Roberto Setubal, presidente do Itaú (Germano Lüders/Exame)
Tatiana Vaz
Publicado em 24 de junho de 2017 às 12h03.
Última atualização em 24 de junho de 2017 às 13h23.
São Paulo – Quando a oportunidade de avaliar a compra de uma participação na XP Investimentos apareceu em sua mesa pela primeira vez, Roberto Setúbal, presidente do conselho do Itaú, admitiu ter tido uma enorme resistência – e até preconceito – em olhar o negócio.
Ele não era o único cético entre os envolvidos, muitos dos bancos também tinham a mesma sensação em relação ao, então, concorrente em captação de investidores.
Mas bancos funcionam de forma bem racional e, com os fatos colocados, ficou claro para o Itaú que estava diante de comprar uma parte de um percursor da revolução do setor.
“No final das contas todo mundo entendeu e estamos entusiasmados em poder participar disso também”, contou o banqueiro na manhã de hoje, 24, durante o evento Expert 2017, promovido pela XP, na capital paulista.
Foi a primeira vez desde que o Itaú investiu 6 bilhões de reais em troca de 49,9% da XP, em maio, que o empresário comentou abertamente sobre o negócio.
De acordo com Setúbal, a XP é hoje um dos maiores exemplos de empreendedorismo no país e mostrou, ao Itaú e demais concorrentes, uma nova maneira de trabalhar a oferta de investimentos, em especial para pessoas físicas, de média e alta renda.
Para ele, a companhia fez com que a concorrência se mexesse – inclusive o próprio Itaú.
“Tanto é que abrimos nossa plataforma de investimento depois que a XP começou a nos incomodar e estamos até ampliando as ofertas de nossos produtos por isso”, afirmou, pouco depois de dizer que não sente vergonha de copiar bons modelos de negócios.
Mesmo porque, para ele, esse novo modelo é uma tendência que já está sendo seguida por todo o mercado.
A empatia com Guilherme Benchimol, fundador da XP, foi imediata, contou ainda, ao explicar porque sempre acreditou que a gestão da XP dentro do Itaú teria de seguir independente.
“Além de seguros e tranquilos com o modelo que tinham em mãos, eles olhavam para os grandes bancos como concorrentes e, percebi logo, eles estavam certos”, lembrou o banqueiro.
Setúbal afirmou que o Itaú entendeu que é o maior do mercado hoje e segue engordando a fatia de participação que detém, ainda que tenha notado a perda de clientes, assim como demais concorrentes, para a XP.
“Também perdemos clientes para a XP. Mas, como sócios, ganharemos mercado com os que estão sendo roubados por ela de nós, da Caixa, Banco do Brasil e outros”, afirmou.
O fato do Itaú ter comprado a XP chancela a qualidade do modelo de negócios da corretora para o mercado, continuou Setúbal. Porém, a falta de concorrência de mesmo porte pode ser o maior risco para a própria companhia.
Se outras corretoras existissem no mercado, elas fatalmente estariam hoje sendo avaliadas por outros grandes bancos.
“Mas não há, porque a empresa está dois, três anos na frente da concorrência”, afirmou ele. “Agora precisamos trabalhar para continuar dois, três anos na frente”.
Os bancos também terão de trabalhar melhor a ideia de cooperação com agentes autônomos e assessores independentes para a oferta de investimentos.
“A XP criou uma nova profissão, profissionais consistentes, muito preparados, completamente diferenciados do que tínhamos há dez anos nas corretoras, o que é muito positivo para o setor e até para a educação do investidor no país”, disse.
Setúbal se declarou um otimista com o Brasil por natureza, ainda que consciente de que agora há um imbróglio político difícil de ser resolvido.
“Mas creio que os desafios são políticos porque a parte econômica está de certa forma em ordem, se não estivesse, o país estaria por uma situação bem mais complicada”, afirmou.
Para o empresário, o mundo político está em clima de tensão, a ponto de ser hoje impossível prever o que deve acontecer a cada nova delação.
“Evidentemente Temer ficou muito mais fraco”, disse, além de ressaltar a importância da aprovação das reformas trabalhista e previdenciária pelo governo.
Sobre a trabalhista, “penso que a reforma é basicamente uma flexibilização da CLT e não uma extinção dos direitos trabalhistas, como dizem alguns sindicalistas”, comentou. Já a previdenciária, seria “muito importante para o setor público reduzir o déficit a longo prazo”.
Para o futuro político do país, 2018, ano de eleição presidencial, enxergou como decisivo.
“Será essencial elegermos a pessoa certa para podermos virar a página da Lava Jato”, concluiu.