A Unilever pretende elevar a temperatura de todos os seus freezers de sorvete para -12°C, em vez do padrão tradicional de -18°C, para reduzir o consumo de energia e a pegada de carbono (Bloomberg Businessweek/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)
Leo Branco
Publicado em 21 de dezembro de 2022 às 06h03.
No fundo de uma enorme sala cheia de canos, tubos e mangueiras, cubas prateadas brilhantes e uma esteira rolante repleta de barras de sorvete, Andy Sztehlo aponta para um freezer com tampo de vidro e pede aos visitantes que peguem um Cornetto, um Magnum ou um Twister.
“A maior insatisfação com um sorvete é não encontrar aquele que você está querendo”, diz Sztehlo, chefe de pesquisa e desenvolvimento de sorvetes da Unilever, maior fabricante mundial de guloseimas congeladas.
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O freezer em questão foi projetado para garantir que os consumidores calorentos e ansiosos por açúcar possam colocar as mãos exatamente na gelada guloseima que desejam.
A ideia foi desenvolvida no principal centro de pesquisa da Unilever, um campus arborizado na cidade inglesa de Colworth, uma hora ao norte de Londres de trem, onde a empresa apresentou inovações como:
O freezer faz parte de uma iniciativa dupla da Unilever: tornar seus produtos mais desejáveis para mais pessoas e reduzir as emissões de carbono necessárias para tanto.
Os varejistas de hoje normalmente fazem pedidos de seus sorvetes por telefone ou um vendedor os visita para agendar as entregas. Mas o freezer que Sztehlo está exibindo é equipado com uma câmera que monitora o que está dentro.
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Ele está conectado à internet e usa inteligência artificial para identificar itens que estão prestes a acabar e pedir mais. O software então, ajuda a traçar a rota mais eficiente para que as vans de entrega viajem de loja em loja. “Isso nos permitirá ter certeza de que temos a quantidade certa de produto e o tipo certo para aquele bairro específico”, diz Sztehlo.
A Unilever compete ferozmente em seus sistemas de freezer com concorrentes como:
A preocupação das fabricantes de sorvetes com o desenvolvimento de freezers para exibição de sorvetes pode aumentar a fidelidade entre os varejistas e ajudar a exibir os produtos com mais destaque.
E, em um mundo em que custos de insumos são amplamente uniformes, eles oferecem uma oportunidade de superar a concorrência.
“Ingredientes como creme e açúcar têm praticamente o mesmo preço para cada empresa, assim como o custo do combustível”, diz Chirag Pandya, sócio da McKinsey. “Mas um sistema de freezer mais eficiente é onde se pode começar a economizar custos e acabar com desperdícios.”
A Unilever diz que nos 7.000 freezers no Reino Unido, Estados Unidos e Dinamarca que possuem a nova tecnologia, a empresa viu as vendas subirem até 25%.
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Outra vantagem é que a tecnologia pode ajudar a Unilever a cumprir acordos exigindo que varejistas usem os freezers exclusivamente para seus produtos. Isso significa que não há sorvetes Häagen-Dazs ou Mars não autorizados — ou mesmo ervilhas congeladas, desde que a Unilever vendeu esse negócio em 2006.
Em locais onde a empresa concordou em deixar varejistas estocarem produtos concorrentes no freezer, eles também conseguem rastrear essas vendas. “Podemos ver que há um produto da Mars lá”, diz Sztehlo, e “ver o que está vendendo e o que não está”.
A Unilever também pretende elevar a temperatura de todos os seus freezers de sorvete para -12°C (10,4°F), em vez do padrão tradicional de -18°C.
A empresa possui mais de 3 milhões de freezers em mais de 45 países. Estes são normalmente alocados em supermercados e lojas, que pagam pela energia para operá-los.
A Unilever diz que o esforço para mantê-los frios é responsável por 10% de suas emissões de gases de efeito estufa, portanto, aumentar suas temperaturas pode ajudar muito a reduzir sua pegada de carbono.
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Um piloto dos freezers mais quentes, na Alemanha, descobriu que eles gastavam 24% menos energia. Um segundo teste está planejado na Indonésia e se for igualmente bem-sucedido, a empresa começará a elevar a temperatura de seus freezers em todo o mundo.
O programa da Unilever para aumentar as temperaturas do freezer provavelmente levará de 10 a 15 anos para ser implementado porque a empresa enfrentará resistência de países com regulamentações que exigem temperaturas mais baixas dos freezers. Na lista estão:
E as receitas dos sorvetes precisarão ser adaptadas para manter os produtos estáveis em temperaturas mais altas, mesmo que a diferença seja de apenas alguns graus.
Os cientistas da Unilever têm trabalhado em novas fórmulas, e a empresa contratou oito universidades para desenvolver receitas que funcionem em temperaturas de até -5°C para aumentar a dificuldade da tarefa e liberar uma ampla gama de ideias.
“É necessária uma combinação de manobras para se fazer isso”, diz Manfred Aben, líder de outro laboratório da Unilever, na cidade universitária holandesa de Wageningen.
Embora se recuse a fornecer detalhes, ele diz que uma solução é usar menos açúcar porque retirá-lo ajuda o sorvete a permanecer congelado nessas temperaturas mais altas. “Quanto mais frio, para que se possa escavá-lo, é preciso colocar mais açúcar”, diz Aben. “É como se fosse anticongelante”.
Tradução de Anna Maria Dalle Luche