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Gado da JBS reforça preocupação com aditivos nos EUA

Vídeo apresentado por uma auditora de saúde animal mostra imagens de vacas com dificuldade para andar e apresentando outros sinais de angústia

Gado Nelore em uma fazenda da JBS: vídeos com animais debilitados reabrem discussões sobre suplemento nutricional (Paulo Fridman/Bloomberg News)

Gado Nelore em uma fazenda da JBS: vídeos com animais debilitados reabrem discussões sobre suplemento nutricional (Paulo Fridman/Bloomberg News)

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Da Redação

Publicado em 13 de agosto de 2013 às 18h02.

Em uma conferência da indústria de carne bovina em Denver, nos Estados Unidos, na semana passada, uma auditora de saúde animal do frigorífico JBS USA , unidade da brasileira JBS, apresentou um vídeo mostrando imagens de vacas com dificuldade para andar e apresentando outros sinais de angústia.

Os animais pareciam caminhar com hesitação, como se pisassem em metal quente, e mancavam, de acordo com quatro pessoas que assistiram ao vídeo.

As pessoas na plateia disseram que o vídeo foi apresentado pela doutora Lily Edwards-Callaway, chefe de bem-estar animal da JBS USA, como parte de um painel de discussão sobre os prós e contras o uso de drogas conhecidas como beta-agonistas --suplemento nutricional dado ao gado nas semanas anteriores ao abate para acrescentar mais de 13 quilos de massa corporal e reduzir o teor de gordura na carne.

Lily disse à plateia que o gado havia sido alimentado com beta-agonista, mas não especificou a marca. Ela também disse que vários fatores --incluindo calor, transporte e saúde dos animais-- podem ter contribuído para o comportamento visto no vídeo, de acordo com o porta-voz da JBS Cameron Bruett. Ele disse que o vídeo mostrava animais "relutantes em se mover", e disse à Reuters que a JBS queria receber feedback dos especialistas em bem-estar animal, que participavam do evento, sobre o que a equipe da JBS tinha visto.

A Reuters não conseguiu esclarecer qual feedback foi oferecido. Lily Edwards-Callaway não respondeu a vários pedidos para comentar o assunto.

O vídeo foi apresentado no mesmo dia em que a maior empresa de processamento de carnes dos EUA, a Tyson Foods, anunciou que não iria mais aceitar gado que tivesse sido alimentado com uma marca popular do aditivo nutricional, o Zilmax, um produto da empresa de farmacêuticos Merck.


A Tyson, em uma carta a seus fornecedores, disse que a decisão não era resultado de questões sobre segurança alimentar mas de preocupações sobre o comportamento do gado que, segundo especialistas em saúde animal, poderia estar conectado ao uso do Zilmax.

A apresentação da JBS e a decisão da Tyson destaca as cada vez mais complexas vantagens e desvantagens que o setor agrícola precisa avaliar na sua busca por aumentar a produção de carne a custos menores.

As tensões têm crescido no processo de atingir este objetivo, incluindo temores sobre bem-estar animal, crescentes críticas de grupos de defesa do consumidor e receios da indústria sobre os efeitos da biotecnologia na qualidade do produto, como por exemplo se a carne mantêm o marmorado apreciado por alguns consumidores.

Vídeo da JBS

Ninguém da Tyson Foods assistiu ao vídeo ou sabia de sua existência antes da decisão da companhia de parar de comprar gado alimentado com Zilmax, disse o porta-voz da empresa Gary Mickelson.

Merck disse à Reuters em comunicado que a sua própria investigação sobre a questão da Tyson mostrou que o Zilmax não é a causa do comportamento de animais em instalações da Tyson, mas se recusou a elaborar sobre o assunto. A porta-voz da Merck Pamela Eisele disse que décadas de pesquisa demonstraram que Zilmax é um produto seguro para os animais, acrescentando que a Merck está trabalhando com Tyson para determinar por que Tyson observou animais debilitados em algumas unidades de bovinos.

A Reuters não assistiu ao vídeo da JBS, que foi descrito a repórteres por pessoas que o assistiram durante um painel, em 7 de agosto, em conferência da Associação Nacional dos Criadores de Bovinos.


O vídeo foi gravado em meses recentes, disse Bruett, com câmeras remotas usadas para monitorar o bem-estar de animais, em uma única unidade operada pela JBS USA. Ele não quis identificar a localização da unidade. O vídeo foi mostrado com a aprovação de diretores da JBS USA, alguns dos quais assistiram à apresentação, disse Bruett.

O professor Guy Loneragan, especialista em segurança alimentar e saúde pública da Texas Tech University, palestrante no evento em Denver, descreveu o vídeo como "constrangedor" e disse que "estava claro que aqueles animais estavam debilitados".

Loneragan, que presta serviço à JBS como consultor de segurança alimentar, disse à Reuters que não era clara a causa das dificuldades dos animais mostrados no vídeo.

A pesquisadora Temple Grandin, uma pioneira nas práticas de abate humanitário como consultora para diversos frigoríficos, descreveu a sequência de imagens. Um clipe mostrou um animal que não queria se mover, e mãos empurrando-o. Outros clipes mostraram animais que pareciam rígidos e letárgicos, disse Gradin.

Ela disse à Reuters que os animais deveriam ser cheios de energia e mover-se por conta própria. Ao contrário, afirmou, os animais no vídeo "caminhavam como se fossem vovós de 90 anos".

Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês), órgão que regula o setor, liberou os beta-agonistas como seguros para animais nas fazendas e para a saúde humana. Antes da agência aprovar o Zilmax em 2006 "nenhuma preocupação sobre segurança animal foi descrito em qualquer dos estudos realizados" de acordo com uma declaração do órgão.

Um porta-voz da FDA disse à Reuters que não estava ciente do vídeo.

Originalmente desenvolvido para medicamentos contra asma em humanos, os beta-agonistas --em uma década de uso-- ajudaram a aumentar a produção de carne nos EUA com um rebanho menor.


Devido à introdução do Zilmax e a outros fatores, incluindo melhoramentos genéticos e na ração, a indústria norte-americana produziu mais de 11,8 bilhões de quilos de carne bovina a partir de 91 milhões de cabeças de gado no último ano. Em 1952, foram necessárias 111 milhões de cabeça para produzir 9,5 bilhões de quilos de carne.

O Departamento de Agricultura dos EUA permite que a carne produzida com beta-agonistas seja rotulada de livre de hormônios, livre de antibióticos e "natural", já que as drogas não são classificadas como hormônios de crescimento ou antibióticos.

Sinais de Alerta

Apesar da decisão de parar de aceitar gado alimentado com Zilmax ter surpreendido alguns fornecedores, a maior empresa de processamento de carne dos EUA disse que havia visto alguns sinais de problemas surgindo, quando as temperaturas se elevaram no início deste verão.

Alguns animais entregues em abatedores da Tyson tinham problemas para se mover depois da entrega, de acordo com fontes da empresa e da indústria.

Num primeiro momento, representantes da Tyson culparam o calor. Em uma carta enviada a confinamentos mais cedo neste verão, a Tyson pediu cuidado extra com gado porque alguns animais estavam mostrando "sinais de estarem mancos", de acordo com uma fonte que leu a carta à Reuters.

Com o passar das semanas, os problemas continuaram em um pequeno percentual do gado, disse Mickelson, da Tyson. Depois de consultar veterinários e outros especialistas em saúde animal, a Tyson enviou uma segunda carta, em 7 de agosto, para seus fornecedores, alertando que pararia de comprar gado alimentado com Zilmax.

"Nós não sabemos detalhes do problema, mas alguns especialistas em saúde animal sugeriram que o uso do suplemento alimentar Zilmax, também conhecido como zilpaterol, é uma causa possível", disse a carta.

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