Trabalho escravo: pescadores teriam sido torturados e até assassinados (Janduari Simões/Reprodução)
Luísa Melo
Publicado em 10 de junho de 2014 às 18h25.
São Paulo - Gigantes do varejo como Walmart, Carrefour e Costco estariam vendendo camarões alimentados por mão de obra escrava na Tailândia, segundo o The Guardian.
Uma investigação conduzida pelo próprio jornal teria constatado que a maior produtora do pescado no mundo, a tailandesa Charoen Pokpahand (CP) Foods (que vende para as redes) estaria comprando alimentos para suas criações de camarão produzidos por fornecedores que possuem, operam ou compram de outros barcos tripulados por escravos.
Segundo material publicado nesta terça-feira pelo diário, homens que teriam escapado de barcos de fornecedores da CP Foods e outras empresas teriam contado à reportagem que haviam passado por condições terríveis.
Eles teriam sido submetidos a jornadas de trabalho de 20 horas, torturas e até visto execuções de outros trabalhadores. Alguns deles disseram que receberam oferta de metanfetaminas para continuarem nas embarcações.
Segundo o jornal, outros 15 migrantes vindos da Birmânia e Camboja também contaram que foram escravizados. Eles teriam pagado agentes para ajudá-los a encontrar emprego na construção civil na Tailândia. Mas, em vez disso, eles teriam sido vendidos para capitães de barco, muitas vezes por menos de 250 libras.
Eles disseram ter sido tratados como animais e não receberem alimentação. Uma vítima chegou a dizer ao jornal que teria visto mais de 20 escravos serem mortos em sua frente - um deles teria tido cada um dos membros amarrados nas proas de quatro barcos e depois sido esticado até ter as partes do corpo descoladas.
Denúncias sobre trabalho escravo na Tailândia já haviam sido feitas por ONGs e em relatórios da ONU, segundo o jornal.
Para fazer a reportagem, o The Guardian ouviu dezenas de pescadores, capitães e gerentes de barcos, donos de fábricas e fontes oficiais da Tailândia e outros portos do entorno. De acordo com o diário, o governo estima que cerca de 300.000 pessoas trabalham na indústria da pesca por lá, sendo que 90% são migrantes (sujeitos a serem traficados e escravizados).
Ao jornal, o diretor da CP Foods, Bob Miller, teria dito que não defende o que está acontecendo e que sabe que "há problemas no que diz respeito à matéria prima", mas que a empresa não teria visibilidade sobre "até que ponto" vão essas questões.