Dinheiro na mão: diante de altas taxas de juros, procurar investimentos alternativos pode ser uma saída (Rawpixel Ltd/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 15 de outubro de 2015 às 11h48.
São Paulo – Quando o negócio precisa de dinheiro, ir ao banco e pegar um empréstimo costuma ser a primeira alternativa dos empreendedores. Diante das altas taxas de juros desses financiamentos, procurar alternativas se torna um movimento necessário para quem quer abrir ou manter um empreendimento de forma mais sustentável.
Isso é especialmente importante durante uma época de contenção, em que as instituições financeiras pensam duas vezes antes de conceder um financiamento. “Se antes um projeto meia-boca passava, agora ele precisa ser bom para ser aprovado. A régua subiu”, afirma Gustavo Marques, gerente de acesso aos mercados e serviços financeiros do Sebrae de São Paulo.
Por isso, lembre-se: qualquer investimento no seu negócio pede um certo nível de maturidade empresarial. “A maior dificuldade é o empreendedor saber dizer em que área irá aplicar esse dinheiro. Essa falta de preparo dificulta a concessão de crédito”, alerta o consultor. “É preciso dar segurança na hora de negociar com um investidor. Para isso, procure ter três elementos: boa gestão, governança estruturada e demonstração financeira já auditada”, completa Rafael Mingone, sócio-diretor da consultoria em governança TMG Estratégia.
Para Mingone, mesmo se o empreendedor preferir continuar com os empréstimos bancários, essa apresentação o ajudará a negociar taxas de juros reduzidas. Uma opção também dentro dos bancos é procurar linhas de crédito voltadas para as PMEs, recomenda Marques.
Mas como escolher entre tantos tipos de investimento disponíveis, dos bancos aos acionistas? Primeiro, olhe para o estágio em que seu empreendimento se encontra. “No início, quando o risco é o maior possível, quem empresta são os amigos e a família. À medida que a empresa vai se consolidando, começam a surgir opções”, explica Bento Costa, docente do Ibmec do Distrito Federal.
O professor ressalta também que é necessário estar regularizado para ter acesso aos financiamentos, especialmente os de órgãos públicos. Viver na informalidade e perder essas oportunidades é um erro que pode acabar com as contas do seu negócio.
Veja, a seguir, como funcionam cinco alternativas de investimentos para empreendedores:
Os investidores-anjo geralmente procuram as startups que ainda estão em estágio inicial. Eles, como pessoa física, investem seu próprio capital no empreendimento. Porém, o diferencial desse aporte é a contribuição intelectual do investidor.
“Não é só uma questão de investimento financeiro, e sim de haver um processo de colaboração junto ao negócio. O investidor empresta toda sua experiência, e aumenta a possibilidade de a empresa se desenvolver”, explica Camila Farani, do Mulheres Investidoras Anjo (MIA).
Esse parceiro empresarial pode tanto chegar imediatamente com uma participação acionária na empresa quanto negociar com o empreendedor uma entrada futura no negócio, por meio de uma dívida conversível.
Por meio do crowdfunding, um negócio pode criar uma página na internet apresentando a empresa e atrair doadores. Em troca, o negócio pode oferecer condições especiais e brindes aos contribuintes, por exemplo (veja três exemplos de empreendedores que apostaram nessa estratégia). Para Greg Kelly, sócio-fundador da plataforma de equity crowdfunding EqSeed, esse tipo de investimento é voltado para empresas em estágio mais inicial, que estão procurando testar seu produto ou conseguir uma divulgação maior do projeto.
Quando sua empresa já tem um mínimo produto viável (o chamado MVP), está inserida no mercado e busca crescimento, uma opção para captar investimentos é o equity crowdfunding. A forma de campanha é parecida com a de um crowdfunding usual, mas os investidores recebem mais do que brindes: uma participação societária correspondente ao valor investido. “Em um banco, o empreendedor pega um empréstimo e paga juros todo mês. No equity, não há juros e todo o valor é reinvestido no crescimento da empresa”, afirma Kelly, que também é diretor da Associação Brasileira de Equity Crowdfunding.
No momento, explica, as plataformas que trabalham com esse tipo de investimento estão aproveitando uma exceção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que permite ofertas para sociedades limitadas e com faturamento até 3,6 milhões de reais no ano. “Na EqSeed, temos que pedir a autorização da CVM antes de publicar qualquer oferta. O órgão irá publicar até o fim do ano uma consulta sobre o assunto e a regulamentação específica sairá no ano que vem”, explica.
Quando a empresa já saiu do plano das ideias e está operando, é possível receber aportes de fundos de investimento. Nessas organizações, empresários investem em uma gestora de capitais, que irá aportar em diversos negócios (como a sua empresa).
Esse é um tipo de investidor mais passivo do que o anjo, afirma Camila. Ele é mais preocupado com o retorno financeiro e costuma estar mais distanciado da operação do que um anjo, já que as operações estão na mão da gestora de capitais. Ao mesmo tempo, o valor do investimento é bem maior.
Os dois principais tipos de fundos de investimento são o Venture Capital e o Private Equity. Bento Costa, docente no Ibmec, afirma que não há diferença jurídica entre eles. Mas o Venture Capital procura empresas em estágio mais inicial e, portanto, com maior risco e retorno. À medida que a avaliação da empresa é mais positiva e o risco é reduzido, os fundos de Private Equity passam a ter interesse. Mingone ressalta também que a governança corporativa dessas empresas vai ficando mais profunda na transição entre o investimento de um Venture Capital para o de um Private Equity.
Abrir uma oferta inicial pública de ações (IPO) não é apenas para grandes empresas. “Há na Bolsa níveis que incorporam as pequenas e médias empresas. Isso depende do tamanho do seu faturamento”, explica Mingone. O consultor cita a Bovespa Mais, segmento da BM&FBovespa voltado para PMEs que querem entrar gradualmente no mercado de ações.
Porém, momentos de recessão e incerteza não costumam ser boas épocas para abrir capital, afirma Costa. Isso porque a série de notícias ruins para o mercado pode fazer com que o valor da sua ação seja afetado. “Há várias empresas que estão esperando esse momento passar para abrir seu capital”, diz o docente.