Montadora é acusada de perseguir funcionários (Imelda Medina/Reuters)
Reuters
Publicado em 23 de setembro de 2020 às 16h25.
Última atualização em 23 de setembro de 2020 às 21h00.
A Volkswagen vai indenizar mais de 60 ex-funcionários perseguidos durante a ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985. A montadora deve assinar o acordo em São Paulo na quinta-feira, 24, que totaliza um montante de R$ 36 milhões (cerca de 5,5 milhões de euros).
Pelo acordo, a Volkswagen do Brasil se comprometeu a pagar R$ 9 milhões aos Fundos Federal e Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos (FDD) e R$ 10,5 milhões para projetos de promoção da memória e da verdade em relação às violações de direitos humanos ocorridas no Brasil durante a ditadura militar. Já a doação para a associação de ex-funcionários será de 16,8 milhões de reais.
O acordo foi firmado entre o Ministério Público Federal em São Paulo, o Ministério Público do Estado de São Paulo e a Procuradoria do Trabalho em São Bernardo do Campo, órgão do Ministério Público do Trabalho.
Uma comissão nomeada pelo governo que investiga abusos durante a ditadura no Brasil encontrou evidências de que empresas como a Volkswagen secretamente ajudaram os militares a identificar suspeitos "subversivos" e ativistas sindicais em suas folhas de pagamento.
Muitos dos trabalhadores foram demitidos, detidos ou assediados pela polícia e não conseguiram encontrar novos empregos durante anos, segundo uma investigação da Reuters de 2014.
A reportagem da mídia alemã disse que a subsidiária brasileira da Volkswagen pagaria uma grande parte da compensação a uma associação de ex-funcionários e seus dependentes sobreviventes.
O historiador Christopher Kopper da Universidade de Bielefeld, que foi contratado pela montadora alemã para examinar o caso, disse que o acordo de quinta-feira será histórico.
"Seria a primeira vez que uma empresa alemã aceitaria a responsabilidade por violações de direitos humanos contra seus próprios trabalhadores por eventos que aconteceram após o fim do nazismo". O historiador ainda conclui em seu estudo que houve cooperação entre os agentes de segurança da Volkswagen do Brasil e o antigo regime militar, mas não foram encontradas evidências claras de que essa cooperação foi institucionalizada na empresa. Naquela época, os funcionários poderiam ter sido expostos a violações dos direitos humanos.