Guilherme Menezes: analista de sourcing e logística, em visita em cooperativa parceira da Yattó. (Acervo Yattó/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 7 de novembro de 2023 às 13h14.
Última atualização em 7 de novembro de 2023 às 14h58.
Enquanto a pauta ambiental ganha força em todo o mundo, no Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são enviados para esse processo. É o que mostram os dados da International Solid Waste Association (ISWA), que colocaram o nosso país atrás de nações menores como Argentina, África do Sul e Turquia.
Neste cenário, empresas estão cada vez mais buscando maneiras de contribuir para um mundo mais sustentável e consciente. Foi com essa proposta que a Yattó, startup de economia circular, se consolidou na vanguarda dessa mudança. Seu novo programa, Yattó Transforma, é uma iniciativa ambiciosa que visa transformar a gestão de resíduos pós-consumo no Brasil, gerando impacto ambiental e social positivo.
O foco do programa são as embalagens plásticas flexíveis, como aquelas utilizadas em chocolates, salgadinhos, sabonetes, extratos de tomate e rações para animais de estimação. Essas embalagens muitas vezes consistem em várias camadas de material diferente, além da sujeira, o que torna o processo de reciclagem desafiador e pouco valorizado financeiramente.
Um grande diferencial é que o programa é gerenciado pela Yattó do início ao fim, com a possibilidade de transformação desses produtos em material reciclado para a própria marca.
Gigantes do mercado como Nestlé, PepsiCo, Ajinomoto, Cargill e Mars já fazem parte do portfólio da empresa. E os números surpreendem. Em quase dois anos, o programa conta com mais de 700 toneladas de resíduos reciclados, mais de 1 bilhão de embalagens recicladas, 300 coletas realizadas, impacto em 60 cooperativas, em 35 municípios, envolvendo mais de 1300 catadores. Além disso, o programa injetou R$ 600 mil nas cooperativas no último ano.
"Nós reciclamos muito pouco. Como podemos aumentar as taxas de reciclagem no Brasil? Foi esse questionamento que motivou a criação do programa. Nosso país tem muita estrutura, temos um campo muito fértil. Não dá para olhar apenas para o que já é reciclado. Tivemos a ideia de olhar para aquilo que ninguém olhava", conta o CEO da empresa, Alexandre Galana Jr.
No Brasil, fabricantes são responsáveis pelo ciclo de vida de seus produtos e embalagens, sendo a logística reversa uma exigência legal determinada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei °12.305 de 2010). Desde 2022, uma das formas mais adotadas pelas empresas para cumprir com essa exigência é a de compensação através dos créditos de reciclagem. "Se você hoje é uma empresa que faz apenas compensação, tendo um resíduo complexo em seu portfólio, tem algo de errado. Você precisa mudar", pontua Galana.
O Yattó Transforma também faz um trabalho de rastreabilidade dos resíduos, o que garante uma entrega completa para as empresas e fortalece o "G" do ESG, promovendo práticas mais responsáveis e sustentáveis tanto na gestão de resíduos quanto na governança corporativa. Isso não apenas atende às crescentes demandas por ações ambientalmente conscientes, mas também posiciona a empresa como um agente de mudança positiva em seu setor e na sociedade como um todo.
"A rastreabilidade é feita de ponta a ponta. Monitoramos de onde o resíduo veio, para onde vai e por onde passou. Analisamos a documentação, nota fiscal, manifesto de transporte e certificado de destinação final", explica Leonardo Lopes, Diretor de Operações da Yattó.
A forma como os resíduos são vendidos é crucial para o sucesso do programa. "A melhor forma de valorizar esse material na reciclagem é direcioná-lo para o reciclador que vai fazer o reaproveitamento. Trabalhamos com diferentes tipos de produtos que incorporam essas embalagens na sua fabricação, como madeira e resina plástica. Isso resulta em produtos como bancos de praça, telhas, placas, poltronas, tornando a matéria-prima atrativa”, explica Lopes.
Levantamento feito pela Abrelpe em 2019 mostrou que somente os recicláveis que vão para lixões levam a uma perda de R$14 bilhões anualmente, que poderiam gerar receita e renda para uma camada de população que trabalha com essa atividade.
A Yattó também está trabalhando para enfrentar a desigualdade na reciclagem no Brasil. "As empresas que se destacam no mercado de alimentos têm sido um foco importante, pois têm metas globais que afetam diretamente a quantidade de embalagens utilizadas no Brasil. No que diz respeito às cooperativas, a escolha é baseada em diversos fatores, incluindo a representatividade, o volume de embalagens recebidas, a coleta seletiva e a regularização das cooperativas", explica Luiz Grilo, Diretor Institucional e de Novos Negócios da Yattó.
Grilo também discute a necessidade de uma mudança abrangente em todo o país:
"O Brasil é como se fosse vários países dentro de um grande país, com uma grande desigualdade na reciclagem. O polo de reciclagem está concentrado no sul e sudeste, o que torna a logística desafiadora. A Yattó está quebrando essas barreiras. Queremos abranger todas as regiões do país", conta.
Além das regiões, a Yattó planeja expandir sua rede para mais de 500 cooperativas, abrangendo todos os estados do Brasil, e atingir a marca de 20.000 toneladas até 2025. O cerne dessa missão é transformar a gestão de resíduos pós-consumo do modelo linear para o circular de grandes marcas, garantindo a transformação significativa e reciclagem dos materiais produzidos por elas.
Em um país onde a reciclagem é ainda um desafio significativo, programas como o Yattó Transforma representam um passo vital em direção a um futuro mais verde, justo e próspero. À medida que a Yattó continua sua expansão, a transformação da gestão de resíduos pós-consumo no Brasil está se tornando uma realidade e um modelo para o mundo.