Transporte: carta das empresas é mais um apelo em busca de uma solução para a crescente crise humanitária nos mares provocada pela pandemia de covid-19 (Rebeca Mello / Colaborador/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 25 de setembro de 2020 às 15h14.
Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 15h26.
Unilever e Procter & Gamble estão entre as empresas de consumo que pedem aos líderes mundiais uma solução para a situação de mais de 300.000 marítimos presos em navios comerciais, onde o trabalho forçado e a deterioração das condições de trabalho ameaçam o funcionamento da cadeia de suprimentos global.
CEOs de marcas de consumo, como a varejista Carrefour, a fabricante de alimentos Mondeléz International e a empresa de bebidas Heineken, assinaram uma carta aberta pedindo medidas que permitam mais trocas de tripulação nos portos, garantam a segurança de marítimos sobrecarregados e assegurem que as cadeias de abastecimento não utilizem trabalho forçado.
Enviada na quarta-feira ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a carta das empresas é mais um apelo em busca de uma solução para a crescente crise humanitária nos mares provocada pela pandemia de covid-19. Governos cautelosos restringem o acesso às fronteiras e viagens aéreas continuam limitadas.
Uma investigação anterior da Bloomberg revelou inúmeras violações da legislação internacional que protege marítimos, como questões salariais e trabalhistas destacadas por entrevistas com mais de 40 membros de tripulações no mundo todo.
“Chegaremos a um ponto crítico se não resolvermos o problema das mudanças de tripulação”, disse Marc Engel, diretor da cadeia de suprimentos da Unilever que liderou a carta. “Há um risco enorme de que a cadeia de abastecimento global comece a falhar. É uma situação inadvertida de trabalho forçado porque esses marítimos estão presos nesses navios. É uma questão de direitos humanos”, afirmou em entrevista.
Guterres abordou a crise na quinta-feira, pedindo aos governos que designem marítimos como trabalhadores essenciais para facilitar seus deslocamentos em fronteiras e portos. Mais de oito meses após o início da pandemia, o atraso das trocas de tripulação ameaça piorar. Mais de 120 países ou territórios suspenderam ou limitaram o acesso de navios para realizar trocas de trabalhadores marítimos na tentativa de evitar a propagação do novo coronavírus, que matou quase 1 milhão de pessoas no mundo todo.
“Isso levou a uma grande disrupção das cadeias de abastecimento globais, que são vitais para fabricantes e varejistas e para sua capacidade de produzir e oferecer bens de consumo essenciais, incluindo alimentos e produtos de higiene”, disseram os CEOs na carta, que é a iniciativa publica mais coordenada até agora por titãs empresariais para chamar a atenção para a crise das condições de trabalho no transporte marítimo.
Em entrevistas da Bloomberg com mais de 40 marítimos em um mesmo número de navios, metade disse que não tinha contratos em vigor, e alguns afirmaram que não recebiam há mais de dois meses. Engel disse que violações relacionadas a horas extras e ao não pagamento de salários são particularmente preocupantes, uma vez que são proteções básicas que não são afetadas por restrições da pandemia.
A equipe de compras da Unilever recentemente começou a questionar suas cadeias de suprimentos sobre as condições dos marítimos e está em discussões para garantir que não ocorram infrações, afirmou o executivo.
(Com a colaboração de Jack Wittels)