Éder Militão com a camisa do Porto, antigo clube: sua transferência para o Real Madrid por 50 milhões de euros foi a mais cara de um brasileiro no ano (Porto/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 13h41.
Última atualização em 30 de julho de 2020 às 14h31.
Os campeonatos estaduais de futebol no Brasil começam neste fim de semana, e, na Europa, a temporada já está a todo vapor. Mas enquanto isso, nos bastidores, as engrenagens bilionárias deste mercado continuam girando: levantamento divulgado nesta semana pela Fifa, federação mundial de futebol, mostra que as transferências internacionais de jogadores de clubes masculinos e femininos totalizaram 7,4 bilhões de dólares em 2019.
O futebol masculino representou 7,35 bilhões de dólares em transações, ante 652.000 dólares no futebol feminino. O montante movimentado no futebol feminino teve alta maior na comparação com 2018, de 16%, ante alta de 6% no valor das transferências masculinas.
Foram 18.042 transferências internacionais de jogadores homens (alta de 9%) e 831 transferências nos campeonatos de mulheres (alta de 19%).
No futebol masculino, o Brasil é o país que mais compra e que mais vende jogadores. Foram 948 jogadores vendidos, emprestados ou cedidos pelos clubes brasileiros a times estrangeiros em 2019 (alta de 14%). No fluxo contrário, o país comprou 831 jogadores de clubes estrangeiros (alta de 23%). O fluxo de volta mostra um grande volume de volta de jogadores ao país, sobretudo os que estão perto do fim de suas carreiras na Europa ou em ligas que pagam valores altos para compra de jogadores, como as do mundo árabe.
O segundo país que mais compra jogadores é a Inglaterra, seguida por Portugal, Espanha e Alemanha. Já a Alemanha é a segunda que mais vende, seguida por Espanha e Inglaterra.
O Brasil também é dono da rota mais movimentada do futebol internacional: o movimento de jogadores do Brasil rumo a Portugal foi o que mais aconteceu em 2019. Foram 228 jogadores dos campeonatos nacionais indo jogar em Portugal (alta de 11% em relação a 2018). O fluxo Brasil-Portugal lidera a lista de transferências pelo menos desde 2016, data do último relatório da FIFA disponibilizado no site da associação.
O movimento reverso, Portugal-Brasil, é o terceiro com mais movimentação. A segunda maior rota é Inglaterra-Escócia.
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Como em boa parte dos mercados globais, há uma "concentração de renda" nas movimentações financeiras do futebol. Os 7,35 bilhões de dólares pagos pelos clubes nas transferências masculinas foram gerados por somente 15% das transações. Ou seja, 85% das compras e vendas de jogadores no futebol internacional não envolveu valores em dinheiro -- podendo ser resultado de empréstimos ou troca de jogadores.
A UEFA, associação que representa o futebol europeu, também foi de longe a mais ativa em transferência de jogadores. Mais de 1.900 times europeus compraram ou venderam atletas em 2019, representando 68% de todas as transações do ano. Do outro lado, a OFC, federação da Oceania, teve a menor quantidade de transferências.
Na América do Sul, a Conmebol mais vendeu do que comprou jogadores (foram 2.834 vendidos e 2.486 comprados). Boa parte das transações foi interna, isto é, de um país para outro da região -- argentinos vindo jogar no Brasil, por exemplo. Essa movimentação dentro da América do Sul envolveu 1.225 jogadores (alta de 9% em relação a 2018).
A ida de jogadores para a Europa, mercado internacional que mais recebe os jogadores sul-americanos, envolveu 836 jogadores (alta de 9%). Outros 482 jogadores foram para a Concacaf, federação da América do Norte (alta de 3%). Dentre os destaques de movimentações de times da Conmebol, houve também um menor fluxo de jogadores indo para África e Oriente Médio, movimentação que teve uma queda de 18%.
O relatório da Fifa não inclui transferências dentro dos próprios países. No Brasil, entre venda de jogadores para fora e vendas para times do próprio país, as transferências no futebol masculino representaram 1,3 bilhão de reais nas receitas dos clubes em 2018, segundo relatório da consultoria SportsValue (os dados de 2019 ainda não foram compilados).
A título de comparação, no Reino Unido, que tem a liga mais cara da Europa, as transferências internas totalizaram 657 milhões de euros, cerca de um terço da receita total de transferências, segundo um outro estudo, da consultoria Deloitte. Esses valores não estão embutidos no estudo da Fifa, que só contabiliza as transferências internacionais, de modo que o montante total movimentado por compra e venda de jogadores no mundo é ainda maior do que 8 bilhões de dólares.
As transferências são o segundo maior gerador de receita para times brasileiros, atrás dos direitos de imagem vendidos para a transmissão dos campeonatos na televisão.
O futebol segue sendo uma das indústrias de maior receita no mundo. O mesmo estudo da Deloitte mostrou que só o futebol europeu masculino teve faturamento de 28,4 bilhões de euros na temporada 2017/18 -- se fosse uma empresa, o futebol europeu faturaria mais do que nomes globais como a companhia de streaming Netflix (21,5 bilhões em 2019) ou a brasileira Natura (10,9 bilhões de dólares em 2018, últimos dados disponíveis).
Falta esses valores astronômicos chegarem ao futebol feminino: enquanto o valor médio por transação internacional no masculino foi de 2,7 milhões de dólares, o valor médio pago pelo passe de uma jogadora foi de 21.000 dólares. No feminino, cerca de 4% das transações envolvem pagamento, ante 15% no masculino, segundo o relatório da Fifa.
Enquanto o Brasil é líder em transferências de jogadores no masculino, no ranking feminino o país é somente o 19º, em parte pela falta de campeonatos estruturados, baixa taxa de jogadoras do exterior vindo jogar no país e pouco plano de carreira para jogadoras brasileiras. Em venda de jogadoras, o Brasil é o terceiro país -- 51 jogadoras brasileiras foram jogar em times estrangeiros em 2019. Os líderes no total de transferências (compras e vendas) são Espanha, Suécia, Inglaterra e França.
Nas ligas nacionais, o Campeonato Brasileiro feminino de 2020 começa em 8 de fevereiro e terá recorde de clubes considerados profissionais. Dos 16 participantes na primeira divisão (a chamada série A1), dez já não são mais considerados amadores, conforme informou o site Dibradoras. O campeonato do ano passado foi vencido pelo Ferroviária, de Araraquara, que bateu o Corinthians na final.