Negócios

Zara Brasil é autuada pelo MTE por discriminar imigrantes

Além de não melhorar as condições de trabalho, o MTE constatou que a empresa excluiu diversos imigrantes de sua cadeia de fornecedores


	Zara: além de não melhorar as condições de trabalho, ela excluiu imigrantes de sua cadeia de fornecedores
 (Alexander Joe/AFP)

Zara: além de não melhorar as condições de trabalho, ela excluiu imigrantes de sua cadeia de fornecedores (Alexander Joe/AFP)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 12 de maio de 2015 às 10h13.

São Paulo - A Zara foi autuada por não cumprir acordo para melhorar as condições de trabalho e por excluir imigrantes de sua cadeia de fornecedores.

O Ministério do Trabalho e Emprego de São Paulo aplicou duas autuações de R$ 840 mil depois de atestar irregularidades em 83 inspeções feitas entre agosto de 2014 e abril de 2015. A Zara afirmou que irá recorrer da decisão.

Além de não melhorar as condições de trabalho, o MTE constatou que a empresa excluiu diversos imigrantes de sua cadeia de fornecedores, prejudicando seus empregos.

As auditorias fazem parte de um acordo que a Inditex, controladora espanhola da Zara, assinou, depois de escândalo com trabalho análogo a escravidão em 2011.

Na ocasião, o Ministério do Trabalho encontrou 15 imigrantes peruanos e bolivianos trabalhando em condições precárias em oficinas que forneciam peças de roupa para a Zara Brasil. 

Além do Termo de Ajuste de Conduta (TAC), a Inditex doou R$ 6 milhões para a construção do Centro de Integração da Cidadania do Imigrante, em São Paulo, voltado a ajudar estrangeiros como bolivianos e peruanos – as principais vítimas de trabalho escravo no setor têxtil.

Discriminação

Porém, ao mesmo tempo em que apoiava a construção do Centro de Imigrantes, a varejista eliminou empresas com latino-americanos da sua rede de fornecedores, segundo relatório do MTE.

Em julho de 2012, 35 oficinas com donos imigrantes produziam roupas para a Zara. Este ano, não há mais nenhuma empresa gerenciada por latino-americanos. Essas empresas pequenas dependiam diretamente dos pedidos da varejista espanhola.

Segundo o MTE, 31 fornecedores, em parte pertencentes a donos também estrangeiros, tiveram a saúde financeira comprometida quando deixaram a rede de abastecimento da varejista.

De acordo com o Repórter Brasil, muitos teriam interrompido a produção sem quitar suas dívidas com os trabalhadores.

A Inditex afirmou à EXAME.com que 'é importante mencionar que somente 15% da produção das empresas citadas no relatório da SRTE destina-se à Zara, enquanto 85% de sua atividade dedica-se à fabricação de produtos para outras marcas, que tampouco foram notificadas por qualquer irregularidade".

“A Zara é apenas mais um cliente entre muitos outros. Aceitar essa premissa (discriminação de imigrantes) seria aceitar que todas as empresas brasileiras contratantes desses fornecedores aplicam essa mesma alegada prática, visto que a produção para a Zara nessas fábricas é menos do que 15% do total”, disse.

Irregularidades

Uma auditoria com 40 fiscais do MTE e da Receita Federal de SP e SC foi realizada entre agosto e abril deste ano. Os fiscais citam 433 irregularidades em 83 inspeções feitas nessas empresas.

Aproximadamente sete mil trabalhadores foram prejudicados por algum tipo de irregularidade trabalhista que a empresa havia se comprometido a detectar e regularizar, desde julho de 2012.

Houve um aumento no número de acidentes ou doenças ocupacionais registrados em sua cadeia produtiva, de 73 para 84.

Os acidentes incluem a mutilação de uma trabalhadora que perdeu o antebraço direito e três dedos da mão esquerda em maquinário têxtil posteriormente interditado pela fiscalização trabalhista, por não ter a segurança adequada.

Cerca de 34% das empresas fiscalizadas atuavam com jornada excessiva, irregular ou fraudada – inclusive superior a 16 horas diárias. Além disso, das empresas auditadas, 34% possuíam débitos no pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Resposta

Para a Inditex, as acusações são infundadas. Segundo ela, das 67 empresas investigadas pelo MTE, 5 jamais foram fornecedoras da Zara.

"Não houve qualquer tipo de descumprimento do TAC e a Zara não recebeu, até o momento, nenhuma multa por parte do Ministério do Trabalho e Emprego. As multas só são calculadas depois de o processo administrativo ser concluído", afirmou ela à EXAME.com.

Segundo resposta da companhia, “a Zara conseguiu eliminar qualquer possibilidade de precarização ou de trabalho análogo ao de escravos em sua cadeia” e que as irregularidades foram identificadas e corrigidas, paralelamente às auditorias do MTE.

A empresa afirmou que tem total controle sobre seus fornecedores, auditando-os antes de incorporá-los à cadeira. Ela realizou 2.800 auditorias no Brasil em 453 empresas, que não trabalham exclusivamente para a Zara. 

Acompanhe tudo sobre:ComércioEmpresasEmpresas espanholasFast fashionImigraçãoIndústria de roupasMinistério do TrabalhoTrabalho escravoZara

Mais de Negócios

Pão de Açúcar amplia aposta em experiência para consolidar sua presença no varejo alimentar premium

Conheça homem que trabalhou 100 horas por semana para abrir negócio e hoje lucra US$ 633 milhões

Executiva de 35 anos usou esta estratégia para transformar US$ 40 mil em US$ 400 mil; veja qual é

Mulher de 39 anos ganha cerca de US$ 18 mil por mês em renda passiva: 'Este é meu melhor conselho'