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Vendas da Huawei desabam fora da China por pressão dos Estados Unidos

O anúncio representa a primeira admissão do impacto das medidas adotadas por Washington, que acusa a empresa de colaboração com o regime chinês

Huawei: queda de 40% nas vendas de telefones celulares fora da China por conta da pressão comercial dos Estados Unidos (Aly Song/Reuters)

Huawei: queda de 40% nas vendas de telefones celulares fora da China por conta da pressão comercial dos Estados Unidos (Aly Song/Reuters)

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AFP

Publicado em 17 de junho de 2019 às 10h02.

Última atualização em 17 de junho de 2019 às 11h36.

O fundador da Huawei anunciou nesta segunda-feira uma queda de 40% nas vendas de telefones celulares fora da China desde que o governo dos Estados Unidos incluiu a gigante chinesa das telecomunicações em sua lista negra, ao mesmo tempo em que informou sobre um corte significativo da produção.

O anúncio do presidente e fundador da empresa, Ren Zhengfei, representa a primeira admissão do impacto para a Huawei das medidas adotadas por Washington, que acusa a empresa de colaboração com o regime chinês.

Durante uma entrevista organizada na sede do grupo em Shenzhen, sul da China, Ren Zhengfei reconheceu a queda nas vendas fora da China. "Sim, caíram 40%", respondeu ao ser questionado por um jornalista. Sem revelar detalhes, uma porta-voz da Huawei explicou mais tarde que a empresa registrou queda de 40% nas vendas fora da China entre maio e junho, após a decisão dos Estados Unidos. Ren, no entanto, destacou que as vendas dentro da China crescem "muito rápido".

No ano passado a Huawei foi a número dois mundial em termos de produção de smartphones - atrás da sul-coreana Samsung e à frente da americana Apple - e líder na área de equipamentos para telecomunicações. Em 2018 a empresa vendeu 206 milhões de telefones, quase metade apenas na China.

Ren, de 74 anos, advertiu que o grupo deve cortar a produção em 30 bilhões de dólares nos próximos dois anos, mas não especificou em quais atividades. No ano passado, a Huawei teve um faturamento de 100 bilhões de dólares.

Apesar dos números anunciados nesta segunda-feira, Ren Zhengfei afirmou confiar no futuro e comparou a empresa a um avião danificado que ainda pode voar. "Em 2021 recuperaremos nossa vitalidade e proporcionaremos serviços à humanidade", declarou.

Perspectivas sombrias

A Huawei está no centro da guerra comercial entre China e Estados Unidos, com a adoção mútua de tarifas de importação punitivas.

Com as medidas, o governo do presidente Donald Trump vetou de fato a presença da Huawei no mercado americano, assim como as transações comerciais do grupo com as empresas do país.

No mês passado, Washington incluiu a Huawei em uma lista de empresas que não podem comprar componentes eletrônicos nos Estados Unidos sem a permissão do governo, mas a medida foi suspensa por 90 dias.

A administração americana teme que o governo chinês espione as pessoas através dos sistemas de telecomunicações da Huawei, um temor explicado em parte porque Ren foi engenheiro do exército chinês e pela estrutura da empresa privada, que alguns consideram opaca.

A Huawei nega qualquer relação com o governo chinês e afirma que Washington não apresentou nenhuma prova de suas acusações.

Ao mesmo tempo, o governo Trump pressiona outros países para que não usem as infraestruturas de telecomunicações da Huawei, em particular na instalação da nova rede de telefonia móvel 5G, uma área na qual a empresa é líder mundial.

As decisões dos Estados Unidos já afastaram da Huawei empresas como Facebook e Google, que suspenderam a colaboração.

De acordo com consultoria Eurasia Group, a Huawei "tem poucas esperanças de seguir na vanguarda mundial dos telefones celulares ou da tecnologia em infraestruturas enquanto permanecer na lista americana".

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