Mariana Vasconcellos, CEO da Agrosmart (Foto/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 19 de novembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 25 de novembro de 2019 às 16h43.
Esta terça-feira é o dia mundial do empreendedorismo feminino, uma nova oportunidade de relembrar o fosso que ainda separa mulheres de homens. Segundo pesquisa do Insper em parceria com a empresa de recrutamento Talenses, apenas 13% das empresas brasileiras têm mulheres em cargo de presidente, numa mudança lenta. A boa notícia é que, quando se falar em empreender, a presença feminina segue avançando.
A participação feminina no mercado de trabalho vai crescer até 2030 mais do que a masculina, segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Conquistas de direitos, investimento em educação e mudanças na sociedade explicam esse movimento.
De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, as mulheres já são maioria ao fundar empreendimentos no Brasil. A grande diferença é o tipo de empreendedorismo que elas fazem.
Dani Junco, presidente da aceleradora B2Mamy, focada em mães empreendedoras, afirma que grande parte das mulheres empreendem por necessidade. “A gente tem desafios diferentes, precisa gerar renda para cuidar dos filhos, da casa”, diz.
De acordo com pesquisa da FGV, quase 50% das mulheres que tiram licença maternidade estão fora do mercado de trabalho após 24 meses. “Ser mulher ainda significa cuidar da família, o que é um grande peso para a mulher”, diz a presidente da B2Mamy.
No empreendedorismo de startups, o cenário é diferente. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), 74% das startups brasileiras tem equipe majoritariamente masculina.
A disparidade também está presente no setor de investimentos. Segundo a International Finance Corporation, na América Latina apenas 8% dos fundos de Private Equity ou Venture Capital têm mulheres na equipe de liderança. “A empatia de um investidor homem de Venture Capital ainda é diferente com um empreendedor do que com uma empreendedora”, diz Alan Leite, presidente da aceleradora Startup Farm.
Ainda assim, segundo estudo do BCG (Boston Consulting Group), startups criadas por mulheres contam com faturamento de 78 centavos para cada dólar recebido de financiamento, mais da metade do que o alcançado pelos homens (31 centavos).
Aumentar a presença feminina no ecossistema brasileiro de startups é um passo fundamental para amadurecê-lo, segundo Leite. “Quanto mais diverso for o ambiente, melhor”, diz.
Para Dany Carvalho, empreendedora há dez anos no meio de inovação brasileiro, iniciativas como She's Tech (liderado pela Ciranda de Morais) e Programaria (Liderado pela Iana Chan) dão esperança de que mais mulheres estarão ocupando esses espaços no futuro. “Temos muito que avançar, mas temos conseguido estar presentes nesses espaços” conta Dany.
Ela, que foi diretora de comunidade no Cubo e gerente de relacionamento com startups da Microsoft, diz que ainda é muito solitário ser mulher nesse setor. “Quando mais alto o cargo que se está, menos mulheres se vê. Principalmente negras, por isso é uma grande responsabilidade para mim ser uma mulher negra nesse meio”, pontua.
EXAME selecionou algumas mulheres que estão liderando o empreendedorismo no Brasil.
Confira, a seguir, 10 mulheres que tiveram sucesso empreendendo no Brasil:
Mariana Vasconcelos fundou e preside a Agrosmart, uma startup que une agronegócio e tecnologia, duas áreas dominadas por homens. A Agrosmart atua no monitoramento de plantações fornecendo informações em tempo real aos agricultores, de forma a ajudar nas tomadas de decisão para garantir o melhor proveito de cada safra. Unindo tecnologia e agricultura, a startup também ajuda a tornar a produção agrícola mais sustentável, com uso responsável de água, por exemplo. Em entrevista a EXAME em 2018, ela disse que sentiu resistência do mercado quando começou em 2014. “Tive dificuldade de fechar negócio no começo porque eles não queriam falar de dinheiro comigo, queriam falar com um homem. Mas com o tempo fui mostrando que tenho competência”, disse.
Monique Silva começou a idealizar a Clinicão, franquia de veterinária brasileira, em 1987, quando foi aprovada no vestibular para Veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). A primeira unidade foi aberta em Guaratinguetá, em 1993, e hoje a empresa possui cinco unidades — quatro no Estado de São Paulo e uma em Minas Gerais. Até o final de 2020, o plano de expansão é abrir mais 12 novas clínicas na região Sudeste. A rede tem um faturamento médio mensal que varia entre 70,8 mil a 139,8 mil reais.
Deborah Alves é formada em Ciência da Computação e Matemática pela Harvard University e foi engenheira de software na Quora, no Vale do Silício. Com os amigos Matheus Silva e João Henrique Vogel, em 2018, ela criou a Cuidas, empresa que quer inovar o setor de saúde com um plano de saúde corporativo “acessível”. A startup foca em consultas preventivas e leva os médicos para atendimento no próprio local de trabalho. A jovem, que participou de inúmeras Olimpíadas de Matemática, foi Medalhista da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), atualmente é Chief Technology Officer (CTO) da Cuidas.
Camila Folkmann é co-fundadora da Mindset Ventures, empresa de investimentos de venture capital em startups de Israel e dos Estados Unidos. Ela começou sua carreira como advogada empresarial, tendo trabalhado para grandes escritórios que assessoram empresas listadas na Fortune 500 e, posteriormente, para startups no Vale do Silício e fundos de VC brasileiros. Camila é pós-graduada em Administração de Empresas pela UC Berkeley.
Mariana Dias é presidente e co-fundadora da Gupy, startup líder em recrutamento e seleção com base em inteligência artificial no Brasil. A Gupy atende clientes como Ambev, Kraft Heinz e Cielo. O negócio quintuplicou seu volume de clientes e sua receita em 2018, mesmo em um cenário de grande desemprego. Com atuação em oito países, a plataforma da Gupy disponibiliza uma triagem de currículos que reduz 70% do tempo de esforço operacional. A empresa cresceu 500% no último ano.
Lucilaine decidiu empreender por necessidade. Após o nascimento do primeiro filho, a professora de biologia decidiu vender bem-casados e doces para poder pagar dívidas. Em pouco tempo, percebeu que poderia ensinar seus clientes a cozinhar e montou o Instituto Gourmet, rede de franquias de ensino gastronômico. A primeira unidade foi montada em 2014 e, em 2017, a empreendedora ingressou no mercado de franquias. No primeiro ano, a rede faturou 5 milhões de reais. Hoje, o Instituto Gourmet cresceu 600% e fatura mais de 40 milhões de reais em suas 85 unidades.
Engenheira de Produção por formação, Isis Abbud é a única mulher sócia da Arquivei, uma plataforma de armazenamento, organização e consulta de informações de notas fiscais. A empresa tem um software que conta com diversas funcionalidades para a gestão de todos os tipos de documentos fiscais. A executiva e co-fundadora é Diretora Comercial da empresa, que já tem mais de 60.000 empresas clientes, entre eles McDonald’s, Riachuelo, C&A, Kraft Heinz, Faber-Castell, Dia% e Mobly.
Jade Utsch é fundadora da RadarFit, uma startup que estimula a aquisição de hábitos saudáveis de funcionários de empresas por meio da gamificação. Os pontos adquiridos ao cumprir as missões pedidas no app são transformados em créditos para os usuários trocarem por prêmios como eletrônicos, eletrodomésticos e artigos de esporte. Para as empresas contratantes, a ferramenta reduz o custo com faltas e falhas dos colaboradores devido a problemas de saúde e com o sinistro dos planos de saúde.
Tatiana Pimenta, fundadora da startup de psicologia Vittude, é engenheira de formação e trabalhou principalmente em gigantes do setor, como Grupo Votorantim, Camargo Corrêa e Hilti. Pimenta teve sua primeira percepção de oportunidades no mercado de psicologia em 2012, ao encontrar dificuldades ao procurar um profissional para si, em São Paulo, e para seus pais, que moram em Corumbá (Mato Grosso do Sul). A Vittude começou a operar como um blog no meio de 2016. Depois do blog, inaugurou um buscador estabelecimentos físicos de psicólogos. Em setembro do mesmo, obteve a autorização do Conselho Federal de Psicologia para operar consultas online. Este ano, a empresa recebeu um aporte de 4,5 milhões de reais.
Daniela Binatti é co-fundadora e diretora de tecnologia da Pismo, startup que terceiriza a gestão dos meios de pagamentos de outras empresas, por meio da computação em nuvem. Ela possui mais de 20 anos de experiência no setor de pagamentos, trabalhando em empresas como Conductor.