MP sugere mudanças no trabalho dos profissionais de saúde (Megaflopp/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 12 de maio de 2018 às 07h00.
Última atualização em 12 de maio de 2018 às 17h22.
Foi-se o tempo em que para atuar no setor da saúde era necessário ser formado em algum dos cursos tradicionais ligados à área. Atualmente, é possível empreender na saúde e trazer inovações que impactem positivamente o setor. O que vem à calhar em um país com um sistema único de saúde que não atende a todos e no qual menos de 25% da população tem acesso a planos privados.
“O mercado de startups na área da saúde vem crescendo e podemos ver um aumento de interesse e movimentos de instituições”, diz Gilberto Takata, empresário criador da Predict.Vision, que tem 20 anos de atuação internacional em tecnologia. Ele cita a incubadora Eretz.bio do Hospital Israelita Albert Einstein, os programas Bem-Startup da Unimed Porto Alegre e InovaSabin do laboratório Sabin como exemplos das organizações que atualmente oferecem apoio.
Gilberto considera “essencial” esse tipo de suporte por ser uma área de “difícil acesso” a empreendedores que não possuem conexões e também porque não existem políticas públicas para incentivo a essas iniciativas. No Canadá, onde o empresário vive, por exemplo, o sistema de saúde pública abrange toda a população. Por isso, “o governo tem total interesse no surgimento de soluções inovadoras que ajudem a baixar os custos e melhorar a vida dos pacientes”.
Por isso, há espaço no Brasil para empreender na saúde e uma das possibilidades é a criação de healthtechs (Health de “saúde” em inglês e tech, abreviação de technology) – startups que aliam tecnologia para fornecer serviços inovadores. Conheça cinco healthtechs para se inspirar e entender como os avanços tecnológicos podem ser aplicados no setor – com os mais variados focos de atuação.
A startup Predict Vision, fundada por Gilberto, desenvolve uma plataforma de inteligência artificial (AI) para diagnósticos de imagens médicas, que pode servir como suporte ao radiologista. O objetivo: “tentar simular exatamente o que o médico ‘vê’ e como ele pensa para detectar a doença”, explica ele.
Assim, o computador diminui a dependência do diagnóstico no conhecimento individual do especialista. “Hoje nós trabalhamos na área da oftalmologia onde analisamos a retina para detecção de retinopatia diabética e outras doenças relacionadas ao olho. Também desenvolvemos modelos na área da oncologia como mamografia e câncer do pulmão e neuro”, conta.
O serviço de criação de “modelos cognitivos” da Predict Vision é direcionado para médicos, operadoras de plano de saúde, laboratórios, hospitais e empresas farmacêuticas.
Idealizada em 2015, a MedRoom soma tecnologia de realidade virtual (VR, do inglês “virtual reality”) e estratégias de gamificação no treinamento de estudantes e profissionais da saúde.
Segundo Vinícius Gusmão, cofundador e CEO, o propósito não é substituir os recursos existentes. “Todo nosso trabalho é focado no abismo que existe entre as aulas teóricas e práticas, oferecendo ferramentas para tornar essa transição mais eficiente e confortável”, explica.
Seu sócio, Sandro Nhaia, pôde observar as dificuldades do ensino a estudantes de saúde quando trabalhava no projeto da Faculdade de Medicina da USP “Homem Virtual” – vídeos produzidos por computação gráfica tridimensional que retratam o funcionamento do corpo, utilizados para aprendizado de anatomia, fisiologia e fisiopatologia.
Com o lançamento do Oculus Rift, viu a VR como um recurso poderoso que poderia oferecer possibilidade de visualização e interação aos alunos. Seu grande trunfo: “ela permite reconstruir cenários que seriam inviáveis na realidade”, diz Vinícius.
Sendo um campo em que a margem de erro é pequena, os fundadores viram na construção do MVP (Minimum Viable Product, em português “Produto Mínimo Viável”) seu maior desafio. “Estamos lidando com assuntos complicados, que colocam vidas em risco, então é natural que se exijam validações, adequação à regulamentação etc.”, conta.
A healthtech vem acumulando experiência para lançar seu produto principal, o laboratório de anatomia e fisiologia em realidade virtual. Ainda em fase de desenvolvimento, o ‘Lab’ já rendeu contratos fechados com a Unigran, em Dourados (MS) e com a faculdade do hospital Albert Einstein.
Possibilidade de aconselhar-se com especialistas em saúde mental remotamente é o serviço do Zenklub. Além das consultas em vídeo, o cadastro e pagamento são feitos de forma online.
Para um de seus fundadores, o médico Rui Brandão, esses não são os únicos diferenciais do serviço. Segundo ele, a plataforma também ajuda a identificar que tipo de profissional é o mais adequado para cada pessoa e situação. Entre a gama de especialidades disponíveis no site da healthtech estão terapia, coaching, mindfulness e psicologia.
Criado há dois anos, o Zenklub viabilizou a primeira consulta em agosto de 2016. “Hoje temos 120 especialistas fazendo 1500 consultas por mês”, conta Rui.
O empreendedor considera que a tecnologia vá conquistar espaço definitivo na área da saúde – e isso é bom para os dois lados, diz ele.
“Hoje o sistema de saúde é reativo à doença. Você está doente, vai procurar ajuda. Você está saudável, não faz check-up, não faz nada. Agregando dados e facilitando a comunicação, não só o sistema começa a ser preditivo sobre a saúde da pessoa, mas também a experiência do cliente se torna muito melhor.”
Em 2013, os sócios Michael Kapps e Juliano Froehner fundaram a TNH Health, que utiliza chatbots(programas que simulam conversações) para “engajar e educar as pessoas em saúde”. Segundo Michael, pelo menos 120 mil pessoas interagiram com os chatbots só no primeiro semestre de 2018.
A iniciativa atua em duas vertentes. Funciona com organizações particulares – onde age “com foco em ações de medicina preventiva para reduzir custos de saúde e melhorar a experiência de pacientes, além de aumentar a eficiência na operação como um todo”, – e também com farmacêuticas que buscam melhorar relacionamento com pacientes e hospitais.
Com organizações governamentais, a segunda vertente, a TNH Health acompanha gestantes, pacientes crônicos e apoia o combate à doenças endêmicas e de veiculação hídrica. “Em Marechal Deodoro (AL), nossos robôs para doenças de veiculação hídrica identificaram mais de 30 casos de risco, sendo que 6 deles tiveram a confirmação de leptospirose e puderam ser atendidos”, conta Michael. Além do nordeste, a startup tem projetos no sul e sudeste do país.
A possibilidade de entendimento sobre a saúde populacional proporciona identificação de dúvidas gerais e tomada de decisões mais estratégicas. “Além da metrificação do andamento do projeto e a mensuração de forma periódica do impacto gerado nos projetos implementados”, completa o CEO.
A N2B, plataforma que oferece acompanhamento nutricional, também busca aliar tecnologia a um serviço de caráter preventivo, o que consiste em seu “principal desafio”, segundo o CEO, Cesar Terrin. “Prevenir não é o forte do ser humano”, explica.
Com início em abril de 2017, hoje a startup conta com cerca de mil usuários pagantes. “Para garantir os resultados que temos alcançado, trabalhamos diariamente para aumentar o engajamento [deles] dentro da plataforma”, explica Cesar.
Como o público alvo são empresas, seu nome vem de um trocadilho com o termo B2B (business-to-business): N2B, de nutrition-to-business.
A ideia de “prevenção” por meio da nutrição nasceu de um “dor real do mercado”. Ex-proprietários de uma corretora de seguros, os fundadores da N2B (entre eles, Cesar) perceberam “que o aumento constante dos reajustes dos planos e saúde não era sustentável”.
Decidiram, então, estudar “a origem das doenças que levavam as pessoas ao pronto socorro (enxaqueca, gastrite) e que também se tornavam crônicas (hipertensão, diabetes)”. O resultado apontou que a piora da qualidade da alimentação era o fator principal, segundo o CEO.
Na prática, por meio do aplicativo da healthtech, o cliente tem acesso a cardápios de acordo com seu objetivo e linha nutricional, tem suas refeições avaliadas e pode consultar nutricionistas através do chat ou escaneando algum produto para avaliação.
*Texto originalmente publicado no Na Prática.