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Vale intensifica busca por CEO com saída de Ferreira

Segundo as fontes, nomes atualmente fora da empresa estão sendo avaliados, citando que experiência anterior na Vale seria uma pré-condição

Murilo Ferreira: ele não renovará o seu contrato atual que termina em 26 de maio deste ano (Nacho Doce/Reuters)

Murilo Ferreira: ele não renovará o seu contrato atual que termina em 26 de maio deste ano (Nacho Doce/Reuters)

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Reuters

Publicado em 24 de fevereiro de 2017 às 17h46.

São Paulo - A mineradora Vale intensificou sua busca por um presidente-executivo com a saída do atual CEO, Murilo Ferreira, sinalizando os esforços de alguns dos principais acionistas para proteger a maior produtora de minério de ferro do mundo da influência de políticos, disseram nesta sexta-feira três pessoas com conhecimento direto da situação.

Ferreira não renovará o seu contrato atual que termina em 26 de maio deste ano, informou a empresa nesta sexta-feira.

A Vale não informou no comunicado ao mercado quem poderá ser o substituto do executivo.

Alguns integrantes do bloco de controle da Vale se inclinam a escolher um dos principais executivos atuais da Vale e assim facilitar a transição para uma empresa com controle pulverizado, conforme acordo anunciado no início da semana.

Segundo as fontes, nomes atualmente fora da empresa estão sendo avaliados, citando que experiência anterior na Vale seria uma pré-condição.

Entre os candidatos potenciais estão o atual diretor-financeiro da Vale, Luciano Siani; o diretor de ferrosos, Peter Poppinga; e Clovis Torres, braço direito de Ferreira e atualmente vice-presidente de recursos humanos.

Nelson Silva, um ex-executivo da Vale que agora é diretor de estratégia da Petrobras, está na lista, disseram as fontes. Outros candidatos incluem os ex-executivos da Vale José Carlos Martins e Tito Martins, acrescentou uma das fontes.

A escolha do principal comandante da Vale é crucial para garantir o plano dos principais acionistas da Vale de pulverizar o controle da empresa e listá-la no Novo Mercado da Bovespa.

Durante uma teleconferência com jornalistas para discutir o anúncio, Ferreira não deu dicas sobre quem poderia sucedê-lo.

"Que eu saiba, eu não tenho sucessor, eu nunca fui informado de ter esse sucessor e para falar a verdade eu nem desconfio quem será esse sucessor", disse Ferreira.

Alguns dos principais acionistas propuseram que Ferreira ficasse no cargo por mais um ano, segundo a Reuters publicou em janeiro.

A iniciativa foi descartada por Ferreira, que teria pedido para deixar a ideia de lado, já que sua idade estava próxima do limite para ficar na presidência, segundo uma das fontes.

"Nós temos como visão que devemos ter um limite de idade de 65 anos (para ocupar a presidência), isso para nós é um ponto muito importante", disse Ferreira, explicando que, se renovasse o contrato, teria apenas mais um ano no cargo.

Interferência

Uma estrutura de acionistas mais dispersa é fundamental para aumentar a transparência e afastar a interferência de políticos, que há anos pressionam a Vale a investir em projetos não essenciais.

Os atuais acionistas controladores da Vale, agrupados sob a holding Valepar, são fundos de pensão liderados pela Previ, Bradespar, Mitsui e BNDESpar. Nem a Vale nem nenhum dos acionistas fizeram comentários sobre o tema.

A Vale foi privatizada em 1997, embora o governo continue a exercer influência sobre ela através do braço de investimentos do BNDES e dos fundos de pensão.

Ainda assim, um funcionário do governo que preferiu não se identificar, familiarizado com os planos do presidente Michel Temer, disse que a Vale vai procurar um "gestor não-político de primeira linha", em um processo semelhante ao recrutamento de Pedro Parente como CEO da Petrobras.

O gabinete de imprensa do Palácio do Planalto não comentou o tema.

Valepar

A Bradespar concordaria com um nome de fora da atual administração da Vale somente se os possíveis candidatos passarem por um processo de seleção, conduzido por uma empresa de recrutamento de executivos, disse uma das fontes.

Isso aconteceu depois que relatos na imprensa, no início deste mês, sugeriram que membros do partido PMDB, de Temer, e o senador Aecio Neves, do partido PSDB, estavam tentando influenciar a seleção do novo presidente-executivo.

No comunicado, a Vale agradeceu Ferreira por suas realizações, listando seus esforços para se concentrar em atividades essenciais, empreendendo o maior projeto de investimento da empresa e reduzindo a dívida.

"Com sua experiência, dedicação e respeito às pessoas e à vida, Murilo deixa um legado para todas as futuras gerações de executivos e funcionários da Vale", declarou.

Ferreira assumiu as rédeas da Vale em 2011, no meio de um choque político de grandes proporções entre a empresa e o governo de Dilma Rousseff.

A ex-presidente fez pressão para a saída de Roger Agnelli, antecessor de Ferreira, depois de acusar a Vale de não fazer o suficiente em termos de investimentos locais ou criação de empregos, para ajudar a economia brasileira a lutar contra a crise financeira global.

Ferreira tentou afastar a empresa da interferência do governo, e buscou concluir o maior projeto da história da Vale, a mina S11D, no Pará, assim que os preços do minério de ferro caíram.

Essa combinação levou a Vale a reportar um prejuízo recorde de 12,13 bilhões de dólares em 2015.

No entanto, no ano passado, as receitas da Vale melhoraram acentuadamente, a nova mina entrou em operação em dezembro e os preços do minério de ferro subiram.

Se Ferreira tivesse ficado, os investidores saberiam que os próximos dois anos iriam significar a continuidade de sua estratégia, disse Rodolfo de Angele, analista sênior da JPMorgan Securities.

"Um dos confortos dos investidores é que os atuais acionistas parecem estar muito alinhados com a ideia de uma empresa com taxas de crescimento mais baixas, mas com mais disciplina e dividendos consideráveis", disse Angele.

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