Repórter
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 11h15.
Última atualização em 11 de agosto de 2025 às 11h22.
Na tela do computador, o voo para São Paulo às 9h da manhã custa R$ 2.000. Quando você vai pagar, já está saindo por R$ 1.200. Uma economia de 800 reais num trocar de página, tão rápido que você quase não nota. E sem nenhum esforço humano. É isso que a Voll quer multiplicar a partir de hoje, com o lançamento de um novo marketplace de agentes de inteligência artificial (IA) dedicados a cortar custos de viagens corporativas.
O anúncio oficial acontece num evento setorial nesta segunda-feira, 11, mas a startup mineira — que atende três das cinco empresas mais valiosas do Brasil e prevê faturamento superior a R$ 1,7 bilhão em 2025 — decidiu antecipar os detalhes à EXAME.
“Queremos sair da conversa conceitual sobre IA e entregar aplicações práticas que geram economia real e liberam o gestor para atuar de forma estratégica”, diz Luciano Brandão, CEO e cofundador.
O lançamento surge num momento em que a gestão de custos ganha urgência no setor. O turismo corporativo brasileiro movimentou R$ 131 bilhões em 2024, crescimento de 5,5% em relação a 2023, segundo levantamento da FecomercioSP e Alagev.
Em um cenário de tarifas instáveis — seja pelo câmbio ou por tensões globais, como as recentes tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump nos EUA —, encontrar a melhor oferta não é apenas uma questão de eficiência, mas de sobrevivência financeira para empresas que fazem milhares de deslocamentos por ano.
“Você imagina o gestor de viagens de uma companhia que faz 100 mil deslocamentos anuais tentando garantir manualmente que todos estão no melhor custo-benefício. É humanamente impossível”, resume Brandão.
A solução da Voll foi criar o Smart Hub, um ambiente dentro do próprio app da empresa que funciona como uma “loja de aplicativos”, onde cada app é um agente de IA programado para resolver um gargalo específico das viagens corporativas.
Entre todas as despesas de uma viagem corporativa, as passagens aéreas representam até 75% do orçamento.
O AirSave atua entre o momento em que o funcionário solicita a passagem e o gestor aprova. Ele varre o mercado em segundos, encontrando opções com mesmo destino, horário e classe — mas por preços menores.
Se encontra uma tarifa mais barata, substitui automaticamente a reserva e avisa o funcionário, explicando o motivo da troca. “É como se a empresa ganhasse um comprador especialista que nunca dorme”, afirma Brandão. “Ele atua 24/7 e documenta cada economia feita, algo impossível para um time humano manter em larga escala”.
No setor hoteleiro, a fragmentação é regra: acordos corporativos muitas vezes deixam de ser aplicados na hora da reserva.
O RatesAudit simula reservas diariamente no sistema para confirmar se as tarifas negociadas estão ativas.
Se encontra divergências, aciona o fornecedor e informa o gestor. Com poucas semanas de aprendizado, o agente pode até renegociar preços automaticamente com base em padrões históricos e flutuações do mercado. “A hotelaria é uma dor complexa para as empresas, e aqui a gente entrega controle total ao gestor”, explica o CEO.
Voltado para controlar gastos durante a viagem, o ExpenseAudit analisa comprovantes, reembolsos e pagamentos, cruzando informações para detectar anomalias. Se identifica inconsistências, interage diretamente com o funcionário para pedir justificativas ou aciona o gestor para decisão final.
“Ele é implacável: separa automaticamente o que está dentro da política da empresa e o que precisa ser revisado, prevenindo fraudes e economizando tempo”, diz Brandão.
Cada agente é ativado com dois cliques no aplicativo da Voll. “A lógica é a mesma de baixar um aplicativo no celular. Você escolhe o agente, ativa e ele começa a trabalhar”, completa o executivo.
A história da Voll começa com a carreira de Luciano Brandão na Localiza, onde ele iniciou como estagiário e, pouco depois, decidiu empreender no setor de viagens corporativas — ainda dominado por modelos tradicionais, baseados em prestação de serviço e tecnologias alugadas.
Incomodado com as limitações e a dificuldade de inovar nesse formato, Brandão percebeu que havia um espaço inexplorado: a mobilidade urbana dentro das empresas, que ainda era tratada como algo secundário.
Em 2017, no auge da chegada de aplicativos como Uber ao Brasil, ele e seus sócios criaram um marketplace corporativo que integrava diferentes serviços de transporte — como EasyTaxi e 99 — num único app, com pagamento centralizado e regras de uso definidas pela empresa.
A solução cortava custos pela metade em comparação aos táxis tradicionais e eliminava burocracias como adiantamentos e reembolsos. “Era uma experiência incrível para o viajante e uma economia inquestionável para a companhia”, lembra Brandão.
O modelo ganhou força com clientes como Telefônica, Claro, Heineken e Sodexo, até que um case de economia na Telefônica chamou a atenção da matriz na Espanha. Pouco depois, o fundo de investimentos da operadora aportou capital na Voll — um alívio que chegou 30 dias antes da pandemia e permitiu que a empresa sobrevivesse ao colapso das viagens em 2020.
Quando o setor retomou em 2021, a Voll já tinha pronta uma solução mobile first para viagens corporativas, oferecendo ao usuário de negócios a mesma agilidade que conhecia como pessoa física, mas com governança e compliance robustos. O Itaú foi o primeiro grande cliente, trocando quatro fornecedores pela operação digital da Voll, que passou a atender mais de 100 mil funcionários. A base se expandiu para o setor financeiro e educacional, incluindo XP, Nubank, Banco Inter e Vitru Educação.
Em 2022, veio a segunda rodada de investimento — desta vez, com a Localiza, empresa onde Brandão começou sua carreira, entrando como sócio. Com o capital, a Voll lançou uma carteira digital corporativa, permitindo que o viajante recebesse e gastasse recursos durante a viagem sem papelada e dentro das regras da empresa.
Agora, a companhia aposta nos agentes de IA como a próxima grande virada. “O Smart Hub é uma mudança de paradigma. Estamos entrando na era dos agentes e ajudando empresas a atuarem com mais eficiência, autonomia e redução real de custos”, afirma Brandão.
Segundo o CEO, a Voll planeja lançar novos agentes até o fim do ano, sempre mirando pontos críticos que mais geram despesas para as empresas. A estratégia é usar os casos de sucesso com grandes clientes como vitrine para escalar a solução globalmente. Hoje, a plataforma já opera em múltiplas moedas e idiomas, com clientes na América do Sul, Europa e Estados Unidos.
A meta é transformar tarefas inviáveis para equipes humanas em processos automáticos, com impacto direto no orçamento. “Queremos que cada viagem seja feita no melhor custo-benefício possível, sem abrir mão de governança e experiência do viajante”, conclui Brandão.