O Brexit não faz da Inglaterra um país ruim para investir. Essa decisão é para os próximos 30 a 50 anos e não depende da política de hoje, disse o diretor-executivo da Unilever (Brendan McDermid/Reuters)
AFP
Publicado em 15 de março de 2018 às 15h10.
A multinacional anglo-holandesa de bens de consumo e alimentos Unilever anunciou nesta quinta-feira (15) a transferência de sua sede de Londres para Roterdã, uma decisão altamente simbólica antes do Brexit e um revés para o governo britânico.
A empresa, que fabrica de alimentos a cosméticos e tem marcas conhecidas como Dove e Omo, tem quase um século de presença jurídica no Reino Unido e na Holanda.
Mas, nesta quinta-feira, o grupo anunciou sua intenção de centralizar sua sede em Roterdã, onde pagará seus impostos. A decisão não tem grandes consequências em termos empregos, mas simbólicas.
A Unilever não menciona explicitamente a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (UE), originalmente prevista para março de 2019, e garante que o objetivo é fortalecer e simplificar sua estrutura.
"O Brexit não faz da Inglaterra um país ruim para investir. Essa decisão é para os próximos 30 a 50 anos e não depende da política de hoje", disse o diretor-executivo da Unilever, Paul Polman, na emissora pública NOS.
No entanto, o anúncio é um revés para o governo conservador de Theresa May, que tenta convencer as empresas a permanecerem no país, apesar das incertezas do Brexit.
Segundo Lee Wild, analista da Interactive Investor, "tornar Roterdã a sede do grupo vem em uma hora ruim para Theresa May, que está em um momento-chave das negociações do Brexit".
O governo de Londres está tentando chegar a um acordo com a UE para um período de transição após o Brexit, enquanto deu início às negociações sobre a futura relação comercial entre os dois.
A partida da Unilever representa "um enorme golpe para o governo britânico e demonstra que o mundo dos negócios realmente pensa sobre a decisão do Reino Unido de deixar a UE", disse a organização britânica pró-europeia, Best for Britain.
Para alguns observadores, a decisão é uma consequência direta do Brexit.
"Acho que escolheram uma entidade [jurídica] holandesa porque é preferível continuar dentro da UE", opinou Jos Versteeg, analista de Amsterdã, do banco privado InsingerGilissen.
O governo de Londres garante que não existe essa relação.
"Como o grupo explicou, sua decisão de migrar um número limitado de postos de trabalho para sua sede da Holanda faz parte de uma reestruturação a longo prazo e não está relacionado com a saída do Reino Unido da UE", disse um porta-voz do governo.
O Executivo enfrenta "uma das últimas iniciativas empresariais que lanças dúvidas sobre o impacto do Brexit na economia", aponta Carmen Stoian, especialista em comércio internacional na Universidade de Kent.
Com a reestruturação, a Unilever terá a partir de agora três divisões: a de produtos domésticos e de beleza, ambas sediadas em Londres, e a de alimentos, com sede em Roterdã.
Os 7.300 funcionários no Reino Unido, bem como os 3.100 da Holanda, não serão afetados pela mudança.
A multinacional emprega 169 mil pessoas no mundo, e comercializa marcas como os caldos Knorr, o azeite de oliva Gallo e o desodorante Rexona.