Federigo Vega: "O nosso objetivo é encontrar ferramentas antifraude que serão desenvolvidas rapidamente e que possam resolver o nosso problema" (Frete.com/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 11 de março de 2024 às 12h27.
Última atualização em 11 de março de 2024 às 16h39.
Esqueça a imagem do ladrão que saca uma arma para fazer um roubo de carga. Essa é ainda uma fotografia do presente, mas que será cada vez mais do passado. “Hoje, você entrega a carga para o bandido na mão e, além disso, você paga para ele”, afirma Federico Vega, fundador e CEO da Frete.com. Para fazer frente ao desafio, a startup está colocando R$ 70 milhões para investir em startups na América Latina que usam IA para combater fraudes no sistema de transportes de carga.
O unicórnio - nome dado às startups que superam a cifra de 1 bilhão de dólares em valuation - tem um valor de mercado estimado em U$$ 5 bilhões e funciona como um marketplace para que os caminhoneiros encontrem novas cargas para movimentar pelo país. Foi formado a partir da junção das empresas CargoX, Fretepago e Fretebras.
Criado em 2013, o Frete.com já recebeu mais de 2 bilhões em investimentos e tem por trás financiadores como Softbank, Goldman Sachs e a Tencent, conglomerado de tecnologia chinês, e ainda Jeb Bush, Governador da Flórida, Reid Hoffman, fundador do Linkedin, e Oscar Salazar, co-fundador do Uber. Segundo números internos, 80% dos caminhões que cortam o país fazendo entregas estão cadastrados na plataforma.
Passado o desafio de digitalizar o setor, a dor é outra: evitar o roubo de cargas, um problema que, segundo dados de estudo da NTC & Logística, traz prejuízos de 1,2 bilhão por ano ao país. Dos tradicionais roubos a mão armada, os bandidos também migraram para o digital, com o uso de documentos falsos e a aplicação das novas tecnologias para aplicar os golpes.
“Nós começamos pedindo que os motoristas enviassem a foto com a CNH em frente ao caminhão e fazíamos uma triangulação, usando GPS para saber se a origem da foto batia com a localização do motorista. Com a inteligência artificial, essas fotos começaram a ser fraudadas muito rapidamente”, afirma o argentino Vega.
No processo, entraram ligações por WhatsApp, recurso que ficou obsoleto em pouco tempo, e mais recentemente um sistema de prova de vida que consegue lê os batimentos cardíacos dos motoristas a partir da análise das imagens.
“O bandido que rouba cargas não é mais um cara com fuzil, é com informação. Muitos são hackers sentados no sofá de casa”, diz Vega. Uma vez que roubam os dados de identificação dos motoristas, os criminosos usam os próprios profissionais como “mulas” para o transporte da carga, só que mudando os endereços finais para as entregas.
Segundo a base de dados da empresa, 95% dos casos atuais são fraudadores cometendo falsidade ideológica e assumindo a identidade dos motoristas.
Nos últimos anos, a startup investiu R$ 250 milhões em novas tecnologias para coibir as fraudes. De acordo com a Frete.com, isso permitiu que a empresa impedisse roubos de carga cujo valor supera 1,4 bilhão em 2023.
Apesar dos resultados, o fundador tem clareza de que os movimentos não são suficientes, principalmente diante do cenário de transformação tecnológica. A Frete.com também recorreu a outras investidas dos fundos que suportam a sua operação.
“Quando eu penso em fazer sozinho, eu sei que nem 250 milhões nem 1 bilhão serão suficientes porque a mudança será muito rápida. Se tem mais cabeças pensando, eu gostaria de escutá-las”, diz.
Agora, a startup vai além: está disponibilizando um valor de R$ 70 milhões para investir em startups que usam Inteligência Artificial Generativa para combater fraudes e roubo de cargas.
Os cheques vão variar entre R$ 1 e R$ 10 milhões. O valor ainda considera follow-ons à medida que as startups evoluem. Os interessados podem apresentar os seus modelos de negócio e atuação pelo email news@frete.com.
“O nosso objetivo é encontrar ferramentas antifraude que serão desenvolvidas rapidamente e que possam resolver o nosso problema. Se encontramos essas ferramentas, podemos investir e também dar a nossa base de dados para que esses empreendedores consigam crescer com velocidade”, diz Vega.