Negócios

Vício em café, noites no avião, uniforme: a rotina do ex-super CEO da Fiat

Sergio Marchionne comandou a montadora por 14 anos e acumulou tanto poder que suas funções serão divididas entre quatro pessoas

Sergio Marchionne: seu estilo de liderança, sua rotina, e seus resultados espetaculares reacendem a discussão sobre a rotina atarefada que executivos e empreendedores levam. (Rebecca Cook/Reuters)

Sergio Marchionne: seu estilo de liderança, sua rotina, e seus resultados espetaculares reacendem a discussão sobre a rotina atarefada que executivos e empreendedores levam. (Rebecca Cook/Reuters)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 23 de julho de 2018 às 18h42.

Última atualização em 25 de julho de 2018 às 15h23.

São Paulo — A saída precoce de Sergio Marchionne, presidente-executivo da Fiat Chrysler, anunciada no sábado (21) marca a aposentadoria de um dos últimos super-homens corporativos do mundo dos negócios. Seu estilo de liderança, sua rotina, e seus resultados espetaculares reacendem a discussão sobre a rotina atarefada que executivos e empreendedores levam.

Marchionne, 66 anos, foi substituído pelo chefe da divisão Jeep da empresa, Mike Manley, após sua saúde se deteriorar acentuadamente após uma cirurgia no ombro. Sua morte foi confirmada na manhã desta quarta-feira. Sua internação não teve relação direta com stress. Mas ele mesmo havia anunciado, há cerca de um ano, que estava tomando medidas para melhorar a qualidade de vida visando a aposentadoria em 2019.

O ex-CEO da Fiat era conhecido por uma rotina de trabalho insana. Ele foi escolhido para o cargo em 2004, inicialmente para um período de dois anos. Neste período, conseguiu dar uma guinada financeira: a Fiat passou de um prejuízo de 6 bilhões de euros em 2003 para o lucro em 2005.

Foi o suficiente para ele ficar, e começar a acumular cargos e responsabilidades. Marchionne passou a comandar a CNH, empresa do grupo Agnelli(o controlador da Fiat) que fabrica ônibus e tratores. Em 2014, a Fiat completou a compra da montadora americana Chrysler, e adivinha quem assumiu a presidência. O superexecutivo também passou a comandar, nos últimos anos, as duas marcas de luxo do conglomerado, a Ferrari e a Maserati.

Para dar conta de tantas responsabilidades, Marchionne se valia de um histórico diverso. Estudou filosofia, economia e direito. E fez longa carreira como auditor e executivo de finanças. É conhecido como um executivo que não tem medo de tomar decisões difíceis, e como um trabalhador inveterado.

O ex-presidente da Fiat já afirmou em entrevistas que tomava 12 expressos por dia, e que fumava. Costumava dormir no avião, em voos noturnos entre as três sedes do conglomerado, em Detroit, Londres e Turim. Também dispensava terno e gravata e usava basicamente um suéter preto para facilitar a rotina. Segundo o jornal Detroit News, cortou o café e o expresso há um ano.

Substituí-lo vai ser uma tarefa para quatro pessoas. Manley, que coordenava a Jeep, uma das mais promissoras marcas da empresa, vai ser o novo CEO da Fiat Chrysler. Louis Camilleri, presidente do conselho de administração da Philip Morris, será o novo presidente da Ferrari. Suzanne Haywood, então diretora da holding EXOR, da família Agnelli, assumirá a CNH. John Elkann, herdeiro da família, substituirá Marchionne em outros cargos, como presidente do conselho de administração da Ferrari.

“A saída de Marchionne mostra uma tendência. O presidente que decide sozinho está em extinção. Ele é um dos últimos ícones. No Brasil já é difícil encontrar presidentes com esse perfil”, diz Sofia Esteves, fundadora da consultoria Cia de Talentos.

As companhias, explica Sofia, têm montado estruturas que permitem a mais pessoas tomarem as decisões. O que agiliza a gestão, mas não necessariamente facilita a rotina. “Os executivos não podem mais esperar que alguém decida para apenas executar. Agora todos têm que ser proativos”, diz.

Jeffrey Pfeffer, professor da escola de negócios da Universidade Stanford, afirma em novo livro (Dying for a Paycheck, ou Morrendo por um Contracheque) que o estilo de gestão moderno e sempre conectado tem acabado com a saúde dos empregados e com os resultados financeiros das empresas. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo a revista Economist, 80% dos funcionários sofrem de stress e 55% olham seus e-mails após as 23h.

A rotina atarefada de Marchionne pode até não ter ajudado sua saúde. Mas, contradizendo Pfeffer, fez muito bem aos negócios. Desde a união da Fiat com a Chrysler, em 2014, as ações valorizaram 130%. Seu estilo workaholic não só salvou um império industrial como o posicionou para o futuro, com investimento em SUVs, em novos mercados e em carros elétricos.

Executar seu projeto vai ser o desafio de seu substituto. Ou melhor: de seus quatro substitutos.

Acompanhe tudo sobre:CEOsFiat

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões