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Sob pressão, Via Varejo terá de explicar prejuízo e supostas fraudes

Embora não confirmadas na primeira fase da investigação da empresa, denúncias de fraude nos balanços coroam inferno astral da varejista

Via Varejo: dona de redes como Casas Bahia e Ponto Frio, a varejista apresentou seu quinto trimestre negativo seguido (Alexandre Battibugli/Exame)

Via Varejo: dona de redes como Casas Bahia e Ponto Frio, a varejista apresentou seu quinto trimestre negativo seguido (Alexandre Battibugli/Exame)

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Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2019 às 06h37.

Última atualização em 14 de novembro de 2019 às 19h12.

São Paulo — A Via Varejo mostrou que o que está ruim sempre pode piorar. Após confirmação de que a empresa está investigando denúncias de potenciais fraudes em seus balanços, ontem, esta quinta-feira é dia de dar explicações, quando a diretoria realiza às 14h uma conferência com analistas para comentar os resultados do terceiro trimestre, divulgados na noite de ontem.

Dona de redes como Casas Bahia e Ponto Frio, a varejista apresentou seu quinto trimestre negativo seguido. O faturamento caiu 10,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, e o prejuízo triplicou, para 244 milhões de reais, enquanto a margem operacional encolheu de 6,6% para 4,3%.

Enquanto isso, a Via Varejo disse à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que a primeira fase das investigações de fraude reportadas ontem não encontrou irregularidades, de modo que o caso não interfere nos números apresentados.

Segundo divulgado pelo site Suno Notícias, as denúncias, recebidas internamente, teriam a ver sobretudo com gastos operacionais (batizados de Opex na linguagem financeira) sendo apresentados na forma de investimentos (batizados de Capex). A inversão entre Capex e Opex pode colocar despesas como ativos no balanço e melhorar de forma errônea o resultado.

O Capex representa, no geral, investimento em ativos de longo prazo, como a construção de uma nova loja ou a compra de computadores. Mas, se uma empresa gasta dinheiro para reformar a loja, assim como para pagar funcionários ou terceiros, esses gastos não podem ser considerados como patrimônio. Um especialista em contabilidade ouvido por EXAME aponta que um tipo de erro como esse, se verdadeiro, mostraria que a companhia não tem regras internas claras em seu departamento financeiro.

A polêmica dos balanços surge em meio a expectativas até então positivas sobre a volta de Michael Klein, que comprou o controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA) em junho e é hoje presidente do conselho de administração.

A família Klein era dona das Casas Bahia antes da fusão com o Ponto Frio que criou a Via Varejo em 2010. “Se conseguirem provar que houve irregularidades da gestão anterior, é um sinal de que estão corrigindo rotas”, diz Luiz Marcatti, presidente da consultoria Mesa Corporate, especializada em governança. “Mas os Klein terão de ser muito assertivos nas informações desse processo.”

Não é o primeiro escândalo recente: em 2016, ainda sob controle do GPA, a Via Varejo teve de lidar com roubo de estoque na CNova, seu então braço digital (as operações foram integradas em 2017). A Via Varejo também amargou dois anos à venda, sem que o GPA encontrasse interessados. Além disso, sua ineficiente transação digital é criticada, com somente 20% das vendas vindas do comércio eletrônico no terceiro trimestre — ante 48% do concorrente Magazine Luiza.

Após queda de 9% na ação na manhã de ontem, a empresa fechou o dia em baixa de somente 1% na bolsa. Mas o papel pode voltar a cair com os números ruins do trimestre divulgados à noite.

Em carta aos acionistas sobre o trimestre, a diretoria da Via Varejo, quase toda substituída após a volta de Klein, afirma que se deparou “com uma empresa fragilizada em eixos importantes”, mas que está agindo “rápido” para consertar os problemas. A ação subiu mais de 50% neste ano com a perspectiva de recuperação da empresa. A ver quanto tempo os investidores — e os clientes — estão dispostos a esperar.

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