Símbolo da Volkswagen: uma auditoria interna não apontou evidências de que membros do conselho executivo ou supervisor tenham se envolvido no caso, segundo Pötsch (Sean Gallup/ Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2015 às 15h13.
Wolfsburg - A Volkswagen afirmou que a crise de emissões de poluentes que começou com a expansão da montadora no segmento de carros a diesel nos EUA em 2005 foi causada por uma "cadeia de erros" e pela "cultura de tolerância" à quebra de regras que permitiu que a fraude prosseguisse por uma década.
Embora não tenham revelado detalhes, o presidente da companhia, Hans Dieter Pötsch, e o executivo-chefe, Matthias Müller, reconheceram que os engenheiros introduziram um software que reduz emissões de óxidos de nitrogênio em muitos dos motores a diesel da empresa depois de perceberem que não havia meio legal de esses motores atenderem os padrões dos EUA para emissões de poluentes "dentro do prazo exigido e do orçamento".
Os comentários foram feitos pelos dois executivos em uma entrevista à imprensa que durou duas horas, a mais extensa desde que o escândalo surgiu, em setembro. No entanto, eles deixaram algumas questões em aberto.
"Não houve um erro único, mas uma cadeia de erros que nunca foi quebrada", disse Pötsch, sem se aprofundar no tema.
Continuou sem ser esclarecido quem na Volkswagen ordenou que o software fosse instalado nos motores, em que momento isso foi feito e quem encobriu o fato durante tantos anos.
Pötsch, que até antes dessa crise era diretor financeiro da empresa, afirmou que a Volkswagen ainda acredita que um pequeno grupo de funcionários realizou a fraude.
Uma auditoria interna não apontou evidências de que membros do conselho executivo ou supervisor tenham se envolvido no caso, segundo Pötsch.
Para o presidente da montadora, a raiz da fraude foi a "má conduta e as falhas de funcionários individuais", processos internos insuficientes para detectar tal fraude e "uma mentalidade em algumas áreas da companhia de tolerar a quebra de regras".
Müller, por sua vez, pediu mais poder para os funcionários da empresa, especialmente para os gerentes médios que com frequência eram silenciados durante o mandato do ex-executivo-chefe Martin Winterkorn e do ex-presidente Ferdinand Piech.
"O futuro pertence aos corajosos. Estou apelando para os curiosos, os inconformados, os pioneiros", declarou Müller.
De acordo com Pötsch, a fraude começou em 2005, quando a Volkswagen decidiu lançar uma ofensiva de motores a diesel nos EUA.
A companhia alemã estava com dificuldades para ganhar tração naquele país e viu a oportunidade de introduzir motores a diesel "limpos", com baixas emissões e alta performance.
Os comentários sugerem que a Volkswagen acredita que a fraude começou durante o mandato do antecessor de Winterkorn, Bernd Pischetsrieder, que foi retirado do cargo no fim de 2006, e de Wolfgang Bernhard, que dirigiu a marca Volkswagen e encarregou engenheiros de fabricar um motor a diesel de quatro cilindros para o mercado norte-americano.
Pischetsrieder e Bernhard já negaram que tinham conhecimento da fraude e se ofereceram para depor sob juramento.