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6 lições que empreendedores podem aprender com atletas vencedores

Dar o pontapé inicial em uma empresa é um desafio tão grande quanto se tornar um grande jogador. Muitos tentam, mas só um será o Neymar.

Neymar Jr: O que empreendedores podem aprender com ele? (Christian Hartmann/Reuters)

Neymar Jr: O que empreendedores podem aprender com ele? (Christian Hartmann/Reuters)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 10 de março de 2018 às 08h00.

Última atualização em 10 de março de 2018 às 08h00.

Dar o pontapé inicial em uma empresa é um desafio tão grande quanto passar na peneira para ingressar no time de base de um grande clube de futebol. Muitos tentam, mas só um, ninguém mais, será o Neymar. Cuidar da carreira de um jogador é como levar uma startup ao seleto clube dos unicórnios.

Não é fácil.

Começar no Santos e chegar ao auge sendo disputado por dois dos maiores clubes da Europa e do mundo não é pra qualquer um. Abrir um negócio na garagem de casa e transformá-lo num estrondoso sucesso mundial como, a título de comparação, o Whatsapp, também não.

Neymar começou no time da Vila Belmiro em 2009. O Whatsapp fez sua estreia nos celulares no mesmo ano. Em 2011, o Barcelona arrematou o passe do craque por, segundo o clube, 17,1 milhões de euros (as investigações depois sobre a transação elevaram o suposto valor para 57 milhões de euros). Em 2014, o Facebook comprou o aplicativo de mensagens por 19 bilhões de dólares. No ano passado, o Paris Saint-Germain pagou a multa de 222 milhões de euros para transferir o ponta-esquerda de Barcelona para capital francesa.

As cifras milionárias, no caso de Neymar, e bilionárias, na aquisição do Whatsapp, têm em comum a dura realidade empreendedora para conquistá-las. Para se tornar um artilheiro e um dos jogadores mais admirados do planeta é preciso acordar cedo, vestir a camisa, treinar muito, ser obstinado, ter paixão pelo que faz, tomar muita rasteira, se levantar, acreditar, correr atrás do objetivo, contar com o apoio do time e da torcida, jamais desperdiçar as melhores jogadas e nunca, em hipótese alguma, desistir.

Alguma diferença aí com sua rotina, caro empreendedor?

De olho nos dois mundos, vem ganhando força nos últimos anos a oportunidade de unir a experiência dentro das 4 linhas com o ecossistema empreendedor transformando jogadores em investidores. A ideia é aproximar o aprendizado da vida esportiva ao campo dos negócios.

E a jogada vem dando certo.

Com um tempo médio de carreira de 10 a 15 anos, um astro do futebol acumula um patrimônio invejável, mas o final da história de muitos é conhecido – como se aposentam muito cedo e não fazem uma boa administração das boladas que recebem, terminam por queimar todo dinheiro sem pensar no amanhã. Pedro Boesel, sócio da XP Investimentos e piloto de Stock Car, indica que por volta de 50% deles entram em falência três anos depois de encerrar a carreira; 80% após cinco anos.

Construir uma nova vida empreendedora como mentor e anjo de startups vem se mostrando um caminho atrativo para muitos atletas que sabem o valor não só do capital, mas do prestígio que podem emprestar para ajudar a acelerar novos negócios.

Quando são revelados, os jogadores são apoiados por empresários (nem sempre do ramo do futebol) que investem e os orientam para construir suas carreiras até chegar a um grande clube. Depois que penduram as chuteiras, investir em startups é uma forma de fechar o ciclo, ajudando novos empreendedores com o capital acumulado com, literalmente, muito suor.

Assim como alguém apoiou seu talento lá atrás para que pudesse se tornar um grande atleta, seja comprando chuteiras, pagando o transporte ou ajudando a família, após encerrar a jornada esportiva chega a hora de devolver ao mercado parte do que conquistaram nos gramados, criando novos negócios, impulsionando a economia e gerando empregos. Antes investidos, agora são investidores.

O basquete americano está repleto de ex-jogadores fazendo cestas de três pontos em empresas nascentes de tecnologia. Kevin Durant, ídolo do Golden State Warriors e terceiro maior salário anual da NBA (R$ 190 milhões, incluindo patrocínios), tem um portfólio nada modesto de investimentos em startups digitais que incluem empresas como a Postmates e a Acorns.

Durant e Andre Iguodala, outra estrela milionária do Golden, construíram um estreito relacionamento com VCs, principalmente com Andreessen Horowitz, que os apresentou várias startups. Iguodala já armou jogadas com empresas como a TrumidThrive GlobalWalker & Company e The Player’s Tribune.

A lista de investidores bons de cesta segue e é grande – LeBron James, Stephen Curry, Magic Johnson, Shaquille O’Neal; todos estes e muitos outros estão destinando parte da fortuna para comprar ações de empresas de tecnologia e participações em startups. Em outros esportes, a tenista Serena Williams, o jogador David Beckham e vários outros atletas engrossam o time de atletas-anjos.

Por aqui, atletas brasileiros também já começaram a despertar para oportunidades de investimento em startups. O pentacampeão Edmílson anunciou no final do ano passado o Campeão, Programa Inteligente. A startup conecta consumidores com empresas parceiras do programa de fidelização. Ao invés de acumular pontos, os consumidores recebem de volta parte do valor da compra (cashback). O atacante Alexandre Pato investiu no Soccer-1, aplicativo que ensina os princípios básicos do futebol para treinar crianças e adolescentes.

Empreendedores têm muito a aprender com os atletas. A plataforma de crowdfunding ReadyFundGo listou seis ensinamentos do mundo esportivo que são inspiradores para quem não quer sair de campo derrotado.

Faço minha contribuição com a visão de quem tem dois sócios ex-jogadores profissionais de grandes clubes – Alex Dias, que jogou em times como São Paulo, Cruzeiro, Vasco, Fluminense, Saint-Ettiene e Paris Saint-Germain, e Roberto Gomes, que atuou, entre outros times, no Atlético Paranaense, Atlético Mineiro, Goiás e Atlético Goainiense -, somada com minha experiência como um ex-integrante da Tropa de Elite do Exército Brasileiro que também trouxe muito aprendizado da vida militar ao mundo dos negócios (leia meu outro artigo – 10 Táticas Militares para Vencer a Guerra Empreendedora).

1.   Mantenha o foco

Para chegar no ataque e marcar gol é preciso saber como alcançar seu objetivo. Com um time pequeno e um caixa magrinho, é fundamental planejar e não cair na tentação de tentar resolver tudo ao mesmo tempo ou se concentrar apenas no desenvolvimento do produto. Cuide do físico e da mente, controle as emoções, esteja pronto para as jogadas do adversário e nunca esqueça que o gol é sua meta. Foque.

2.   Escolha o que não fazer mais do que o que deve fazer

É essencial identificar quais os talentos e potencialidades seus e do seu time. Saber dizer não é tão importante quanto saber dizer sim. Estabeleça prioridades e deixe claro aos atletas qual o papel de cada um para a jogada ensaiada dar certo. Lembre-se que em um novo negócio menos pode significar mais.

3.   Confiança, autoconfiança e resiliência

Esta é sine qua non. Se você não acredita no seu projeto, não crê em si mesmo e joga a toalha antes mesmo de entrar no octógono é melhor desistir da luta empreendedora. Ela é dura, não tenha dúvida. E somente os mais fortes, persistentes, confiantes e resistentes conquistarão a medalha de ouro. Só chega em primeiro quem tem fé cega no seu taco.

4.   Otimize e gerencie sua energia

Para ser um atleta de ponta é preciso ter muita disciplina. Ter uma vida saudável e regrada, praticar exercícios, dormir bem, beber água, ter uma boa alimentação e saber a hora de tirar um tempo para respirar são uma receita da qual um empreendedor também não deve abrir mão. Sua vida no escritório não pode ser uma esgotante maratona. Lembre-se sempre que você, o técnico, e seus executivos, os atletas, são os principais ativos do negócio. Sem vocês não tem time, não tem jogo.

5.   Curiosidade, aprendizado constante e autorreflexão

Em um mundo em frenética e constante transformação, vence o empreendedor que lidera tendências e não o que copia modelos inovadores. Estude muito. Sempre. Mantenha você e seus atletas conectados com a bola que está rolando dentro e fora de campo. Estude o time adversário. Faça benchmarking. Aprenda a jogar em várias posições e esteja sempre pronto para mudar a si mesmo ou algum dos seus atletas de função. Implante uma cultura de autorreflexão para que todas compartilhem suas experiências, positivas ou negativas, e aprendam com seus erros.

6.   Falhar é parte da jornada de sucesso

Tão importante quanto ser curioso e um eterno aprendiz é estar pronto, preparado para errar. Um atleta só consegue subir a barra depois de tentar um salto mais alto. É assim também na arena dos negócios. Tentar sempre. Desistir jamais. Vergonhoso é ter medo de arriscar e perder o jogo por WO.

E então? Pronto pra entrar em campo e suar a camisa?

* Lima Santos é CEO da 5xmais Holding Business, empresa de investimento em startups, e ex-integrante da Tropa de Elite do Exército Brasileiro

Texto originalmente publicado no Startupi

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