O candidato precisa, além de encontrar um negócio que o atraia, verificar se na sua região de atuação há demanda para aquele produto ou serviço. Bittencourt diz que em geral as próprias franqueadoras oferecem estudos de mapeamento de mercado, mas caso não esteja disponível, o empreendedor pode realizar uma pesquisa com a vizinhança para entender melhor a região em que vai implementar o negócio.
É importante, antes de assinar o contrato, saber todos os investimentos que precisarão ser feitos e quais as obrigações contratuais. Ribeiro afirma que os candidatos não podem ter vergonha de fazer perguntas sobre o modelo de negócio. “Como funciona o fluxo de dinheiro da franquia? É importante saber quem paga quem e quanto”, diz o consultor. Já Bittencourt alerta para o fato de que a retomada da economia será mais lenta, então é preciso que as franqueadoras tenham os demonstrativos de resultados considerando um cenário conservador. Ela recomenda ainda que os candidatos chequem se os números correspondem a demanda deste ano. “A franquia pode ajudar muito em um período de crise se for bem avaliada. Só não é garantia de sucesso na saída”, afirma consultora.