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Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2011 às 15h56.
Rio de Janeiro - A mineradora Vale desenvolveu uma tecnologia inédita no Brasil que será usada para extrair potássio a 1,2 mil metros de profundidade em reservas no Nordeste.
A nova técnica, que dispensa mão-de-obra no subsolo, está em fase piloto no Sergipe, na região em que a mineradora já produz o insumo para fertilizantes via contrato de arrendamento com a Petrobras, que detém a licença de exploração.
A mineradora já concluiu que o novo método pode ser aplicado no projeto, mas ainda está testando capacidade de produção e outras aplicações.
A Petrobras possui os direitos minerários de uma área que inclui a mina Taquari-Vassouras, entre outras áreas com potencial de potássio que poderão ser novamente arrendadas ou mesmo vendidas para a Vale. As duas empresas negociam o ativo e em breve deverão anunciar um acordo.
"Nós temos estudos importantes, não apenas sobre a exploracão, mas principalmente sobre o desenvolvimento da carnalita", afirmou o presidente da Vale, Murilo Ferreira, em entrevista à Reuters na semana passada.
Entre os minerais de onde pode ser extraído o potássio, estão a carnalita e a silvinita, ambas presentes em Sergipe.
"A equipe técnica da Vale desenvolveu um conceito que é patente da própria empresa e está registrado no Brasil, nos Estados Unidos, em vários países. Como sabemos, o país é grande dependente de fertilizantes e por isso este projeto é muito importante pra nós", acrescentou o executivo.
O processo para extrair potássio dos depósitos de carnalita conta com dois dutos. O primeiro injeta água aquecida nos poços subterrâneos para dissolver a rocha carnalita, que é levada à superfície, pelo outro duto, sob a forma de salmoura --uma mistura da carnalita com outros sais.
Já na superfície é realizada a separação do sal de potássio dos demais também presentes nos depósitos.
De acordo com a Vale, o processo, chamado Solution Mining, será usado não apenas no Sergipe, mas também nos projetos Rio Colorado e Neuquén (ambos na Argentina) e Kronau, no Canadá. Os três projetos são para a produção de silvinita.
A lavra piloto está localizada na Fazenda Pedras, no município de Maruim, em Sergipe. O local é próximo à divisa com Rosário do Catete, região que caracteriza-se pela presença de reservas de carnalita. O projeto deve entrar em operação entre 2014 e 2016.
A Vale já explora a mina arrendada da Petrobras em Sergipe desde 1991 e produz cloreto de potássio a partir dos sais de silvinita, num volume de cerca de 700 mil toneladas anuais.
O projeto atual extrai potássio da silvinita a uma profundidade de 450 metros, acima dos depósitos de carnalita.
A existência de hidrocarbonetos --a Petrobras procurava petróleo e também acabou encontrando potássio ali --propicia a ocorrência de gases explosivos na região, o que exigiu uma complexa tecnologia de lavra subterrânea desde o começo da exploração, pela Petrobras, na década de 80.
Negociações
Após um eventual acordo com a Petrobras, a Vale poderá mais que triplicar a produção de potássio no Sergipe, chegando a um volume de 2,2 milhões de toneladas anuais a partir da exploração da carnalita.
A expansão da produção poderá custar cerca de 4 bilhões de dólares.
Ferreira revelou que a petroleira poderá ceder --e não apenas arrendar-- os direitos minerários da região para a Vale. A mineradora poderá pagar por essa "cessão" um valor que Ferreira não especificou.
"Fomos informados pelo presidente da Petrobras que eles não têm interesse no potássio nem no fosfato", afirmou.
Segundo ele, as empresas não estão negociando uma transação de troca de ativos, que envolveria uma fábrica de nitrogenados, mas sim uma operação simples de venda ou de arrendamento.
"Dissemos que estamos analisando em conjunto com a Petrobras a planta de Araucária (PR), negócio que está desassociado do projeto de carnalita", disse na entrevista. "Se for compra, cessão, vai receber dinheiro. Se for arrendamento, vai receber uma mensalidade", explicou Ferreira.