Fábrica de caminhões: investimentos mostram que montadoras estão voltando a acreditar na recuperação econômica brasileira (Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 10h09.
Última atualização em 2 de dezembro de 2016 às 10h11.
São Paulo - A Volkswagen Caminhões e Ônibus, do grupo MAN Latin America, vai investir R$ 1,5 bilhão (420 milhões de euros) na fábrica de Resende (RJ) nos próximos cinco anos. É o segundo anúncio feito por montadora nesta semana.
Na terça-feira, a Toyota disse que aplicará R$ 600 milhões para ampliar a produção de motores na fábrica de Porto Feliz (SP).
Segundo comunicado feito nesta quinta-feira, 1º, pelo presidente mundial da Volkswagen Truck & Bus, Andreas Reschler, primeiro para o presidente Michel Temer, em Brasília, e depois para jornalistas em São Paulo, o valor será gasto em novos veículos, na modernização da fábrica, desenvolvimento de serviços de conectividade e na expansão da marca no mercado internacional.
Apesar da crise que derrubou as vendas totais de caminhões e ônibus em 31% neste ano ante 2015, e levou as empresas do segmento a operarem com menos de 30% da capacidade produtiva, este é o maior programa quinquenal anunciado pela empresa desde 1994, quando começou a construir a fábrica do Rio com inovador sistema modular, em que os fornecedores operam nas mesmas instalações. Nos últimos quatro programas foram aplicados R$ 1 bilhão.
"Estamos convencidos de que o mercado brasileiro vai reagir e essa reação já começou", disse Reschler, que nos últimos 18 meses visitou o Brasil três vezes. Ele disse ter notado que, no ano passado, havia muito pessimismo no País. "Mas este ano vejo mais otimismo no lado político e empresarial."
Há três semanas, durante o Salão do Automóvel em São Paulo, a Volkswagen também anunciou investimento de R$ 7 bilhões até 2020 para a área de automóveis. "Esses investimentos são uma afirmação de que as montadoras acreditam na recuperação da economia brasileira", disse Marcelo Cioffi, da PricewaterhouseCoopers (PwC).
Cioffi ressaltou que investir em novas tecnologias e produtos é importante para a marca se manter competitiva no mercado, pois a competição é acirrada e inovações sempre podem gerar novas demandas. "Adicionalmente, quando este ciclo de baixa terminar, certamente sairá na frente quem estiver melhor posicionado em termos de produtos e tecnologias que encantem o consumidor".
Reschler afirmou que a filial brasileira hoje tem papel mais importante para o grupo no que no passado, pois muitos dos produtos fabricados localmente têm potencial para serem vendidos em outros mercados. A MAN exporta de 15% a 20% de sua produção e a meta é ampliar para 30% a 35% em três anos.
Na conversa com Temer nesta quinta, o presidente da MAN Latin América, Roberto Cortes, disse que não foram solicitados incentivos fiscais. "Sugerimos maior disponibilidade de crédito para exportação, ampliação da participação do Finame nos financiamentos e andamento do programa de renovação de frota".
Segundo Cortes, a fábrica de Resende está adequada ao tamanho do mercado brasileiro, que deverá consumir este ano 59 mil veículos pesados, 72% a menos que em 2011, auge do segmento. "Com esse volume vamos voltar ao século passado, quando vendemos 61 mil veículos em 1999."
Em 2011, a fábrica produzia 350 veículos ao dia. Hoje faz 80. O quadro de pessoal, incluindo os fornecedores, baixou de 6 mil para 3,5 mil. Eles trabalham quatro dias por semana por participarem do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que reduz jornada e salários e cujo contrato foi renovado por mais um ano (até fim de 2017).
A marca, que nos últimos 13 anos foi líder do mercado de caminhões, este ano perde a posição para a Mercedes-Benz.
Embora otimista com a recuperação da economia brasileira, o alemão Reschler mostrou-se preocupado com a crise política e sugeriu que se adotasse no País o sistema usado na Alemanha, em que deputados, para serem eleitos, "precisam ter requisitos mínimos".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.